Home FilmesCríticasCatálogosCrítica | Esquizofrenia (1980)

Crítica | Esquizofrenia (1980)

Um slasher genuíno para a década de 1980: mortes brutais e violência contra mulheres incautas.

por Leonardo Campos
13 views

Com muitos traços estilísticos do giallo, subgênero italiano de psicopatas focados em assassinatos violentos perpetuados por figuras misteriosas, reveladas apenas no desfecho das narrativas, Esquizofrenia é um slasher cheio de potencial, mas que desperdiça a sua proposta com, num perdão em gargalhadas ao leitor pelo trocadilho cretino, exercer a sua história com personagens e desenvolvimento absurdamente esquizofrênicos. Lançado em 1980, com direção de David Paulsen, cineasta que toma como ponto de partida, o roteiro escrito por ele mesmo, o filme é dominado por cenas esquisitas: é um pai que observa a filha nua se trocando, o habitual momento sexual de determinados personagens que vão ser estraçalhados por uma afiada arma branca, passagens acompanhadas pela trilha sonora também “esquizofrênica” de Craig Huxley, textura percussiva que aposta num clima de horror, mas parece tripudiar do que nos apresenta. Sem máscara, mas com luvas pretas e um carro para facilitar o estabelecimento da lista de vítimas que vão compor a trilha de cadáveres da trama, o assassino aqui é bastante impiedoso.

Em seus 89 minutos de desenvolvimento, Esquizofrenia segue os passos de Julie Craffet, interpretada por Marianna Hill, uma colunista que frequenta um grupo de terapia liderado pelo Dr. Pieter Fales (Klaus Kinski), psicólogo alemão que realiza as suas sessões em sua espaçosa e confortável casa numa região distante da cidade, local dividido com Alisson (Donna Wilkes). Desconfortável não apenas pelo ambiente misógino em que trabalha, a jornalista também precisa enfrentar as ameaças que começa a receber: cartas com colagens de palavras de jornais e revistas, todas em tons ameaçadores, alegando que em algum momento, ela será morta. E, para piorar, as frequentadoras do grupo terapêutico começam a morrer de forma bastante violenta, algo que deixa todos em estado de alerta e em busca desse maníaco que aniquila mulheres com muito ódio, uma característica atribuída pela critica ao subgênero slasher na época.

Como já destacado em outros textos do subgênero, os filmes slasher, caracterizados por um assassino em série que persegue e elimina suas vítimas de maneiras brutalmente violentas, frequentemente apresentam um padrão recorrente nas interações entre os personagens, especialmente em relação às mulheres. Nas tramas em questão, tal como em Esquizofrenia, a violência não é apenas um aspecto acessório, mas algo central para a narrativa. As cenas de assassinato são muitas vezes estilizadas, com um enfoque na forma gráfica da brutalidade. A misoginia é um tema recorrente nas críticas a esse subgênero. Muitas vezes, as mulheres em filmes slasher são retratadas de forma estereotipada, assumindo os papéis de “virgem”, “esposa” ou “promíscua”, com suas vidas tomadas como uma forma de entretenimento para o público.

Esteticamente, Esquizofrenia é um filme que funciona dentro de suas limitações dramáticas. Não é preciso o uso de muitos efeitos visuais e especiais para nos apresentar as cenas de maior tensão, aquelas que envolvem os assassinatos. Nesse caso, a direção de fotografia de Norman Leigh cumpre adequadamente a sua função por meio de ângulos e enquadramentos que reforçam a periculosidade da figura do assassino, juntamente ao pavor das vítimas diante das armas brancas afiadas, responsáveis por mortes dolorosas. A tesoura é uma das marcas registradas daquele que executa, em especial, mulheres. A maquiagem de Joe Quinlivan coloca na tela os corpos ensanguentados convincentes, numa equipe de trabalho que se esforçou bastante para entregar elementos visuais interessantes, mas que não fazem a diferença diante do roteiro dominado por excessos. A reviravolta final não possui um posicionamento climático, a famosa perseguição de desfecho, geralmente as mais intensas, também é morna, restando ao espectador aceitar as explicações para as motivações dos assassinatos que, com muita paciência de nossa parte, exige um completo exercício de suspensão da descrença.

É, em linhas gerais, um slasher com alguns bons momentos, mas falho em sua execução.

Esquizofrenia (Schizoid, EUA – 1980)
Direção: David Paulsen
Roteiro: David Paulsen
Elenco: Klaus Kinski, Donna Wilkes, Marianna Hill, Craig Wasson, Christopher Lloyd, Kiva Lawrence, Flo Lawrence, Claude Duvernoy, Joe Regalbuto
Duração: 89 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais