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Crítica | Efeito de Rede (Diários de um Robô-Assassino #5), de Martha Wells

O começo de uma nova fase na história de Murderbot.

por Ritter Fan
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Depois de Estratégia de Saída, quarta novela da série literária Diários de um Robô-Assassino que fecha um grande arco iniciado em Alerta Vermelho, Martha Wells decidiu arriscar mais e escrever um romance de 350 páginas, formato que exige mais conteúdo e ambição. Efeito de Rede, lançado em 2020, é o resultado de seus esforços, em uma história que, para todos os efeitos, começa um novo arco e leva o auto-hackeado ciborgue antissocial que passa o tempo assistindo séries de TV a uma missão de pesquisa com Amena e Thiago, respectivamente filha e cunhado da Dra. Mensah, além dos já conhecidos Drs. Arada, Overse e Ratthi que, não demora, começa a dar muito errado.

Mas Wells, sabiamente, não começa nada do zero ou próximo do zero, mantendo forte interconexão com elementos que foram apresentados anteriormente, passando a bem-vinda sensação de estarmos lendo o começo de uma segunda temporada, por assim dizer, da mesma série, com personagens humanos levemente diferentes, o retorno do sensacional T.E.D.. sigla jocosa e secreta para Transporte Exploratório Desgraçado, e todo um novo grupo de humanos que se somam aos protegidos do Robô-Assassino, em uma narrativa expansiva que os leva a um planeta cuja colônia humana foi afetada drasticamente por uma contaminação alienígena. O escopo do que a autora faz é consideravelmente maior aqui, pois se antes ela já havia dado a entender sobre a existência de diversas gerações de humanos que partiram para a exploração e colonização espacial e as megacorporações que se aproveitaram disso com o passar das décadas, agora nós vemos em primeira mão os efeitos diretos disso em uma progressão narrativa mais lenta do que nas novelas, mas ainda assim muito interessante.

Sobre a lentidão, diria que Martha Wells não encontrou, nessa sua primeira tentativa, a forma ideal de contar as histórias de sua criatura cibernética no formato longo, talvez pelo vício de manter o passo apertado quando o número de páginas é consideravelmente inferior. Em Efeito de Rede, há dois momentos separados e bem marcados que Wells espreme o máximo possível, o primeiro deles na nave de transporte de “captura” o Robô-Assassino e seus humanos que conta com toda uma trama completa e, diria, até complexa, para nos fazer entender o que está acontecendo, e o segundo no planeta colonizado em que uma perigosa missão de resgate é capitaneada pelo protagonista e por um novo personagem que não revelarei aqui para manter a crítica sem spoilers, mas que já adianto é uma jogada de classe e muito inteligente que aprofunda a eterna pergunta sobre o que é ser humano que permanece constantemente no pano de fundo da série literária. Mas esses momentos – que poderiam facilmente ser duas novelas umbilicalmente conectadas – se alongam talvez demais, especialmente o primeiro, com os tradicionalmente excelentes monólogos internos do Robô-Assassino tornando-se pela primeira vez repetitivos e, diria, até mesmo cansativos.

Isso não quer dizer, porém, que Efeito de Rede não funciona, pois o romance definitivamente funciona como um épico de ficção científica autocontido, mas parte de um universo maior. Não seria errado afirmar que o romance é o equivalente a um longa-metragem do Robô-Assassino, enquanto que as quatro novelas anteriores formam uma minissérie em quatro episódios, cada história com suas características bem específicas e, também, orçamentos diferentes. Falta realmente apenas à autora encontrar o melhor caminho para lidar com seu ciborgue quando ela tem espaço de sobra para lidar com ele. Diria que, mesmo que ela tenha tentado expandir a narrativa e a mitologia do mundo de exploração espacial que criou, a grande verdade é que faltam mais personagens como o Robô-Assassino ou T.E.D. para dividir com os dois o ônus de carregar nos ombros as interações da história, já que os personagens humanos, mesmo que consideravelmente  em maior quantidade aqui, não são bem utilizados e, muitas vezes, são deixados de escanteio até serem essenciais a momentos específicos da narrativa.

Efeito de Rede é um experimento de Martha Wells na mais do que humana série que criou sobre um ser artificial e, ainda que não seja o primeiro romance em sua carreira, é o primeiro (e o único até a data de publicação da presente crítica, já que ele foi seguido de duas outras novelas) tendo o Robô-Assassino como protagonista e tenho para mim que Murderbot funciona melhor – até prova em contrário – em um formato menor mesmo, em doses homeopáticas e constantes no lugar de remédios mais potentes e espaçados. Mesmo assim, seja em que formato for, é sempre um prazer retornar a esse universo e a um dos melhores ciborgues da literatura moderna.

Efeito de Rede (Network Effect – EUA, 2020)
Autoria: Martha Wells
Editora original: Tor.com
Data original de publicação: 05 de maio de 2020
Páginas: 350

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