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Crítica | Essa Pequena é uma Parada

A confusão das mil maletas.

por Luiz Santiago
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Peter Bogdanovich tinha uma personalidade muitíssimo curiosa quando se tratava da relação com o cinema. Por um lado, parecia uma criança apaixonada pelos brinquedos caros que tinha em mãos, e tanto procurava divertir-se o máximo possível com eles, quanto queria experimentar coisas novas. Por outro, era um cinéfilo ávido, um pesquisador e apreciador de filmes e diretores que olhava de maneira mais formal para o exercício cinematográfico, todavia, não por muito tempo, já que não conseguia deixar de contar uma piada a cada par de minutos.

Neste seu quinto filme, Essa Pequena é uma Parada (1972), o lado da diversão do realizador já começa no título. No original, o filme se chama What’s Up, Doc?, que é uma aproximação que ele fez, propositalmente, com Bringing Up Baby (Levada da Breca), inclusive dando munição para os detratores da obra. E exatamente como no filme de Howard Hawks, estamos aqui diante de uma comédia maluca (screwball comedy), tradicionalmente marcada por grande destaque para a personagem feminina e uma mistura de ação constante, algum tipo de troca em cena (nomes, pessoas, objetos) e, claro, um forte elemento romântico com indicações sexuais que podem ser literais (expostas em diálogos ou narração) ou visuais, que são as mais interessantes. É verdade que a comédia hawksiana é bastante superior ao presente filme, mas o espelho que Bogdanovich procura fazer da clássica película de um de seus diretores favoritos, certamente se faz sentir.

O destaque feminino está em Barbra Streisand, a “pequena que é uma parada” do título nacional. Ao dar vida a Judy Maxwell, Streisand traz à tona muito mais o seu charme e sua versatilidade no controle da fala, servindo de principal mola para que toda a situação ao seu redor se modifique. Embora seja uma escolha dramatúrgica que enjoe um pouco, porque não se altera ao longo do filme (bem… à exceção das nuances românticas, onde a sensualidade se eleva), é fato que a obra não precisava de algo muito diferente disso. Nas cenas em que está presente, a atriz provoca ao máximo o personagem de Ryan O’Neal (aliás, a abordagem do diretor para essa provocação é aplaudível, com ele esticando a corda até o momento certo, onde o beijo acontece após Streisand cantar um trecho de As Time Goes By) e diz ou faz coisas que empurram outros personagens até os seus limites.

Inteligentemente, o roteiro introduz a confusão das maletas — o “ingrediente de troca” que faz a comédia — já como premissa, então o espectador não fica procurando qual o ponto que a obra pretende atingir. Sabemos de início para onde as coisas vão e, no meio do caminho, somos bombardeados pelas mais absurdas e inesperadas situações, algumas mais engraçadas e bem executadas do que outras, é verdade, mas todas conseguindo trazer algo diferente para o longa — e aqui quero destacar o fantástico trabalho de direção durante a cena de perseguição. É um dos momentos mais cheios de gags clássicas à la Buster Keaton (outra referência de Bogdanovich, por sinal) e que faz a perfeita ponte do desenvolvimento nonsense da história para o clímax, que não se furta em trazer as suas próprias surpresas. Deliciosamente caótico, Essa Pequena é uma Parada toca nos pontos fracos de uma relação desgastada e mostra, através do caos, aquilo que os protagonistas realmente queriam fazer, mas não tinham coragem de dar o passo na direção certa.

Essa Pequena é uma Parada (What’s Up, Doc?) — EUA, 1972
Direção: Peter Bogdanovich
Roteiro: Peter Bogdanovich, Buck Henry, David Newman, Robert Benton
Elenco: Barbra Streisand, Ryan O’Neal, Madeline Kahn, Kenneth Mars, Austin Pendleton, Michael Murphy, Philip Roth, Sorrell Booke, Stefan Gierasch, Mabel Albertson, Liam Dunn, John Hillerman, George Morfogen, Graham Jarvis, Randy Quaid
Duração: 94 min.

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