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Crítica | Dylan Dog – Vol. 48: Horror Paradise

Visitando um parque aterrador.

por Luiz Santiago
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Escrita pelo trio de criadores de Nathan Never (a saber, Michele Medda, Antonio Serra e Bepi Vigna) Horror Paradise é uma grande e divertida homenagem ao cinema de terror — ou, mais precisamente, à evolução histórica, cênica, dramática e até estética desse gênero. Não é de hoje que as aventuras de Dylan Dog fazem referências às muitas nuances do macabro, no cinema ou fora dele. A própria estreia do personagem, em O Despertar dos Mortos-Vivos, já era uma homenagem a um clássico do cinema. Nesta edição #48, porém, os autores puxaram o máximo de indicações possíveis do terror para explicar a existência de um “parque do medo” muito especial, o aterrorizante Horror Paradise.

Dylan Dog é contratado por uma sedutora mulher de nome Vanessa, para investigar a violenta e cinematográfica morte do namorado, um decadente produtor da Sétima Arte. Vanessa acredita que existe algo de sobrenatural em cena, já que o namorado foi assassinado por uma figura “vestida de Freddy Krueger“; mas Dylan não vê dessa forma. Após um pequeno embate inicial, porém, a cliente consegue com que o Detetive do Pesadelo assuma o caso. E a investigação é interessante desde o início, porque os crimes não demoram a acontecer, chegando a Dylan de forma indireta. O fato de ele, em pouco tempo, descobrir que as vítimas dos assassinatos estavam ligadas às obras misteriosas do infame diretor Alfred Hotchkiss (olha a piscadela para Hitchcock aí!) traz ainda mais mistérios para o enredo.

A linha narrativa adotada pelos escritores de Horror Paradise não é linear. Ela ocorre em tempos e lugares diferentes, inicialmente com Dylan perdido em uma suposta “nave espacial”, cercado por personagens que querem matá-lo (Alien, Rambo e um clone dele, à la Westworld). Posteriormente, vemos como as coisas aconteceram no passado, percorrendo a trilha de eventos que o levariam à situação de fuga em que se encontra, no parque de um cineasta maluco.  Alfred Hotchkiss deu origem ao splatter (ou gore, um subgênero do cinema de terror que, deliberadamente, se concentra em representações gráficas de sangue e violência) e quer levar adiante o seu plano de fazer filmes com mortes reais, o que seria, segundo ele, a “evolução natural do gênero.

Além dos personagens citados, encontramos aqui o Guardião da CriptaHellraiserMúmiaLobisomemMonstro da Lagoa Negra e referências aos títulos de alguns filmes — Esquartejando Susan Freneticamente, por exemplo, brinca com o nome de um longa de Susan Seidelman, com Madonna no elenco; já Uma Cilada Para Roger Rabbit aparece homenageado por um personagem de nome “Pink Rabbit”, mas também é citado nominalmente, contribuindo para uma outra faceta da história, envolvendo Alan, o filho de Alfred Hotchkiss. Através da ótima arte de Claudio Castellini, a oposição entre o macabro e o cômico, exemplificada pelos cartoons à la Looney Tunes, fica ainda mais evidente. O leitor abstrai com intensidade a diferença de atmosfera entre as duas linhas de abordagem, porque os desenhos são muito ricos, as cenas são perfeitamente construídas e a ação, como sempre, tem uma fantástica progressão nas páginas.

Eu só achei o final da trama um pouco insosso. Não que seja ruim. Entendo e gosto da maneira como a loucura assassina passou do pai para o filho, afinal, filmes do gênero sempre deixam um herdeiro para continuar o rastro de sangue, não é mesmo? Mas talvez a rapidez com que tudo isso é posto nas páginas ou mesmo o pequeno atropelo nas informações finais tenham dado uma leve queda na história, justamente em seu desfecho. Em Horror Paradise, discute-se um pouco a progressão do terror no cinema e a maneira como a essência dos filmes, de seus personagens e suas motivações, fazem vir à tona o pior de algumas pessoas que utilizam isso como “único gatilho” para levarem o terror às pessoas, não através da tela, mas na vida real.

Dylan Dog – Vol. 48: Horror Paradise (Itália, setembro de 1990)
Roteiro: Michele Medda, Antonio Serra, Bepi Vigna
Arte: Claudio Castellini
Capa: Angelo Stano
100 páginas

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