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Crítica | Escoteiros Mirins: Quem Salva o São-Bernardo? e Generais de Dez Estrelas

As duas primeiras aventuras dos Escoteiros Mirins, por Carl Barks.

por Luiz Santiago
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Criados pelo genial Carl Barks, os Escoteiros Mirins fizeram a sua estreia nas páginas da Walt Disney’s Comics and Stories 125, em fevereiro de 1951. Neste presente compilado, trago a crítica para esta primeira aventura do grupo dos sobrinhos do Pato Donald e também para a segunda história com eles, intitulada Generais de Dez Estrelas, igualmente publicada em 1951. Você já leu alguma dessas histórias? O que achou delas? Gosta dos Escoteiros Mirins? Confira as duas críticas abaixo e deixe os seus comentários ao final da postagem!

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E Quem Salva o São-Bernardo?

Nesta primeira aparição dos Escoteiros Mirins (The Junior Woodchucks of the World) nas HQs, temos a união de três criações dos quadrinhos Disney nos EUA que foram lançadas na década de 1930, abrindo futuramente um Universo de aventuras que tinha as crianças como protagonistas e temas ecológicos, elementos de educação moral, de responsabilidade social e comunitária e também de sobrevivência, cabendo aí os mais diversos facilitadores da vida e conhecimentos que podem ajudar alguém em situações de necessidade. A mais velha dessas criações é o Pato Donald, que apareceu pela primeira vez nas HQs em 1934, nas páginas dominicais de jornais, com a saga A Galinha Sábia (adaptação do curta-metragem The Wise Little Hen),  escrita por Ted Osborne e desenhada por Al Taliaferro.

Depois, tivemos a criação de Huguinho, Zezinho e Luisinho, que fizeram a sua estreia nos quadrinhos em Os Sobrinhos do Donald, uma historinha curta dos jornais dominicais publicada em 17 de outubro de 1937, escrita e desenhada pela mesma dupla que trouxe o Donald para as tiras dominicais. E por fim, a criação do cachorro Bolívar em Azares do Pato Donald, publicada como tira de jornal em 17 de março de 1938, com texto de Homer Brightman e arte de Taliaferro. O que o grande e inesquecível mago dos quadrinhos americanos, Carl Barks, faz nestas 10 páginas de E Quem Salva o São-Bernardo?, é juntar essas criações dos anos 30 e dar a elas uma unidade puramente aventureira, onde os meninos precisam aprender ou apresentar algo e os adultos normalmente aparecem como resistentes às mudanças ou, de alguma forma, atrapalhadores do que as crianças querem alcançar.

Nesta estreia, os Escoteiros Mirins querem prestar uma prova para receber a patente de Brigadeiros Generais, e vão fazer isso após muitos dias treinando Bolívar, o cão São Bernardo de Donald, para salvar alguém perdido no gelo. E é claro que alguma coisa precisava dar errado da maneira mais orgânica possível — Barks era um exímio escritor de situações malucas que faziam total sentido para o Universo que explorava, mas também para algumas particularidades que temos no mundo real. Um exemplo está aqui nessa história: o São Bernardo de Donald não gosta de neve, porque não gosta de ficar com as patas molhadas. E qualquer pessoa que já teve cães sabe que nem sempre eles se comportam ou possuem um temperamento que podemos dizer que são “típicos da raça“.

A situação fica séria para Donald e o Comandante dos meninos, quando são soterrados por uma avalanche. O elemento cômico aqui é equilibrado: consegue nos fazer dar risada, mas não descaracteriza a história, não tirando da situação o seu necessário caráter sério. Isso reforça, inclusive, a operação de resgate, que não é perfeita e não prova exatamente o bom treinamento do cachorro, mas consegue fazer o que deveria fazer: salvar vidas de pessoas perdidas no gelo. Uma daquelas situações em que, pelo menos na ficção, as motivações não importam. O que importa é que todos ficaram bem e os prêmios foram dados para os Escoteiros Mirins, que subiram na linha hierárquica de seu grupo. Esse ponto, aliás, revela um outro aspecto que também encontramos nas histórias de Barks para os Junior Woodchucks: ele ironiza e critica alguns comportamentos e exigências de certas organizações “inocentes e formativas” que temos em nosso mundo real.

