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Crítica | Enigmas de Um Crime

Símbolos e equações numa trama sobre crimes e matemática.

por Leonardo Campos
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Pistas para todos os lados, mensagens cifradas, informações transformadas em equações e fórmulas e clima de mistério onde qualquer um dos personagens pode ser a próxima vítima de um assassino perigoso. Eis o clima de Enigmas de Um Crime. Ao longo de seus 108 minutos, a narrativa desenvolve um painel de personagens envoltos numa redoma de crimes matematicamente calculados. Coprodução entre Espanha, França e Inglaterra, dirigida por Alex de Iglesias, o filme abre de maneira eficiente, com uma cena de conflitos numa guerra, tendo em seu destaque um personagem que realiza anotações em um caderno. Passada esta cena, a narrativa se desloca para 1993. Arthur Seldom (John Hurt), um matemático renomado, autor de diversos livros na área, ministra uma palestra em meio ao auditório lotado. Sua fala traça especificações sobre o personagem contemplado nas cenas da batalha exibida, um filósofo em meio ao caos.

A ilustração, didática para o que é apresentado durante a aula, embasa o tema central do encontro: o conceito de verdade para a filosofia. Mas, afinal, uma verdade da sociedade é algo para ser discutido? O que é uma verdade? Será possível uma verdade além da objetividade da Matemática? Eis as tantas questões sugeridas no auditório deste professor cheio de si, pleno, arrogante, mas ciente do potencial de suas afirmações. As anotações deste mencionado caderno apontavam que não há verdade fora da matemática. Corta para Martin (Elijah Wood), jovem estudante interessado em desenvolver a sua tese de doutorado com o professor em questão. Na travessia realizada num sofisticado trem, ele se desloca para alugar um quarto na cidade onde viverá emoções nunca antes ocorridas em sua breve existência. Ao chegar, encontra a Sra. Eagleton (Anna Massey), personagem que irá lhe conceder o espaço de repouso e estudos.

Lá o jovem também conhece a misteriosa Beth (Julie Cox), filha da senhora responsável por alugar o canto para Martin viver as suas novas experiências. Interessante observar que o realizador, ao adaptar o romance homônimo de Guillermo Martinez para o cinema, realiza uma tradução cheia de detalhismo, em especial, nesta cena de encontro entre os três personagens. Diversas informações são expostas por meio dos planos sequenciais de Kiko de la Rica, diretor de fotografia, dono de um excelente trabalho na composição das imagens, assertivo na contemplação dos elementos estruturados pelo design de produção. Junto ao envolvente clima disposto pela textura percussiva de Roque Baños, Enigmas de Um Crime entrega entretenimento e reflexões em doses equilibradas quase a todo instante, mesmo que algumas passagens caiam na monotonia e criem instabilidades no fluxo narrativo. Ocorre poucas vezes, mas é notório.

De volta aos acontecimentos: Martin logo conhece o professor e juntos, precisarão unificar as suas habilidades e competências para resolucionar matematicamente os crimes estabelecidos em Oxford. Quem será que matou a Sra. Eagleton e está planejando cometer outros assassinatos? Será o estranho Podorov (Burn Gorman), um estudante russo com aparentes problemas de desordem psíquica? Ou o professor que almeja comprovar uma tese por meio destes crimes misteriosos? Há também a chance de ser a filha da Sra. Eagleton, afinal, elas não se dão bem e matar outras pessoas poderia ser uma maneira de despistar os investigadores. Quem sabe, o novato Martin, interessado nos assassinatos como material para os desdobramentos de sua tese de doutorado? Para descobrir, o espectador obviamente precisa ir até o final.

Em linhas gerais, Enigmas de Um Crime é uma narrativa sobre reflexões acerca da teoria e da prática. Há validade nas concepções teóricas sobre algo quando sua estrutura não possui validade para a prática? Moral, ciência e filosofia, em convergência, se transformam em combustível para os conflitos dramáticos desta produção curiosa, guiada por diversas referências ao campo filosófico da matemática. Símbolos matemáticos num bilhete, idas e vindas para a biblioteca, pistas falsas e sensação de perigo constante demarcam o desenvolvimento deste suspense estiloso, adequadamente dirigido, experiência estética que tal como mencionado, só perde o fôlego em algumas passagens, talvez pelo tempo de duração um pouco além do necessário, mas ainda assim, é um filme para ser consumido pacientemente, contemplado pela sua visualidade deslumbrante, diálogos deliciosamente pernósticos e elenco dedicado.

Enigmas de Um Crime (The Oxford Murders) — Espanha/França/Reino Unido, 2007
Direção: Alex de la Iglesia
Roteiro: Alex de la Iglesia, Jorge Guerricaechevarría
Elenco: Elijah Wood, John Hurt, Leonor Watling, Julie Cox, Jim Carter, Alex Cox, Burn Gorman, Dominique Pinon, Anna Massey
Duração: 108 min.

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