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Crítica | Dylan Dog – Vol. 12: Assassino!

Quando o apocalipse chega em forma de um assassino cruel.

por Luiz Santiago
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Assassino! se passa na cidade de Londres, mais precisamente numa sexta-feira, 06/06/1986. É muito importante gravar esta data porque ela criará toda uma simbologia na história, com Dylan Dog citando Martin Gardner e tudo mais, buscando respaldo nas ideias desse escritor de matemática recreacional e literatura de divulgação científica e matemática, para desbancar uma teoria do “número da Besta” (666) ligada a esse dia da trama, que começa com um cruel assassino à solta, procurando enlouquecidamente um homem chamado Hund.

A fonte dos autores aqui é bastante óbvia: o assassino foi inspirado no personagem de Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro, lançado três anos antes. Além da aparência física, da resistência e do comportamento, o assassino tem como recurso uma arma diferente e absurdamente letal e potente. É muito interessante que, apesar de parecer uma arma futurista, pelo que é capaz de fazer, a matéria-prima para forjá-la e o estilo de fabricação indicam que se trata de uma arma de séculos atrás, o que não faz nenhum sentido para os cientistas que a analisam. Ao menos nesse aspecto de surpresa, a história consegue um bom resultado final, o que infelizmente não acontece em seus outros aspectos narrativos.

Tudo o que envolve o assassino é chamativo, porque, como é de praxe em Dylan Dog, os artistas não poupam violência e sabem aplicá-la de forma bem pensada em todo o enredo. Aliás, há cenas muito boas de perseguição de carros e motos aqui, o que também é um diferencial positivo. O que pesa negativamente em todo o projeto é a justificativa para a ação do assassino e a revelação de quem ele verdadeiramente é. E tudo está ligado a um indivíduo judeu, claramente inspirado em Woody Allen, que vai visitar o Detetive do Pesadelo no início da aventura e que volta a encontrá-lo, em situação mais perigosa, na segunda parte da trama.

SPOILERS!

Toda a ideia de dizer que esse assassino é uma versão do Golem me afastou parcialmente, gerando-me sensações contraditórias. Por um lado, eu não posso deixar de admirar a ideia de um Golem cibernético, ou pelo menos que parece ser cibernético. O personagem é bastante representativo da cultura judaica clássica e faz sentido que, numa história como essa, encontrássemos esse tipo de criatura. A estranheza vem quando descobrimos a programação do Golem, que deveria matar um “Hund”, que na verdade é “cachorro“, em alemão, e o único “cachorro” dessa história é o protagonista Dylan Dog. Dá a impressão que Tiziano Sclavi tentou ser bastante esperto, mas terminou forçando muito a barra com todas essas coincidências e confusões linguísticas, expondo justificativas que não explicam bem o que querem dizer e parecem que não se encaixam no enredo.

Para um paradoxo final, devo dizer que gostei de ver o Golem-Exterminador levantando dos mortos na última página, indicando que há a possibilidade de voltar a atormentar a vida de Dylan Dog e Groucho. A propósito desse sidekick de quem gosto tanto, ele é utilizado aqui de forma aplaudível, compartilhando ditados ídiche com o rabino Woodrow Allen Hund e chorando na cena onde achou que o Golem tinha matado o seu amigo. A iniciativa de Groucho também deve ser levada em consideração, pois ele faz um trabalho investigativo mais minucioso que o de Dylan e consegue chegar ao rabino antes do monstro.

No todo, Assassino! é uma história que diverte por elencar um Ser imparável e com um grande mistério atrás de sua constituição e motivação. A arte de Giuseppe Montanari e Ernesto Grassani captura muito bem o clima de “fim de mundo diferente” encabeçado por um Golem futurista e, como disse antes, traz ótimas cenas de perseguição, além de excelentes quadros de assassinatos. Fica, porém, a estranha sensação causada pelas escolhas do roteiro para justificar o que está fazendo. Quem sabe no retorno do Golem isso não se dissipa?

Dylan Dog – Vol. 12: Assassino! (Killer!) — Itália, setembro de 1987
Sergio Bonelli Editore

Roteiro: Tiziano Sclavi
Arte: Giuseppe Montanari, Ernesto Grassani
Capa: Claudio Villa
No Brasil: Editora Mythos (janeiro de 2003)
100 páginas

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