Operation St. Bernard — EUA, fevereiro de 1951
Código da História: W WDC 125-02
Publicação original: Walt Disney’s Comics and Stories 125
Editora original: Dell
No Brasil: Tio Patinhas (Abril) 74, O Pato Donald (Abril) 1700, Disney Especial (1ª Série) 129, O Melhor da Disney: As Obras Completas de Carl Barks 26, Escoteiros Mirins Sempre Alerta 1, Disney de Luxo 12, Coleção Carl Barks Definitiva 10
Roteiro: Carl Barks
Arte: Carl Barks
Capa original: Bob Grant
10 páginas

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Generais de Dez Estrelas

Em sua segunda aventura para os Escoteiros Mirins, Barks seguiu explorando a vontade dos meninos em conseguir uma promoção. Lançada apenas seis meses depois de E Quem Salva o São-Bernardo?, esta Generais de Dez Estrelas coloca o Pato Donald em uma situação curiosa de adulto que quer ajudar mas só atrapalha — algo que destaquei no texto da história anterior. Como o protagonismo das aventuras dos Junior Woodchucks deve ser dos mais jovens, o autor procura constantemente elencar o conflito de gerações, opondo não apenas diferentes formas de pensar, mas também de fazer as coisas. E nesse caso, vemos até uma posição diferente da esperada, porque Donald diz ter feito parte dos “Cabeçudos” — um grupo de escoteiros de sua geração –, e por isso se acha apto a “ajudar” os meninos a construir as coisas precisam para a prova de novas medalhas: um arco e flecha e uma canoa. A prova do terceiro escoteiro é de salvamento de pessoas que estão se afogando. O problema é que ter sido um “Cabeçudo” parece não ter servido para dar a Donald muita habilidade com as coisas.

Os desenhos de Barks verdadeiramente brilham nessa história, pois ele ressalta as expressões dos meninos e de Donald ao longo de todo o processo de manufatura dos objetos, de modo que o leitor dá risada das caras feias das crianças e do adulto em cena, além das caras de desconfiança e de zombaria. Somado a isso também temos os diálogos rápidos e certeiros (muitos cheios de ironia), dentro da simplicidade que a história propõe. Muita gente tem apenas o costume de destacar a boa construção de um roteiro quando tudo é muito grandioso e cheio de braços dramáticos, consequências imensas e afins. Mas um roteiro simples e bem escrito é algo difícil de se fazer, porque o autor está jogando no campo mais conhecido de todos e, ainda assim, consegue tirar dele muitas coisas boas, expondo-as quase como se fossem novidades para nós.

Também salta aos olhos aqui a honestidade dos meninos e a responsabilidade diante das tarefas que precisam cumprir. O tempo inteiro eles rejeitam a ajuda do tio, porque as regras para a criação desses objetos proíbem qualquer tipo de interferência externa. E no final, as crianças é que estão certas, fazendo o que devem fazer conforme as regras. Pelo visto, o método dos “Cabeçudos” não era lá dos melhores, e o mesmo que Donald não admita isso para os meninos, no último quadro, sua cara feia e corada diz tudo por dele. O que me faz pensar aqui é a quantidade de estrelas e medalhas que essas crianças já ganharam e ainda deveriam ganhar nos anos seguintes. Haja espaço no uniforme e haja lugar para guardar tudo isso, não é não?

Ten-Star Generals — EUA, setembro de 1951
Código da História: W WDC 132-02
Publicação original: Walt Disney’s Comics and Stories 132
Editora original: Dell
No Brasil: Tio Patinhas (Abril) 73, O Pato Donald (Abril) 1616, Escoteiros Mirins 1, Disney Especial (1ª Série) 129, O Melhor da Disney: As Obras Completas de Carl Barks 26, Disney de Luxo 12, Coleção Carl Barks Definitiva 10
Roteiro: Carl Barks
Arte: Carl Barks
Capa original: Carl Barks
10 páginas

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