Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Ele e a Sereia

Crítica | Ele e a Sereia

Uma clássica comédia romântica sobre sereias, descobertas e avanço da maturidade.

por Leonardo Campos
329 views

Presentes nos primórdios do audiovisual, na fase chamada Primeiro Cinema, bem como noutras eras desta linguagem versátil, as sereias habitam, como já mencionado em outros textos sobre o assunto, o nosso imaginário há muitas eras. E, se é parte integrante do imaginário, obviamente que em períodos diversos, circularia pela produção cultural e seria tema/personagem para filmes de variadas perspectivas. Em 1948, sob a direção de Irving Pichel, cineasta baseado no roteiro de Nunally Johnsson, dramaturgo inspirado na novela homônima de Guy e Constance Jones. Leve e doce, a comédia romântica versa sobre relacionamentos, novas perspectivas de vida, estabelecimento de renovação diante de velhas alianças, dentre outros temas, além, claro, de ser uma narrativa de entretenimento nos padrões hollywoodianos para histórias de amor, isto é, enredos com final geralmente feliz e mensagem de cunho pedagógico para os espectadores.

Ao longo de seus 89 minutos, Ele e a Sereia nos apresenta a história do desanimado Sr. Arthur Peabody (William Powell), um homem que possui uma história no mínimo curiosa para contar ao seu médico, o Dr. Harvey (Art Smith). Quem o indicia a contar os fatos é a Sra. Peabody (Irene Hervey), a sua esposa. Tudo gira em torno do contato entre o seu marido e uma sereia, travado num momento lúdico durante uma viagem ao Caribe. Casados por uma quantidade considerável de tempo, eles seguem para um período de férias, haja vista a comemoração do aniversário de 50 anos de Arthur, o único insatisfeito com o avanço de sua idade. Ao sair de Boston para o passeio no ambiente de paisagens idílicas, o jovem senhor se encontra um pouco deprimido por conta de sua condição, mesmo que a sua esposa afirme constantemente que ele está muito bem e não deve se preocupar. É quando ele escuta um canto distante, bastante melódico e atrativo. Seduzido, bem dentro dos parâmetros arquetípicos das sereias na mitologia, ele vai em direção ao ponto de partida sonoro, atraente e muito agradável, em suma, hipnotizante.

Lá, se depara com um objeto da sereia interpretada por Ann Blyth. Após atravessar um pedaço de mar e chegar ao ambiente rochoso próximo, primeiramente ele encontra um pente de mulher. A escalada não o levou ao encontro da sereia em si, algo que ocorrerá apenas um pouco mais adiante. Numa festa na região, enquanto tenta se divertir com a sua esposa, o Sr. Peabody conhece a cantora Cathy Livingston, jovem também atraente que o faz desconfiar ser a dona da voz em questão. No dia seguinte, ele participa de uma pesca e descobre algo muito pesado puxando a sua linha. Ao trazer para a superfície, descobre ser uma linda sereia. Na verdade, “A Sereia”, figura mitológica catalisadora da mudança na vida de Sr. Peabody. Ele a transporta para a banheira do quarto do hotel, cheia d’agua, numa das tantas tentativas de interação que acabam gerando uma série de trapalhadas, inclusive a suspeita de assassinato envolvendo a sua esposa, algo que mais adiante é revelado ser uma trapalhada das trapalhadas, dentre outras situações que deixam o humor correr solto ao longo do filme, enquanto a sereia exerce a sua função mitológica de encantar e seduzir por meio da sua aparência excêntrica e voz cativante.

Diante do exposto, paixões vão se estabelecer, o casamento de Sr. Peabody vai passar por alguns balanços, mas no final de tudo, como na boa e velha cartilha hollywoodiana, as coisas vão entrar em seu devido eixo e o casamento será recuperado, bem como a ordem das coisas na vida pacata dos personagens que durante um curto espaço de tempo, vivem momentos de ludicidade, mergulhados em fenômenos incomuns que funcionam como lições para a continuidade de suas trajetórias. Para tornar a narrativa interessante esteticamente, o diretor Irving Pichel contou com a direção de fotografia de Russell Metty, um bom trabalho de captação de imagens que nos faz adentrar e comprar a proposta da história, setor que mantém a qualidade, tal como os figurinos de Grace Houston, ideais para os personagens e seus tipos dramatúrgicos, além da envolvente trilha sonora de Robert Emmet Dollan, melódica conforme o conteúdo do filme, aquele tipo de aventura doce e tranquila para toda a família, abordagem diluída e interessante do mito das sereias.

Ele e a Sereia (Mr, Peabody and the Mermaid) — EUA, 1948
Direção: Irving Pichel
Roteiro: Nunnally Johnson
Elenco: William Powell, Ann Blyth, Irene Harvey, Andrea King, Clinton Sundberg, Art Smith, Hugh French, Lumsden Hare
Duração: 89 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais