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Crítica | Druuna: Delta

Luta pela sobrevivência.

por Luiz Santiago
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ATENÇÃO: este é um quadrinho +18!

SPOILERS!

Delta é o segundo álbum da saga de Druuna, também conhecido pelo nome da personagem ou por Morbus Gravis II, já que se trata de uma continuação direta dos eventos de Morbus Gravis (1983). Naquela ocasião, a personagem descobriu a cabeça falante de um homem chamado Lewis, que lhe revelou o mistério da existência da humanidade: eles estão em uma nave espacial vagando pelo Universo. A vida no planeta Terra se tornou impossível devido a uma grande catástrofe da qual não temos detalhes. O que sabemos é que essa realidade toda de Druuna se passa dentro da tal nave, onde uma doença, um vírus (provavelmente a mesma catástrofe que atingiu a Terra) transforma os seres humanos em mutantes horrendos e com alguns poderes mentais. Nesta edição, a protagonista tem uma missão a cumprir. Esta é a história de como ela segue as instruções de Lewis para supostamente fazer algo que deveria beneficiar a humanidade.

Mais uma vez responsável pelo roteiro e pela arte do projeto, Paolo Eleuteri Serpieri finca os dois pés em sua visão erótica (e muitas vezes pornográfica) de como uma mulher encara, num cenário sujo e maldito de ficção científica, as adversidades de seu dia a dia. E a narrativa começa bem. Druuna inicia um diálogo com Lewis e temos algumas exposições e alguns momentos didáticos que mesmo depondo contra aquilo que o autor soube fazer muito bem no volume anterior (construir um enredo rico e fluído), insere novas informações sobre essa realidade. Fala-se mais a respeito de Delta — o computador ou inteligência artificial que acabou se corrompendo e assumindo o controle da nave, dando vida a robôs que passaram a guiar uma religião violenta, oprimindo a população –, fala-se sobre como essa realidade pode mudar e também mostra-se como as estruturas dentro da nave estão mudando. Lewis até comenta sobre “os planos de Delta“, mas isso também não nos é explicado em detalhes. O suspense, todavia, funciona, e a bem da verdade, esses planos de Delta não são coisas que a gente realmente precisa saber.

O texto, no entanto, não consegue avançar com essa missão de Druuna. E então o leitor é jogado nas mazelas que já conhecia de Morbus Gravis, o que não tem nenhum problema, porque a realidade dentro da nave é essa, o vírus existe, os mutantes existem e não há nada o que fazer de maneira imediata para mudar isso. Os estupros, os abusos e as nojeiras dessa realidade serviram, antes, para empurrar Druuna até um determinado lugar. Aqui, porém, o lugar para o qual ela é empurrada (a misteriosa Torre onde está Delta) acaba sendo um lugar onde tudo poderia se transformar, mas não se transforma. O final dessa edição é de um anticlímax medonho, e para mim, inutilizou mais da metade de tudo o que o roteiro nos apresenta, porque toda a caminhada da personagem não teve serventia alguma. É aquele tipo de construção que promete muito, aponta coisas grandiosas no futuro e, quando chega na hora, não compensa nada do que foi sofrido ao longo do processo. Como consequência disso, as tais dores mudam de figura, parecem forçadas, estúpidas e desnecessárias. E convenhamos, numa análise fria, em termos de sentido do andamento da presente história, é mesmo.

A aparição de Shastar aqui é assustadora e funciona de maneira muito interessante, mais uma vez indicando que Druuna é imune à praga, porque ele certamente precisou tocar na mulher para salvá-la da queda, mas ela simplesmente não apresentou nenhum sinal de contaminação. Vale também destaque para o velho e baixinho ermitão que aparece como enviado de Lewis para guiar Druuna até a torre. Eu ri bastante desse personagem em cena e achei muito bom o autor colocar um alívio cômico que tivesse a ver com o andamento da trama. É uma quebra de expectativa, mas ela não altera a atmosfera presente, muito pelo contrário, fortalece-a. Embora o final de Delta nos deixe exatamente no mesmo lugar em que começamos a história, ou seja, nada realmente muda aqui, a história nos faz conhecer um pouco da organização do “setor civilizado” da nave, fala sobre o que aconteceu com o médico que cedia os antídotos para Druuna usar em Shastar e indica uma guerra de inteligências no comando da nave, com uma delas (a de Lewis) podendo gerar ilusões do tipo “realidade virtual” par Druuna. É um álbum que expande as coisas do volume anterior, mas que não dá praticamente mais nenhum passo adiante.

Druuna: Delta (França, 1987)
Editora original: Dargaud (1987)
No Brasil: Pipoca e Nanquim (2019)
Roteiro: Paolo Eleuteri Serpieri
Arte: Paolo Eleuteri Serpieri
62 páginas

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