Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Dylan Dog – Vols. 16 e 17: O Castelo do Medo e A Dama de Negro

Crítica | Dylan Dog – Vols. 16 e 17: O Castelo do Medo e A Dama de Negro

Um grupo de herdeiros que precisam se manter vivos.

por Luiz Santiago
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Neste arco de Dylan Dog, temos a execução de uma série de “crimes de quarto fechado“, em uma narrativa de horror que o Detetive do Pesadelo vive de perto. Em certa medida, O Castelo do Medo e A Dama de Negro é uma história de fantasma, mas o enredo não fica apenas por aí, antes, expande a presença sobrenatural para situações bizarras, violentas e perturbadoras. Dylan é contratado por uma herdeira para passar 7 dias com ela em um castelo, no interior da Inglaterra. O tio da mulher, um homem desprezível e mesquinho, que apesar de arrastar dívidas altas e deixar a propriedade caindo aos pedaços, tinha uma enorme fortuna guardada, colocou como condição para que seus parentes vivos tivessem acesso ao dinheiro, a permanência naquele local. Desde o início, portanto, os ânimos e o ódio estão à flor da pele.

O desafio, nesse caso, é permanecer vivo, algo que se torna cada vez mais difícil para os personagens, à medida que as páginas avançam. Eu gostei consideravelmente mais da edição #16, onde toda a configuração do medo é erguida, nos corredores e quartos do castelo. O roteiro de Tiziano Sclavi faz uma ótima apresentação da misteriosa vilã do arco, a tal “Dama de Negro”, que supostamente é o fantasma vingativo da antiga esposa de um dos patriarcas daquela propriedade. Ou seja, estamos diante de uma história nos moldes góticos, com toda aquela atmosfera de violência misógina e nuances de sobrenatural que tão bem caracterizam algumas tramas dessa seara, principalmente nos quadrinhos.

É claro que, nesse tipo de ambiente, o desafio inicial dos presentes é tentar desmascarar quem está “fazendo gracinha“, querendo assustar todo mundo. As tentativas de colocar alguma lógica nas muitas ameaças e perigos que aparecem a conta-gotas geram uma ambientação similar à dos livros de Agatha Christie, onde existem muitos personagens isolados num único lugar, e onde todos — inclusive aqueles que sabemos ser os mocinhos — são suspeitos. Além do herdeiro monge, quem se destaca mais, logo de cara, são os três funcionários do castelo. Eu só achei muito forçada a repetição dos tapas na cara que as mulheres davam umas nas outras, para que “deixassem de ser histéricas“. Fora isso, a maneira generalizadora com que o autor exibe esses indivíduos, tem a sua funcionalidade proposital, mesmo que esse modelo fique progressivamente menos interessante na edição #17.

O mordomo marxista/trabalhista tem as falas mais sacanas do arco, e o discurso anti-burguesia dele garante bons momentos cômicos. Pensando nisso, é claro que a decisão do autor para revelar quem estava por trás de tudo, faz sentido. Mas eu não creio que o caminho para a entrega dessa verdade final tenha sido bom. A segunda edição do arco é burocrática e eu achei o diálogo final entre Dylan e o assassino algo bem insosso; um embate que poderia seguir por caminhos muito mais interessantes (sem moralismo), mas o autor opta por mantê-lo nas conversas engessadas. Pelo menos a piscadela com o sobrenatural permanece na última página da edição, trazendo um sorriso de cumplicidade para o leitor e melhorando um pouquinho mais a nossa percepção geral do encerramento. Uma boa surpresa, após um último bloco de cenas pouco instigantes.

Dylan Dog – Vols. 16 e 17: O Castelo do Medo (Il castello della paura / La Dama in Nero) — Itália, janeiro e fevereiro de 1988
Roteiro: Tiziano Sclavi
Arte: Giuseppe Montanari, Ernesto Grassani
Capa: Claudio Villa
200 páginas

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