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Crítica | Drácula III – O Legado Final

por Leonardo Campos
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Dentro de sua extensa história em nosso imaginário, um detalhe curioso é que o vampiro é uma metáfora para a exploração, figura que precisam extrair algo de alguém para manter a sua sobrevivência. Ao explorar o outro, ele consegue se fincar nas considerações sobre o que é aristocrático, camada que segundo Hobsbawn em A Era das Revoluções, perdeu bastante espaço dentre as camadas sociais mais importantes no desenvolvimento das sociedades modernas. Assim, o seu posto hierárquico e toda a proeminência social privilegiada desvaneceram tal como a sua figura quando em contato com a luz, outra metáfora enriquecida para a representação dos vampiros no bojo do imaginário cultural. Ligado ao que é tradicional, isto é, ao “antigo”, os vampiros representam também a aversão ao que é moderno, haja vista a sua associação com castelos e elementos góticos, mesmo nas produções que os reinterpretam nas sociedades avançadas no que tange aos aparatos tecnológicos.

Nos desdobramentos de Drácula, romance de Bram Stoker que serve de ponto de partida para os filmes que carregam o seu nome, a figura do vampiro não possui poderes fora destes domínios. Já no desenvolvimento de Drácula III – O Legado Final, o “monstro” se situa no contemporâneo, tempo histórico que se refere ao avanço de tudo que lhe é negado em sua história tradicional. Talvez por conta dessa negação aos seus valores, as criaturas da noite desenvolvidas nesta produção escrita e dirigida por Patrick Lussier, continuação da franquia iniciada com Drácula 2000 e sequenciada com Drácula II – A Ascensão, tenham se rebelado e transformado a história num fiasco em todos os aspectos possíveis. Tentativas de humor não funcionam para sublimar os defeitos narrativos, os diálogos são frágeis, os desempenhos dramáticos dirigidos de maneira irregular, ora exaustivos demais, ora sem o charme que pede determinada passagem, enfim, um legado conduzido com bastante irregularidade, ousado em seu desfecho, cheio de ganchos para ganhar continuidade.

Lançado em 2005, Drácula III – O Legado Final é dramaticamente falho e esteticamente cheio de firulas. A direção de fotografia assinada por Douglas H. Solme é repleta de passagens diurnas e básica demais, sem nem sequer utilizar os próprios clichês de contemplação dos monstros ou aproveita bem os planos mais abertos para inserir elementos narrativos que carreguem a história de uma simples fagulha de criatividade. Com uso de efeitos visuais para a construção de muitos espaços, o design de produção de Christian Niculescu não consegue ter muita coisa para criar, sem direção de arte e cenografia com elementos expressivos na construção da atmosfera vampiresca por meio da linguagem visual. Sem Marco Beltrami na condução da trilha sonora, o resultado sonoro agora assinado por Ceiri Torjussen fica ainda pior. Ainda sobre as questões estéticas, os figurinos de Oana Paunescu conseguem se apresentar como melhor setor da produção, falha também na maquiagem, mais uma vez comandada por Gary J. T.

Sobre a história desenvolvida ao longo dos 86 minutos de Drácula III – O Legado Final, temos o seguinte mote: o Padre Uffizi (Jason Scott Lee) e Luke (Jason London), personagens do filme anterior, são apresentados brevemente no preâmbulo que explica aos espectadores o que ocorreu entre o desfecho de Drácula II e a próxima empreitada. Ficamos sabendo que o padre caçador não morreu e junto ao jovem Luke, atravessa agora a Romênia, numa região devastada pelos horrores da guerra civil. E para piorar, por vampiros. O foco da dupla é salvar Elizabeth (Diane Neal), agora sob o domínio do ardiloso Drácula (Rutger Haiser). Na viagem, conhecem uma jornalista britânica, Julia (Alexandra Westcourt), profissional que está na região para cobrir a situação bélica junto a sua equipe, todos acossados diante da ameaça maior que os conflitos humanos. São personagens colocados na narrativa, obviamente, para obedecer a cartilha das mortes em sequência, tendo em vista preencher o desenvolvimento da ação. Com situações pitorescas e a já mencionada tentativa de implementar humor para disfarçar o argumento ruim, o terceiro filme desta franquia de Patrick Lussier coloca humanos e vampiros dentro de um embate morno e de uma história pífia.

Drácula, certamente, merecia mais. Paciência!

Drácula 3: O Legado Final (Dracula III: Legacy/Estados Unidos/Romênia, 2005)
Direção: Patrick Lussier
Roteiro: Joel Soisson, Patrick Lussier
Elenco: Jason Scott Lee, Jason London, Alexandra Wescourt, Diane Neal, Roy Scheider, Rutger Hauer, Claudiu Bleont, Serban Celea, Ioana Ginghina, Ilinca Goia, George Grigore, Ioan Ionescu, Tom Kane
Duração: 86 min

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