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Crítica | Duro de Matar 2

por Ritter Fan
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É o trajeto natural de todo grande personagem cinematográfico de ação em Hollywood: mais cedo ou mais tarde, ele terá seus traços característicos originais apagados em prol de roteiros cada vez mais vazios e repletos de pancadaria e explosões ininterruptas que têm como objetivo suplantar o que foi feito anteriormente. O que resta esperar é que isso aconteça o mais vagarosamente possível e não praticamente do dia para a noite como foi o caso de John Rambo, por exemplo.

Felizmente, Duro de Matar 2 é um desses casos em que o protagonista mantem-se razoavelmente intacto de um filme para o outro, ainda que isso não seja lá um grande mérito considerando que o roteiro da continuação, que veio a toque de caixa dois anos depois do excelente e inesquecível original, segue quase que passo a passo o texto base de Jeb Stuart e Steven E. de Souza, com o segundo roteirista retornando para mais, desta feita em parceria com Doug Richardson (que viria a co-escrever Os Bad Boys cinco anos depois). Afinal, é inescapável a conclusão de que Duro de Matar 2 é basicamente Duro de Matar quadro-a-quadro, só que na horizontal, por assim dizer, desta vez com o bom e velho policial John McLane (Bruce Willis) mais uma vez no lugar errado na hora errada – ou o contrário – para salvar sua esposa da morte pela mão de um pelotão de extremamente organizados vilões.

Com a ação passada novamente na véspera do Natal, só que, agora, no aeroporto internacional de Dulles, na capital americana, o filme lida com soldados de elite liderados pelo Coronel Stuart (William Sadler) que tem um complexo plano para resgatar um ditador sul-americano aprisionado, o General Ramon Esperanza (vivido por ninguém menos do que Franco Nero), que está para pousar ali. McLane é a única pessoa que percebe o que está acontecendo e, como de costume, parte para enfrentar os bandidos na cara e na coragem depois que não consegue convencer o chefe de polícia do aeroporto a fazer algo antes que o caos comece a reinar. Como se pode notar, o roteiro não corre riscos e, com exceção de McLane descalço, quem viu o primeiro filme saberá cantar as pedras de cada passo do segundo, o que não é exatamente ruim, mas também não é exatamente bom.

Sadler, apesar de não fazer feio como vilão principal, é apenas uma sombra longínqua do carisma e da latitude dramática que o saudoso Alan Rickman esbanjava no primeiro filme. Willis, diferente do herói vulnerável que constantemente se preocupava com seu bem estar, desesperado por estar na situação em que estava, aqui é o Sr. Sangue Frio, capaz de identificar tramas complexas em um piscar de olhos em um aeroporto lotado, locomover-se na velocidade da luz, matar sem sequer hesitar por um segundo e praticamente fazer todo o trabalho pesado com a ajuda de um zelador vivido por Tom Bower que palidamente faz as vezes do policial Al Powell de Los Angeles (Reginald VelJohnson volta para esse papel para fazer uma micro-ponta aqui), sem o carisma e o desenvolvimento do sidekick original. Há tempo até mesmo para as tramas do repórter abelhudo Richard “Dick” Thornburg (William Atherton) e de Holly Gennero McClane (Bonnie Bedelia) serem desenvolvidas de maneira familiar ao espectador, de forma que absolutamente tudo se torne bem confortável para quem estava com saudades do original.

Em outras palavras, Duro de Matar 2 tem tudo que Duro de Matar tinha, mas só que mais aguado, mais burocrático, mais “barato” como uma bijuteria de boa qualidade, mas que continua sendo bijuteria, ainda que a direção de Renny Harlin (Risco TotalDo Fundo do Mar) mantenha uma boa cadência que consegue prender a atenção do espectador que quiser apenas mais do mesmo (ou seria “menos” do mesmo?). Obviamente que o finesse e o apuro técnico de John McTiernan, talvez um dos melhores diretores desse tipo de blockbuster hollywoodiano, faz tremenda falta, com a continuação parecendo mais um take alternativo feito pelo diretor de segunda unidade.

Mas é aquilo: pelo menos John McLane é razoavelmente o mesmo aqui, com sua transformação completa em super-herói americano ainda demorando um pouquinho para acontecer. Duro de Matar 2, como filme, é um bom remake do original. Falta aquela cor e aquele sabor especiais, mas o resultado consegue matar a fome por pancadaria de qualidade com um herói carismático dizimando vilões em atacado.

Duro de Matar 2 (Die Hard 2, EUA – 1990)
Direção: Renny Harlin
Roteiro: Steven E. de Souza, Doug Richardson (baseado em romance de Walter Wager e personagens criados por Roderick Thorp)
Elenco: Bruce Willis, Bonnie Bedelia, William Atherton, Reginald VelJohnson, Franco Nero, William Sadler, John Amos, Dennis Franz, Art Evans, Fred Dalton Thompson, Tom Bower, Sheila McCarthy, Don Harvey, John Costelloe, Vondie Curtis-Hall, John Leguizamo, Robert Patrick, Tom Verica, Tony Ganios, Michael Cunningham, Peter Nelson, Ken Baldwin, Mark Boone Junior, Robert Costanzo, Patrick O’Neal, Colm Meaney
Duração: 124 min.

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