Home FilmesCríticas Crítica | Em Pedaços (2017)

Crítica | Em Pedaços (2017)

por Guilherme Coral
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Selecionado pela Alemanha para representar o país no Oscar 2018, Em Pedaços, que garantiu à Diane Kruger o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes lida com questões extremamente pertinentes na atualidade, trazendo à tona o radicalismo e preconceito, em uma obra que retrata os estágios do luto, assumindo características de diferentes gêneros cinematográficos. Exibido no Festival do Rio 2017, o filme mais do que mostra a força da atuação de Kruger, que já se destacara em Bastardos Inglórios, como Bridget von Hammersmark.

A trama nos apresenta a Katja (Diane Kruger), cujo filho e marido foram mortos em uma explosão causada por uma bomba deixada na porta da loja do casal. A partir daí, acompanhamos a protagonista lidando com o luto, enquanto as investigações policiais tentam descobrir quem estivera por trás do atentado. De imediato, a mulher suspeita de nazistas, já que seu marido é de origem turca. Dividido em três atos bastante distintos, a obra acompanha todo o processo de recuperação psicológica de Katja, que pode ser levada a ações drásticas a fim de trazer justiça à sua família.

Chega a ser impressionante como o roteiro de Fatih Akin (que também dirige o longa) e Hark Bohm consegue fragmentar a narrativa da obra, sem perder o interesse do espectador. Esses três capítulos do filme, divididos entre si pelos subtítulos Família, Justiça e O Mar, contam com introduções, desenvolvimentos e conclusões próprias, mas deixando sempre uma ponta a ser seguida pelo segmento seguinte, de tal forma que nos vemos curiosos pelo que irá acontecer a seguir. Não é preciso que sejamos imersos na narrativa repetidas vezes – desde o princípio ela nos envolve e somente “nos deixa ir” com o rolar dos créditos.

Evidente que grande parte dessa atração se dá em virtude dos esforços de Kruger, que encarna sua personagem até a alma, com reações extremamente reais, a tal ponto que deixamos de enxergar a atriz, vendo somente a protagonista ali, sofrendo pela perda da família. Logo cedo nos identificamos com a personagem, de tal maneira que passamos a prever suas ações, não pela previsibilidade da trama e sim pelo entendimento de sua linha de raciocínio – tudo o que ela sente é transmitido a nós, tamanha a força de sua interpretação, que também e capaz de criar químicas palpáveis entre cada um dos outros personagens, seja o advogado Danilo (Denis Moschitto) ou seu próprio marido e filho.

Fatih Akin, na direção, sabiamente valoriza o trabalho da atriz principal, empregando pontuais closes e outros planos contemplativos. É importante notar como, quase sempre, vemos a personagem em quadro, com diálogos sendo construídos mais através da mudança de foco do que efetivamente planos e contra-planos. Existe um incômodo visual quando a obra faz uso de planos ponto-de-vista, notáveis pela câmera na mão, que acabam mudando a perspectiva para a terceira pessoa subitamente, mas, felizmente, são poucos os trechos que fazem uso desse artifício e não chegam a impactar a obra como um todo.

Com tais elementos, Em Pedaços é um filme que nos faz chorar, esbravejar, vibrar e muito mais, enquanto acompanhamos a jornada dessa mulher que teve sua vida estilhaçada. Diane Kruger nos entrega um verdadeiro tour de force, mais do que justificando seu prêmio de Melhor Atriz em Cannes. Com pontuais recursos visuais que incomodam, o longa transita entre seus três distintos atos, cada um com atmosfera diferenciada, de forma hábil e eficiente, nos prendendo do início ao fim e nos mergulhando na mente de sua protagonista.

Em Pedaços (Aus dem Nichts) — Alemanha/ França, 2017
Direção:
 Fatih Akin
Roteiro: Fatih Akin, Hark Bohm
Elenco: Diane Kruger, Denis Moschitto, Numan Acar, Samia Muriel Chancrin, Johannes Krisch, Ulrich Tukur, Ulrich Brandhoff, Hanna Hilsdorf
Duração: 106 min.

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