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Crítica | Duplo Impacto

por Ritter Fan
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Todos os filmes de pelo menos os primeiros seis ou sete anos da carreira de Jean-Claude Van Damme são inadvertidamente cômicos, ainda que uns mais e outros menos, pois é impossível não morrer de rir de clássicos momentos de caretas em câmera lenta quando seu Frank Dux é temporariamente cegado pelo vilanesco Chong Li, na luta final de O Grande Dragão Branco ou do drama exagerado do sofrimento de Gibson Rickenbacker na cruz, tendo o tosquíssimo futuro distópico de Cyborg: O Dragão do Futuro ou, claro, a inesquecível “dancinha” de Kurt Sloane, em Kickboxer: O Desafio do Dragão. Mas Duplo Impacto, terceira parceria do ator com Sheldon Lettich, inaugura o humor deliberado e planejado, mesmo que a premissa do longa e grande parte de sua execução seja séria.

Afinal, como não se divertir com os irmãos gêmeos Chad e Alex (Van Damme e Van Damme) que são separados com seis meses de idade depois do massacre de sua família em Hong Kong e são cuidados de maneiras completamente diferentes, o primeiro pelo guarda-costas Frank Avery (o sempre simpático Geoffrey Lewis) na França e depois em Los Angeles, tendo sempre do bom e do melhor e o segundo sendo largado em um orfanato no Oriente, o que lhe leva a uma vida de crime como um durão local? Os dois são tão milimetricamente opostos – Chad sempre de rosa e com cabelo bem cuidado e Alex sempre de preto e com cabelo lambido – que chega a ser ridículo. E não tenho dúvida alguma que isso foi absolutamente de propósito, dando a Van Damme a oportunidade de viver dois papeis antitéticos que, porém, não exigem tanto de sua quase inexistente latitude dramática.

A comicidade gerada pela reunião dos dois 25 anos depois, quando Frank acha o gêmeo em Hong Kong e começa a armar uma vingança contra os vilões (o que inclui o retorno de Bolo Yeung, desta vez como o desfigurado capanga Moon), vem também da forma como a coisa é executada. Quase que surrealmente, Frank arremessa Chad em um ambiente dominado por Alex, mas sem avisar o porquê daquilo tudo, criando um encontro inusitado ao redor da namorada de Alex achado que Chad é Alex, chegando ao ponto até de conferir que Alex usa cueca chique. É aquele tipo de bobagem divertida, simpática e mais do que esperada em um filme desse naipe protagonizado por Van Damme.

E, talvez aí sim inadvertidamente, a própria trama de vingança é tão bagunçada, tão desorganizada, tão aleatória, o que inclui caixas de conhaque com bombas e destruição de laboratório de narcóticos sem plano definido, que gera também um pouco de humor, mantendo Duplo Impacto curiosamente homogêneo, mas sem transformá-lo em uma dramédia. Lettich é bem sucedido nesse intento, vale dizer, pois a ação funciona, tem um ritmo interessante e dá oportunidade a Van Damme de lutar de duas maneiras diferentes, com Chad mais técnico, por ser carateca (e bailarino, o que o ator era mesmo na vida real) e Alex mais lutador de rua, de certa forma lembrando o ótimo Leão Branco, o Lutador Sem Lei.

Outro ponto positivo do trabalho de Lettich é lidar bem com a simultaneidade de dois Van Dammes em tela. Apesar de um momento apenas em que é visível o truque ótico de sobreposição, as demais sequências, com dublês, com câmeras trabalhando para evitar o foco no rosto dos dois e até mesmo com momentos em que a sobreposição ótica funciona a contento, como na foto usada para ilustrar a presente crítica, o cuidado com os efeitos práticos é visível e cuidadoso, sem quebrar a imersão do espectador, algo comum em situações semelhantes.

Duplo Impacto tem uma premissa simples, mas bem executada, com uma pegada humorística muito bem vinda que faz com que o longa não se leve muito a sério, o que é sempre bom em se tratando de uma obra de ação de baixo orçamento. A dose dupla de Van Damme diverte sem exigir demais e entrega um palco simpático para o ator belga mais uma vez ter espaço para mostrar que é apenas um pouquinho mais do que um artista marcial que gosta de fazer espacates nos momentos mais completamente sem sentido.

Duplo Impacto (Double Impact – EUA, 1991)
Direção: Sheldon Lettich
Roteiro: Sheldon Lettich, Jean-Claude Van Damme
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Jean-Claude Van Damme, Geoffrey Lewis, Alonna Shaw, Alan Scarfe, Philip Chan, Bolo Yeung, Corinna Everson, Peter Malota, Evan Lurie, Andy Armstrong, Sarah-Jane Varley, Wu Fong Lung, Eugene Choy, Kwok-Kai Ng, Alicia Stevenson, Paul Aylett
Duração: 110 min.

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