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Crítica | Drácula, Morto mas Feliz

por Ritter Fan
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A história se repete. Ou quase. Drácula, Morto mas Feliz nasceu em circunstâncias absolutamente idênticas a A Louca! Louca História de Robin Hood, filme de dois anos antes de Mel Brooks, foi igualmente mal recebido pela crítica por basicamente os mesmo problemas anteriores, mas, diferente das aventuras do simpático justiceiro que rouba dos ricos para dar para os pobres, daí o “quase”, a paródia do Príncipe das Trevas foi um retumbante fracasso de bilheteria, o que contribuiu para tornar este longa o fim da carreira de diretor cinematográfica do grande comediante comediante.

Estrelado por Leslie Nielsen no papel título, ator que é engraçado apenas por “ser”, ou seja, apenas por aparecer diante das câmeras, o longa surfou na onda do renascimento do interesse sobre Drácula trazido pelo longa de 1992 dirigido por Francis Ford Coppola exatamente como o filme anterior surfou na onda do filme estrelado por Kevin Costner. Mel Brooks, por seu turno, vive o Dr. Abraham Van Helsing, notório caçador de vampiros em uma história que, apesar de substancialmente diferente do que estamos acostumados, especialmente em seu começo em que vemos Thomas Renfield (Peter MacNicol) e não Jonathan Harker (Steven Weber) viajar até a Transilvânia, não altera a essência do clássico literário de Bram Stoker ou a linha narrativa a que estamos acostumados.

O que Mel Brooks faz é usar Drácula de Bram Stoker como sustentáculo visual – inclusive com Nielsen usando uma peruca que o faz ficar parecido com a versão envelhecida do vampiro que vemos no começo do longa -, mas bebe muito também da pegada mais trash dos famosos filmes da Hammer, criando uma mistura coesa que é surpreendentemente muito eficiente em termos de direção de arte, com cenários e figurinos muito bem trabalhados e uma ambientação que consegue evocar o espírito dessas e diversas outras obras cinematográficas vampirescas ao longo das décadas. Infelizmente, porém, o roteiro que Brooks co-escreveu com Rudy De Luca e Steve Haberman (a segunda reunião da trinca depois de Que Droga de Vida!) deixa muito a desejar justamente no que deveria ser a especialidade deles, o humor.

Exatamente como no caso da paródia de Robin Hood, as esquetes cômicas são simplistas e bobas, certamente mirando em um público bem mais jovem do que as obras anteriores de Brooks, sem que ele sequer por um momento mostre seus dentes e caminhe por um lado mais risqué, mais ousado como Roman Polanski fez em A Dança dos Vampiros tantos anos antes. Para ser honesto, há um pouco de tentativa de trabalhar a sensualidade das “noivas vampiras” no início e, depois, de Lucy Westenra (Lysette Anthony) e Mina Seward (Amy Yasbeck), mas tudo fica mesmo só na tentativa, já que Brooks não avança nessa linha, preferindo deixar Nielsen usar sua presença automaticamente cômica para “magicamente” criar um humor que nunca sai de verdade, nunca vai além de um sorriso quase forçado.  Aliás, diria que os melhores momentos do longa ficam com Peter MacNicol e seu Renfield, em uma performance que parece ser a real alma do filme, já que até mesmo o Van Helsing de Brooks fica restrito a um único momento inspirado, quando ele, como professor na universidade de medicina, faz de tudo para seus alunos desmaiarem enquanto faz uma autópsia.

Como acontece mais clara e diretamente em comédias, porém, tudo depende do momento em que ela é assistida e pode ser que a pegada mais domada e pedestre do humor no derradeiro longa dirigido por Brooks acabe funcionando para muita gente. A questão é que, se lembrarmos dos trabalhos anteriores do cineastas, inclusive e especialmente outra paródia de filme de terror clássico, O Jovem Frankenstein, Drácula, Morto mas Feliz parece anêmico, verdadeiramente exsanguinado e sem vida, mesmo diante da presença em tela de Nielsen e Brooks ao mesmo tempo.

Chega a ser frustrante notar que a carreira de Mel Brooks como diretor chegou ao seu fim – pelo menos até o momento em que escrevo a presente crítica, já que ele tem 95 anos – com uma obra tão pouco inspirada e tão distante dos diversos e hilários filmes que ele foi capaz de colocar nas telonas ao longo das décadas. Sua aposentadoria merecia uma marca mais relevante e, claro, o famoso personagem criado por Bram Stoker merecia uma paródia “brooksiana” a altura de sua importância para o imaginário popular. Uma pena que o Drácula de Mel Brooks seja bem mais morto do que vivo.

Drácula, Morto mas Feliz (Dracula: Dead and Loving It – EUA/França, 1995)
Direção: Mel Brooks
Roteiro: Mel Brooks, Rudy De Luca, Steve Haberman (baseado em obra de Bram Stoker)
Elenco: Leslie Nielsen, Mel Brooks, Peter MacNicol, Steven Weber, Amy Yasbeck, Lysette Anthony, Harvey Korman, Anne Bancroft, Ezio Greggio, Megan Cavanagh, Chuck McCann, Mark Blankfield
Duração: 88 min.

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