Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | Doomsday Clock #2: Lugares Que Nunca Conhecemos

Crítica | Doomsday Clock #2: Lugares Que Nunca Conhecemos

por Luiz Santiago
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Estamos divididos entre a nostalgia do familiar e um impulso pelo desconhecido. E com maior frequência, sentimos mais falta dos lugares que nunca conhecemos.

Carson McCullers.

SPOILERS! Leia a crítica de Watchmen aqui. Leia as críticas de Antes de Watchmen aqui. E leia as críticas de todas as edições de Doomsday Clock aqui.

A leitura da segunda edição da série Doomsday Clock mostra que Geoff Johns tem, ao menos para este início de série, uma ideia muito interessante de como juntar mundos e de como fazer com que realidades se cruzem de uma maneira rápida e sem trapalhadas de paradoxos, desmembramento de linhas do tempo e surgimento de mega-hiper vilões do ano “mais de oito mil” para mexer as cordas e mudar os rumos do mundo. Nada disso. Cumprindo até aqui a promessa de fazer uma trama coerente — até onde isso é possível — com o Universo Watchmen, o autor cria neste Lugares Que Nunca Conhecemos, um ponto de partida para o encontro de pessoas e ideias. E faz isso muito bem.

No esconderijo do Coruja II, Ozymandias mostra para Rorschach II uma fita onde se vê um roubo de Marionette e Mime, ação a partir da qual o homem mais inteligente do mundo consegue seguir os rastros deixados pelos átomos do Dr. Manhattan e então buscá-lo em seu “destino final”, a Terra onde está agora o Universo Renascimento. A ação perde apenas alguns pontos pela breve confusão de perspectiva que apresenta no início e que não é bem fechada pelo enredo quando enfim descobrimos qual é o foco, temporalidade e intenção de toda a sequência, mas quando ela se integra ao plano geral e quando todo o restante da história se apresenta, o leitor fica espantado com a organicidade com que Johns consegue colocar pedaços do passado desses heróis sombrios (vide a citação dos Minutemen) junto de um presente abarrotado de possibilidades excitantes.

Vejam que, no momento em que Ozymandias assume a posição de que precisa arrumar a bagunça que ele mesmo criou no mundo — por uma questão de saúde pessoal, diante de seu câncer no cérebro e por uma questão financeira e de prestígio pessoal, já que ele caiu em desgraça após o diário de Kovacs ter sido parcialmente publicado –, entende-se que só conseguirá isso com a ajuda de do Dr. Manhattan. Paralelamente há também uma grande crise em andamento na Terra atual do Universo DC, onde se segue a polêmica Superman Theory, afirmando que existem tantos super-heróis e super-vilões nos Estados Unidos porque foi o governo que os criou, sendo pois a verdadeira “origem secreta” desses personagens, começando por Metamorfo (Rex Mason) e Morcego Humano (Robert Kirkland Langstrom). Dois mundos em crise e dois personagens centrais — com eventuais ajudantes — procurando o mesmo Ser. Um grupo sabe quem está procurando; caso de Veidt e Rorschach). O outro, não necessariamente; caso de Batman e Flash, que avançam a passos largos na investigação desde The Button.

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Aquele momento de uma leitura de quadrinho que você começa a se tremer todo…

A proximidade aqui serve de guia “Universal” de problemas que unem duas distintas Terras e a interação entre elas é rápida e sem complicações de roteiro. A Nave Coruja, agora reconstruída, tem um botão capaz de seguir os traços do Dr. Manhattan, explicação que se encaixa dentro daquilo que o novo momento do mundo de Watchmen nos apresentou até agora. Sem incoerências dramáticas e sem um epílogo deslocado como acontecera em Aquele Lugar Aniquilado, “sobra” para nós uma aventura onde a inteligência é posta à prova (muito bom Lex Luthor ter entrado na trama justamente aqui), onde as habilidades de icônicos personagens são novamente testadas e onde um novo conflito ou até mesmo um capítulo de uma longa história começa a ser escrito.

Na arte, Gary Frank bem que podia criar quadros com composições mais complexas. Aqui me pareceu um pouco preguiçoso o seu trabalho, apesar de ter alguns momentos visualmente muito bons, notadamente os de quadros maiores. As referências visuais a Ano Um e Piada Mortal são interessantes, mas não vão muito além de serem apenas referências. Destacam-se a boa boa relação que o artista faz entre objetos, alguns lugares e alguns personagens, mas em parte, o roteiro é um tanto minado pela proposta sequencial do desenhista. Não é um problema estruturalmente grave, mas para uma série desse porte, tem peso.

Algumas notas finais sobre a edição vêm a calhar para uma conversa sobre os caminhos que a série pode tomar. Ou sobre novas adições ao cânone da obra (e nem vou entrar no papo bobo de que “Doomsday Clock não é canônico“. Já passamos dessa fase, não? No mais, o choro é livre para todos os públicos). Eu preferi não levantar esses elementos como parte da crítica porque eles são muito mais ligados a hipóteses, dúvidas e observações ainda não totalmente estabelecidas do que a elementos concretos que possam ser de fato analisados.

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De novo, Ozymandias?

  • Ozy diz que sua lince mutante não é apenas um bicho de estimação. É um “compasso”. O que isso quer dizer, exatamente? Será que a Nave Coruja e o rastreamento dos átomos de Jon só podem ser feitos via a lince (provavelmente Bubastis II, mas ela ainda não foi nomeada oficialmente, então…)
  • Ozy diz que conhece Jon “intimamente bem, física e emocionalmente“. Se alguém lhe dissesse que conhece alguém desse jeito, o que você pensaria?
  • A referência a um filme (fictício, aqui) de Jacques Tourneur é curiosa. Eu preferia que Johns tivesse realmente escolhido um filme que o cineasta dirigiu. Daria maior identificação ao que ele propôs, em um cenário tendenciosamente noir. O efeito é conseguido, claro, mas seria mais forte se a referência de fato existisse.
  • Look, up in the sky!” é uma simpática referência à série As Aventuras do Super-Homem (1952–1958).
  • Rorschach comeu o café da manhã do Batman! Isso não se faz…
  • Comediante!!! Será ele um dos Coringas dessa Terra?

Doomsday Clock #2: Places We Have Never Known — EUA, 27 de dezembro de 2017
Roteiro: Geoff Johns
Arte: Gary Frank
Cores: Brad Anderson
Letras: Rob Leigh
Capa: Gary Frank, Brad Anderson
Editoria: Brian Cunningham, Amedeo Turturro
30 páginas

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