Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Dylan Mouse: O Despertar dos Roedores Invasivos

Crítica | Dylan Mouse: O Despertar dos Roedores Invasivos

Homenageando a primeira edição de Dylan Dog.

por Luiz Santiago
382 views

Em outubro de 1986, a  Sergio Bonelli Editore trouxe ao mundo um de seus mais importantes personagens: Dylan Dog – o Detetive do Pesadelo. Criado por Tiziano Sclavi (roteiro) e Claudio Villa (arte), Dylan tem um companheiro de aventuras chamado Groucho (de fato inspirado na figura, comportamento e humor típicos de Groucho Marx) e com ele atravessa as mais absurdas situações, com histórias que misturam horror, ação, fantasia e uma boa dose de teorias da conspiração, mistério, giallo e até mesmo o lado místico, cósmico ou sobrenatural que possa aparecer numa ficção investigativa/policial. A aventura de estreia desse personagem, publicada em outubro de 1986, teve como título O Despertar dos Mortos-Vivos, claramente inspirada nas obras de George A. Romero, especialmente no filme Despertar dos Mortos (1978). Na presente história, originalmente publicada nas páginas da Revista Topolino #3094 (março de 2015), temos uma fantástica paródia para a referida estreia de Dylan Dog nos quadrinhos; e o melhor de tudo: construída a partir de uma ideia do criador do personagem.

A cena de abertura de O Despertar dos Roedores Invasivos é ao mesmo tempo estranha e cômica, com o roteirista Tito Faraci mostrando um novo tipo de zumbi, representando aquelas pessoas incômodas que querem compartilhar tudo, com todo mundo, o tempo todo. Vemos Ranulfo chegar à casa de sua ex-noiva, Minnie, com a seguinte frase: “Eu ia preparar uma fritada! Você quer comer comigo?“. A cara medonha do personagem e o medo de Minnie diante dessa chegada abrupta e nonsense indicam que estamos diante de alguém que teve seu comportamento alterado por alguma força inexplicável (e os desenhos de Paolo Mottura são incríveis ao representar tudo isso, transitando entre o terror e o lado engraçado das cenas). Os delírios de Ranulfo acabam levando Minnie a acertar-lhe uma frigideira na fuça, levando à primeira confusão em continuidade do volume e empurrando a jovem para uma visita ao Detetive do Pesadelo, que estava numa conversa hilária com Pateta. Este último, aliás, é definitivamente o meu personagem favorito da edição, assumindo a persona de Groucho com precisão impagável.

A ideia central de Faraci, neste número, é mostrar como pessoas chatas (especialmente as conectadas) se parecem com zumbis, querendo que a gente veja meia dúzia de aplicativos maravilhosos, que assista a não sei quantos episódios imperdíveis, que tenhamos contato com “estas” e mais “todas aquelas” maravilhas da tecnologia ou da vida pessoal desse indivíduo com quem, na maioria das vezes, a gente não quer compartilhar nada. Ou seja, é um pesadelo pautado nas relações sociais invasivas,  misturado com um horror visual “à la Disney“, em outras palavras, com aquela atmosfera “fofa e sombria” no texto e principalmente na arte. Quanto ao andamento geral do roteiro, passamos de situações geralmente cômicas (na primeira parte), para algo mais tenso, mais macabro e urgente (na segunda parte), quando então descobrimos a origem do comportamento estranho de Ranulfo e de mais um montão de pessoas de uma cidade periférica: um plano maligno engendrado pelo Mancha Negra.

A parte mais fraca de toda a revista é — assim como na aventura original — a relação entre o mocinho e o bandido. Aqui, Mancha Negra é interrompido através de uma ação “simples, mas inteligente” que só acontece por uma situação bastante conveniente. De certa forma, ainda faz sentido para esse Universo, mas a maneira como o roteiro tinha sido erguido nos condicionou a colocar a régua de exigências num ponto bem alto, daí a parcial decepção com o final. É muito bacana pegar uma história em quadrinhos que está parodiando outra história em quadrinhos, e ainda mais quando o parodiador e o parodiado são dois gigantes de vendas em seu país de lançamento. Cheia de piadas engraçadas e que funcionam em mais de um sentido; cheia de um charme fofo na relação entre Dylan e Minnie, e marcada por uma trama de terror que, a despeito de seu caminho final, tem um desenvolvimento aplaudível, O Despertar dos Roedores Invasivos é uma aventura que cativa de forma ágil e que irá agradar a qualquer leitor dos quadrinhos da Dinsey, aos fãs de Dylan Dog, do terror cômico e às vítimas de pessoas que vivem forçando intimidades em suas relações sociais.

Dylan Mouse: O Despertar dos Roedores Invasivos (Dylan Top in: l’alba dei topi invadenti) — Itália, 17 de março de 2015
Código da História: I TL 3094-5
Publicação original: Topolino (Libretto) #3094
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Mickey #875 (Editora Abril, julho de 2015) / Bom Willer, Dylan Mouse e Ganso Never (coletando histórias da republicação dessa edição em Omaggio ai grandi eroi del fumetto italiano – De Luxe Edition #16, no ano de 2018), Editora Panini, novembro de 2021
Roteiro: Tito Faraci (baseado em uma ideia de Roberto Recchioni e Tiziano Sclavi)
Arte: Paolo Mottura
Capa: Paolo Mottura
32 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais