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Crítica | Emoji: O Filme

por Guilherme Coral
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Em uma época em que as pessoas cada vez leem menos, com jovens demonstrando claros problemas de atenção, fugindo mesmo de vídeos com mais de cinco minutos, um filme sobre emojis até que tardou a chegar, visto que tal linguagem de símbolos está presente desde os primórdios da democratização da internet, passando pelo ICQ, MSN Messenger, Orkut, dentre muitas redes sociais e formas de se mandar mensagens virtuais. Emoji: O Filme, porém, perde a oportunidade de criticar os muitos aspectos ligados à era digital, como o imediatismo, desvalorização da palavra e afins para nos trazer uma mensagem até danosa, visto que o público alvo claramente é a parcela mais jovem da população.

A obra evidentemente se “inspira” em Divertida Menteintroduzindo-nos ao universo existente dentro dos smartphones de cada usuário. Ali dentro, na cidade dos emoticons, cada um conta com uma expressão própria, não podendo mostrar qualquer outra reação além daquela designada para si. Nesse cenário, encontramos Gene (T.J. Miller), um emoji que consegue demonstrar qualquer sentimento, tendo, porém, dificuldade em revelar aquele para qual ele nascera: “meh”. Sendo considerado um erro, ele escapa, junto de Hi-5 (James Corden), para que possa ser reprogramado, podendo, então, cumprir sua única função na vida.

O roteiro de Tony Leondis, Eric Siegel, Mike White e John Hoffman (quatro pessoas para escrever isso?) copia o filme, já citado, da Pixar tão descaradamente que sequer entraremos nessa questão, já que o texto conta com uma série de outros problemas que, também, merecem nossa atenção, de tal forma que chega a ser difícil decidir por onde começar. Vamos, portanto, ao ponto que considero mais prejudicial aos jovens que se arriscam assistir o filme: mais de uma vez a animação praticamente incentiva o abandono da palavra escrita ou até mesmo a convivência social fora desse mundo digital. Os estudantes são mostrados utilizando celulares em sala de aula (o que é a realidade, claro), mas de forma casual e basicamente dialogam por meio de mensagens, todas apenas com emojis, chegando ao absurdo de uma menina dizer que gosta de alguém que sabe expressar seus sentimentos, sendo que tudo o que o garoto fez foi mandar uma carinha por sms.

Em determinado ponto da trama, o protagonista diz que prefere ter amigos reais, ao invés de fãs no Facebook, mas essa mensagem é totalmente descartada, não somente por não ser trazida de volta, como pelo simples fato da obra mostrar o menino conquistando a menina de seus sonhos através de uma única “carinha” no celular. Extrapola-se o limite do ridículo, fomentando a postura que tão distancia as pessoas umas das outras na atualidade, representando tão bem a morte do ato da leitura, sem, contudo, criticar esse fenômeno em momento algum.

Aparentemente, parece mais importante aos realizadores de Emoji: O Filme, realizar dezenas de product placements, propagandas descaradas de certos apps, como FacebookTwitterCandy Crush SagaJust Dance, dentre outros, todos os quais não desempenham qualquer papel narrativo a não ser o de dilatar a duração da obra, com artificiais percalços na jornada de Gene. Verdadeiramente, a presença desses aspectos soa como mera decisão comercial, prejudicando a obra tão consideravelmente que em momento algum realmente acreditamos nesse universo, que, mesmo com os breves trechos mostrando a vida do usuário do celular, falha miseravelmente em dialogar com o mundo de fora.

Claro, tais inserções proporcionam algumas risadas ao longo da projeção, mas trata-se de um humor vazio, que não cumpre qualquer função a não ser a de entreter. Temos, aqui, uma animação sem qualquer subtexto, desprovida de uma possível mensagem benéfica para os mais jovens. Os aspectos de nossa sociedade são meramente colocados, parcialmente, em tela, não trazendo qualquer discussão, seja por moral ou ironia, algo que até mesmo desenhos adultos, como o excelente Rick and Morty fazem. O que permanece, ao término da projeção, é que os emojis são a linguagem do futuro, podendo e devendo substituir o texto escrito, levando-nos de volta para a idade da pedra.

Não bastasse isso, o longa comete o absurdo de mostrar uma personagem feminina largando seus sonhos por amor a alguém que acabara de conhecer, deixando de lado a identidade que escolhera para si, voltando a ser a figura de princesinha. Aparentemente, os roteiristas consideram a “paixonite” mais importante que a própria individualidade, desperdiçando a oportunidade de mostrar que devemos ser nós mesmos, algo que fica reservado ao protagonista, já que ele é especial, diferente de todos os outros, que continua a cumprir suas funções de sempre. Não existe mudança, revolução, como vimos em Monstros S.A., por exemplo, apenas o desaparecimento da ameaça imediata. Mas, em um filme ausente de construção de personagens, isso não deveria vir como uma grande surpresa.

Emoji: O Filme, portanto, nada mais é do que um conjunto de artificialidades que apenas incentiva a imersão nesse mundo digital em detrimento de reais conexões interpessoais. Com mensagens nocivas ao público jovem, humor descerebrado, nada engajado e zero construção de personagens, essa obra já nasceu para cair no esquecimento, podendo até entreter em determinados pontos, mas sem acrescentar qualquer coisa a não ser a prova de que existe uma verdadeira crise de ideias e roteiros em Hollywood.

Emoji: O Filme (The Emoji Movie) — EUA, 2017
Direção: Tony Leondis
Roteiro: Tony Leondis, Eric Siegel, Mike White, John Hoffman
Elenco (vozes originais): T.J. Miller, James Corden, Anna Faris, Maya Rudolph, Steven Wright, Jennifer Coolidge, Patrick Stewart,  Christina Aguilera,  Sofía Vergara
Duração: 86 min.

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