Nos últimos anos, os dramas médicos têm conquistado uma significativa fatia do mercado audiovisual, especialmente nas plataformas de streaming. Essa popularidade se deve a uma combinação de elementos que atraem o público, como a combinação de situações extremas, dilemas pessoais e a luta pela vida em um ambiente que, muitas vezes, beira o surreal. Dr. Odyssey, a nova produção de Ryan Murphy, Jon Robin Baitz e Joe Baken, vem para somar a este cenário vibrante e agitado, de tantas repetições e situações que só mudam de cenário e atmosfera, mas parece nos contar sempre as mesmas histórias, mudando apenas os personagens. Ainda assim, acaba nos oferecendo uma experiência que, embora possa não ser uma revolução no gênero, apresenta um enredo envolvente e personagens cativantes.
A série se desenrola a bordo de um luxuoso navio de cruzeiro, onde acompanhamos Max, interpretado por Joshua Jackson, o novo médico da equipe. Essa escolha de ambientação é um respiro criativo no gênero, afastando os clichês típicos dos hospitais convencionais e criando um espaço único repleto de desafios médicos inusitados. A equipe médica, embora pequena, é composta por profissionais altamente competentes, interpretados por Phillipa Soo e Sean Teale, que, juntos, enfrentam situações que demandam não apenas habilidade técnica, mas também uma impressionante capacidade de improvisação e trabalho em equipe. Por detrás de cada episódio de aproximadamente 40 minutos, a série não apenas apresenta procedimentos médicos exóticos e absurdos, como uma fratura de pênis, mas mergulha nas complexidades das relações interpessoais, o que enriquece ainda mais a narrativa.
Don Johnson brilha como o capitão do navio, um personagem que, por ser carismático e compreensivo, procura gerenciar não apenas a embarcação, mas também as dinâmicas da equipe médica. Sua presença acrescenta uma camada adicional de drama, visto que, apesar de suas tentativas de manter a ordem, ele também lida com os seus próprios desafios pessoais. A interação entre os personagens é um dos pontos altos da série, enquanto eles tentam equilibrar a pressão absurda do trabalho com aspectos de suas vidas sociais no navio. Estas interações criam um espaço fértil para o desenvolvimento de tramas românticas e conflitos dramáticos, desde a paixão até as redes de relacionamentos complicados, proporcionando ao público momentos de tensão e alívio. Lembra bastante o drama médico Royal Pains, outra série deste segmento, focada em um médico que atende ricos e mimados na região dos Hamptons.
Do ponto de vista estético, Dr. Odyssey impressiona com sua estética visual. A direção de fotografia de John T. Connor é digna de nota, com enquadramentos elegantes que valorizam a opulência do navio e os desafios da vida no mar. O design de produção, a cargo de Jamie Walker McCall, complementa essa visão com cenários vibrantes e luxuosos, fazendo com que cada cena transborde riqueza visual. A trilha sonora de Julia Newman também desempenha um papel significativo, criando uma atmosfera que se alinha com as emoções retratadas nas histórias. Contudo, é importante notar que, apesar dessas facetas visuais e sonoras, o aspecto dramático da série pode ser considerado genérico e previsível, não trazendo à tona inovações que o tornem um marco no gênero. No entanto, o entretenimento que Dr. Odyssey proporciona é inegável, oferecendo ao público uma fuga das complexidades da vida cotidiana.
Em linhas gerais, prazer culposo. Sabemos que é dramaticamente comprometida em sua qualidade, mas diverte e até propõe reflexões. Uma adição ao já vasto mundo dos dramas médicos, apresentando uma proposta refrescante com sua ambientação marítima e personagens vivenciando seus conflitos humanos que nos permitem alguma identificação. Enquanto a trama pode se apoiar em elementos familiares do gênero, a maneira como estes são apresentados, através de um elenco carismático e uma estética deslumbrante, garante o apelo da série. Embora a profundidade dramática possa não ser o seu ponto forte, a combinação de entretenimento leve e abordagens inovadoras em sua narrativa faz dela uma obra digna de ser acompanhada. Ao navegar pelas águas, tanto emocionais quanto médicas, Dr. Odyssey estabelece um equilíbrio eficaz entre tensão e diversão, promovendo uma experiência que, mesmo que não revolucione o gênero, certamente cativa seu público. Uma narrativa bonitinha, mas ordinária.
Dr. Odyssey: 1ª Temporada (idem, Estados Unidos/2024-2025)
Criação: Jon Robin Baitz, Ryan Murphy, Joe Baken
Direção: Paris Barclay, Maggie Kiley, Crystle Roberson Dorsey
Roteiro: Mike Schaub, Russel Friend, Jamie Pachino, Liz Friedman, Byron Crawford
Elenco: Joshua Jackson, Don Johnson, Phillipa Soo, Sean Teale, Don Johnson, Blanca Araceli, Marcus Emanuel Mitchell, Rick Cosnett
Duração: 45 min (cada episódio – 18 episódios no total)
