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Crítica | Duna: Casa Atreides, de Brian Herbert e Kevin J. Anderson

por Kevin Rick
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Casa Atreides

A fantástica hexalogia Duna, escrita por Frank Herbert, terminou de forma abrupta com a trágica e prematura morte do autor em 1986, resultando em uma série, que apesar de continuar sendo espetacular, em especial a magnum opus de Frank, entraria para o infeliz grupo de obras literárias sem um final conclusivo. Felizmente (ou talvez nem tanto), o filho do autor, Brian Herbert, arregaçaria as mangas, junto do escritor Kevin J. Anderson, para finalizar o trabalho do pai em dois livros… controversos, para dizer o mínimo. Contudo, antes de darem continuidade à série principal do Universo, a dupla criou duas trilogias que se passam antes dos eventos do primeiro livro: Legends of Dune e Prelude to Dune, no clássico caso de tirar leite de pedra. Casa Atreides

Iniciando sua empreitada – que dura até hoje, com 14 livros e contando – com Duna: Casa Atreides, Brian e Kevin nos trazem para algumas décadas antes da narrativa do primeiro livro, contando a história de origem de grande parte dos personagens secundários da obra que deu início à franquia, em especial o querido Duque Leto Atreides, o mais próximo de um protagonista do livro. A ideia geral aqui é bem simples e básica, pois os autores não queriam remexer na continuidade principal sem antes “testarem” a recepção do público por seu estilo de escrita, bastante (eufemismo!) diferente da identidade mais poética e lírica de Frank, com ambos decidindo assumir seu típico pulp sci-fi, quase que numa espécie de fan-fiction dos autores.

O efeito que eles procuraram em Casa Atreides é a pura nostalgia dos leitores, afinal, eles sabem – e admitem – não terem a qualidade de Frank, logo, qual a melhor forma de retornar a esse Universo senão em um aconchego narrativo com nomes conhecidos em suas primeiras aventuras? É nesse sentido que encontro a principal qualidade desse livro, além de ser algo que delinearia o contínuo trabalho dos autores: mitologia. Por serem aficionados neste Universo, a dupla entende a mitologia de Duna como poucos, e sabem bem como continuar a construção de mundo, tocar em regras e eventos que Frank só citou na série original de modo a expandi-las organicamente, e realmente brincar com a leis, acontecimentos históricos e instituições da franquia.

Frank sempre criou tudo em prol da história, as Bene Gesserit, os Mentats, a mélange, etc, serviam ao propósito da bela narrativa ecológica de Arrakis e afins, além da onírica e melancólica jornada de Paul Atreides e os personagens que deram seguimento à hexalogia. Brian e Kevin partem da ideia contrária, no pensamento de “não seria legal saber a história das Casas?”, ou então “seria divertido conhecer como Leto e Duncan se encontraram”, e por aí vai. Eles não têm verdadeiramente algo para contar nas entrelinhas da narrativa, fazendo com que metáforas, simbologias, discursos morais e ambientais sejam resignados ao velho (e divertido) conto de aventura sci-fi simplório.

Isso fica muito evidente na estrutura que eles dão ao livro, fragmentando a história em núcleos divididos que vão e voltam, quase que numa forma sequencial. Temos Leto, o Barão Harkonnen, o Imperador Shaddam IV, as Bene Gesserit, em especial Gaius Helen, e, por fim, Duncan Idaho, no qual o encadeamento da obra pula de um ao outro em capítulos… contidos. É estranho, pois não existe um esquema maior para a história, com cada personagem ganhando uma continuidade em seus respectivos arcos, se interligando aqui e ali, mas, de certa forma, cada capítulo tem um início, meio e fim. Novamente, é de uma estranheza gigante, pois o conflito não é estendido ao final desses capítulos, no qual a narrativa dá margem para a continuação, mas sempre fecha o conflito específico naquele momento específico, tornando o ritmo de leitura arrastado, afinal, não se cria uma atrito posterior, aquele engajamento com o leitor para continuar devorando a obra, o que torna as 700 páginas injustificáveis.

Duna: Casa Atreides é um livro de preenchimento de lacunas que não são necessárias, mas que conseguem ser divertidas e curiosas para viciados neste Universo, como eu sou. Brian e Kevin não propõem – e não conseguiriam, aliás – uma jornada épica e memorável como Frank fazia com facilidade, mesmo em seus piores trabalhos. Não, os autores sabem das suas limitações e estão utilizando esse Universo fantástico e célebre que caiu nos seus colos para destrinchar a mitologia, contar histórias de origem, prelúdios, apresentar eventos apenas conhecidos por nomes, e conceber uma experiência, que se não é poética e inesquecível, pelo menos consegue divertir, especialmente para quem ama esses personagens e a mitologia de Duna. É um desperdício pensando no que veio antes? Ou até mesmo um desrespeito ao legado de Frank? Talvez, mas tudo que é famoso na Arte não fica morto, e Brian e Kevin sabem honrar a mitologia com uma escrita que exprime fã, infelizmente são fãs aquém da qualidade literária necessária. Uma obra que não anda com as suas próprias pernas, mas é um bom livro, apesar de tudo.

Duna: Casa Atreides (Dune: House Atreides – EUA, 1999)
Autores: Brian Herbert, Kevin J. Anderson (baseado em obras de Frank Herbert)
Editora: Spectra
Data de lançamento: 05 de outubro de 1999
Páginas: 704

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