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Crítica | Efeito Colateral

Vingança e explosões.

por Kevin Rick
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O final dos anos 90 e início dos anos 2000 marcaram a derrocada da carreira de Arnold Schwarzenegger, que começou a fazer filmes cada vez piores e bem longe de serem os eventos de público anteriores. Efeito Colateral é uma das obras que fazem parte desta “lista negra” do ator, acompanhando Gordy Brewer (Schwarzenegger), um bombeiro que busca vingança contra um terrorista colombiano que matou sua família em um ataque de bomba nos EUA. Curiosamente, a produção estava marcada para ser lançada na época que ocorreram os Ataques de 11 de setembro, sendo adiada por conta das infelizes similaridades da história ficcional com a vida real.

É interessante notar essa triste coincidência, pois Efeito Colateral acaba fazendo parte da leva genérica de filmes hollywoodianos que estereotipam estrangeiros como terroristas. Por exemplo, entrando no campo extra-fílmico, podemos perceber como os estadunidenses são sensíveis e emotivos aos acontecimentos de 11 de setembro, por motivos óbvios e completamente justificados, mas acabam deixando de refletir sobre o papel dos EUA em diversos ataques no Oriente Médio.

Essa visão turva e egocêntrica do país é claramente vista no roteiro de Efeito Colateral, retratando a Colômbia e os colombianos como uma nação terrorista e de guerrilheiros que atacam por uma ideologia perturbada de liberdade, enquanto a CIA e os norte-americanos são representados como vítimas. Algumas vezes, o texto até tenta criar algum tipo de ambiguidade, como a sequência que o protagonista nota que, em sua sede de vingança e senso de justiça própria, também estava colocando inocentes em risco. Mas é algo muito brando e superficial, como que para enfeitar a representação estereotipada da Colômbia, sendo que a própria vítima da cena que citei acaba sendo outra terrorista que estava apenas enganando o bombeiro.

Em termos temáticos, então, a produção tem muitos problemas críticos. É difícil assistir uma obra dessa e não torcer o nariz para muitos preconceitos e a visão endeusada que os EUA tem deles, ainda que o protagonista seja um austríaco. Em termos dramáticos, a narrativa também não convence, com um trabalho comum sobre luto e revanche, sem nenhum tipo de dor ou sentimento por parte da direção, apesar de Schwarza, mesmo em suas limitações, entregar um bom trabalho dramatúrgico.

As coisas não ficam melhores no departamento da ação ou desenvolvimento narrativo. Recebemos uma montagem atabalhoada do protagonista indo à Colômbia para encontrar o assassino de sua esposa, com cortes que não explicam o processo investigativo da história e muitas conveniências chatas para levar Schwarza às pancadarias do ponto A ao ponto B. É difícil construir um thriller quando se está passando por cima de tudo sem contextualizações ou qualquer tipo de entusiasmo com a própria história.

A ideia é chegar logo na ação, que, por sua vez, também decepciona. É triste ver o cara responsável pelo fantástico O Fugitivo se mostrar tão limitado com encenações atrapalhadas que não criam suspense e set-pieces super genéricas com explosões aleatórias e muitos close-ups cafonas do astro principal. Apesar do protagonista ser um bombeiro, o cineasta não consegue incorporar algum tipo de comédia à la John McClane (a linguagem da obra é, na verdade bem sisuda), e tampouco consegue incorporar o lado político para criar algum tipo de tensão estatal ou suspense de espionagem.

Efeito Colateral é um daqueles filmes de astros de ação que o estúdio simplesmente quis colocar a superestrela no post e não ligar muito para a qualidade da obra em si. O roteiro explora muito mal seu ângulo político, entregando muitos estereótipos, além de estabelecer uma premissa batida de vingança, enquanto Davis não eleva o material que recebeu com uma direção fraca para suspense e ação. Sem dúvidas, uma das piores obras da carreira de Arnold Schwarzenegger.

Efeito Colateral – EUA, 2002
Direção: Andrew Davis
Roteiro: David Griffiths, Ronald Roose
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Elias Koteas, Francesca Neri, Cliff Curtis, John Leguizamo, John Turturro
Duração: 109 min.

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