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Crítica | Encontros (2021)

As complicações da juventude sob a câmera rigorosa de Hong Sang-soo.

por Gabriel Zupiroli
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Hong Sang-soo é um diretor que, em seus últimos trabalhos, tem adotado uma postura muito madura em relação à feitura cinematográfica, como se fizesse filmes que, ao mesmo tempo em que são “desinteressados” – no sentido de não propor uma dinâmica estética radical e se reduzir a meros “retratos” -, soam também como objetos de uma proposta sólida e completa, como partes de um estudo dirigido e coordenado pautado por certas ideias. Ideias estas que podem variar, em certo sentido, mas que, no geral, não se distanciam da representação de situações cotidianas envolvendo sentimentos humanos e como lidar com eles chegando a certos limites. Encontros, premiado no Festival de Berlim como melhor roteiro, aprofunda ainda mais nesse estudo, chegando a um patamar de exemplo metodológico e consciente do que o diretor se propõe a fazer através de certos elementos, como a divisão em capítulos.

Assim, trata-se de um filme metódico, um filme rígido dentro desta ideia toda de capturar uma situação e trabalhar o que resulta dela dentro de uma obra. Entretanto, a forma com que Sang-soo lida com estas questões cria uma interessante situação paradoxal: ao passo que a estrutura exibe esse rigor na maneira de moldar a narrativa – com sua tradicional câmera voyeur e as elipses -, o que é contado em si procura sempre um aspecto de simplicidade e conforto, criando uma curiosa contradição entre o objeto dito e a forma de dizer.

A narrativa, em si, é muito simples: em três capítulos localizados em uma progressão temporal, acompanhamos um jovem que lida com algumas questões de sua vida, como a relação com o pai, o distanciamento da namorada que viaja ao exterior e a desistência de uma breve carreira de ator. Dessa forma, Sang-soo parece interessado em trazer ao espectador um recorte muito sereno dessas complexas questões que perpassam o universo da juventude, mas não exatamente de sua ocorrência em si, e sim especialmente das consequências refletidas nas relações humanas. O cineasta utiliza, portanto, um sistema de elipses narrativas que anula da ciência do espectador toda a materialidade do conflito e traduz em tela os resultados destes através da forma como o jovem se relaciona com os outros ao redor. Isso contribui definitivamente para trazer à obra uma aura sutil, leve e, como dito anteriormente, desinteressada, que não se debruça sobre a dramaticidade dos problemas em si, mas sim das amargas consequências das escolhas humanas.

Esses “retratos” contrastam de maneira esplêndida com a rigidez da forma, pois essa tensão entre elementos é o que justifica uma obra que procura justamente capturar essa tradicional fase de confrontos. Mas os personagens jovens de Sang-soo, ironicamente, nunca se adequam a esse fogo, e sim tendem a se comportar de maneira tranquila em relação aos acontecimentos, como se concordassem com aquilo que o filme quer dizer. Na verdade, é ainda mais interessante a maneira como o cineasta retrata as figuras velhas como detentoras desse fogo explosivo, como se portadoras de uma frustração da qual os jovens ainda não são conscientes. Temendo justamente esse confronto com o futuro, os adultos aqui encarnam uma preocupação que se choca diretamente com a posição tranquila dos que confiam demais em si.

Encontros se encaixa perfeitamente em meio aos recentes trabalhos do diretor, ainda que com algumas diferenças – principalmente temáticas – em relação a eles. Captura muito bem alguns sentimentos relacionados a certos momentos da vida que, encaixados sob o rigor formal e desinteressado do cineasta, criam uma curiosa tensão que serve perfeitamente aos seus estudos. É, ao fim, mais um bom filme do grande artista sul-coreano que é Hong Sang-soo, um dos mais profícuos dos tempos atuais.

Encontros (Introduction | Inteurodeoksyeon) – Coréia do Sul, 2021
Direção: Hong Sang-soo
Roteiro: Hong Sang-soo
Elenco: Shin Seok-hoo, Park Mi-so, Kim Young-ho, Ye Ji-won, Ki Joo-bong, Seo Young-hwa, Kim Min-hee, Cho Yun-hee, Ha Seong-guk
Duração: 66 min.

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