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Crítica | “Elvis Presley” – Elvis Presley

O jovem rei.

por Kevin Rick
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Well, you can knock me down, step in my face
Slander my name all over the place
Do anything that you want to do
But uh-uh honey, lay off of my shoes

Muito se fala sobre Elvis Presley ter se “apropriado” do blues, gênero musical predominantemente da cultura afro-americana. Alguns dizem que o Rei do Rock fez isso sem dar acenos para os artistas negros que o inspiraram, outros dizem que Elvis sempre deu crédito. Eu realmente não me importo tanto com esse debate de “apropriação cultural”, pois Elvis trouxe a sua própria identidade para o blues e o rock’n’roll, principalmente no que tange a mistura do gênero com country, no que seria conhecido como rockabilly. Confesso, porém, que nunca gostei do fato do cantor ser mais valorizado que artistas bem mais talentosos da sua época, como Little Richard e Chuck Berry. Mas, além da questão racial que certamente teve um impacto na popularidade de um músico na década de 50/60, há algo simplesmente ilustre e sedutor sobre Elvis e a maneira como ele se apresenta.

Existe tanto entusiasmo em sua voz e muitas de suas canções têm um contágio natural. Você escuta e quer dançar, quer se mover junto da euforia do cantor e o ritmo da sua guitarra. Isso é evidente em Blue Suede Shoes, música que abre seu primeiro álbum homônimo. Há uma energia cinética na faixa, seja pela intensidade de Elvis, se aproveitando da letra chiclete para nos animar, seja pela melodia agitada e alegre com muitos solos e um ritmo ditado pela bateria, inclusive com algumas “pausas” de batuques muito inteligentes em termos de harmonia com a voz de Elvis.

Outra característica notável de Elvis é a sua sensualidade. Quando ele foi ficando mais velho, suas canções foram ficando muito melosas e bonitinhas, mas no início de carreira o cantor era simplesmente sexy. Quase uma antítese da primeira canção do álbum, I’m Counting on You segue a animação com ternura. A música tem uma letra meio clichê e uma melodia simples, com boa condução de piano e algumas sutilezas harmônicas, como um coro ao fundo e leve toques de chimbal, mas é Elvis que carrega a canção com sua voz romântica e doce.

O restante do disco intercala os dois aspectos do jovem rei. Temos as canções dançantes e temos as baladas suaves. Em I Got a Woman temos um exemplar do primeiro estilo, na faixa mais rockabilly do álbum, bebendo diretamente do country. A letra é um pouco difícil de digerir em seus trechos machistas típicos da época, mas Elvis canta tudo com muita confiança e charme. Logo em seguida temos One-Sided Love Affair, uma das músicas mais divertidas da obra em sua veia boogie-woogie e com Elvis brincando bastante com o tom de sua voz.

I Love You Because começa com Elvis assobiando e rapidamente sabemos que entramos na sua esfera romântica. É mais uma canção com melodia simples, pouco instrumental e com uma pegada mais acústica. A letra sobre amor não é lá muito criativa, mas, novamente, Elvis canta tudo com muito encanto e transforma a balada num grande flerte. Just Because vem em seguida como um contraponto, com guitarra elétrica e outra letra bem cômica sobre desventuras românticas. É uma estrutura meio estranha misturar euforia com ternura, mas Elvis consegue ser natural e excitante independente do ritmo e da pegada de cada música.

O disco chega, então, na famosa Tutti Frutti, um cover da música de Little Richard. Presley até que se sai bem em sua versão de uma das canções mais grudentas e fáceis de lembrar que já escutei, mas minha opinião sobre sua performance está contaminada. É só escutar a versão original e vocês entenderão meu descontentamento, pois Elvis simplesmente não tem a mesma habilidade, dinamismo e carisma de Little Richard para rhythm and blues. Ele se sai melhor com o sotaque e a cadência do country, como na excelente Trying to Get to You, onde o artista mostra os diferentes alcances da sua voz, e também na calma e lenta I’ll Never Let You Go (Little Darlin’).

Não tem jeito, Elvis Presley se encontra nas raízes do country sulista, especialmente quando mistura o gênero com blues rock para nos deliciar com o rockabilly de músicas como I’m Gonna Sit Right Down and Cry (Over You) – mais uma canção do artista que tem aquele piano alegre de boogie-woogie tão divertido de ouvir – e a catchy e subestimada Money Honey. Chega a ser estranho quando o artista sai dessa zona, como na melancólica Blue Moon, uma canção que às vezes parece folk, às vezes parece um prelúdio da fase havaiana de Presley, não se encaixando muito bem na obra – não é uma faixa necessariamente ruim, mas pertence a outro disco.

O primeiro álbum de Elvis Presley não é perfeito, mas caramba, como ele é clássico e fácil de ouvir. Ainda jovem, o artista demonstra sua capacidade icônica de capturar e contagiar o ouvinte, ao mesmo tempo que mostra uma ternura romântica de derreter corações. Ele é entusiasmado, é apaixonante e é muito cativante. É o Rei do Rock and Roll dando seus primeiros passos antes da fama e da influência, mais animado e romântico do que nunca.

Aumenta!: Money Honey
Diminui!: Blue Moon
Minha canção favorita do álbum: Blue Suede Shoes

Elvis Presley
Artista: Elvis Presley
País: Estados Unidos
Lançamento: 13 de março de 1956
Gravadora: RCA Victor
Estilo: Rock, rockabilly, blues

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