Home DiversosCrítica | Estratégia de Saída (Diários de um Robô-Assassino #4), de Martha Wells

Crítica | Estratégia de Saída (Diários de um Robô-Assassino #4), de Martha Wells

O fim do primeiro grande arco de Murderbot.

por Ritter Fan
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Quarto livro da “saga” de Murderbot (Robô-Assassino por aqui) e terceiro originalmente lançado somente em 2018, Estratégia de Saída é, também, o final de um grande arco narrativo, o primeiro com o personagem e seus protegidos – e amigos, apesar de ele hesitar em usar essa palavra – humanos que ele conheceu em Alerta Vermelho e, depois de uma jornada de autodescoberta em Condição Artificial, voltou a ajudar em Protocolo Rebelde. Claro que Martha Wells optou por escrever novelas e não romances completos, com uma quantidade de páginas menor, o que facilita sua produção, mas cada história de seu fascinante ciborgue autodepreciativo que adora ficar quieto em seu canto assistindo séries de TV é uma história completa que, reunidas, contam uma narrativa única que se encerra aqui, com a Dra. Mensah, com quem Murderbot tem uma relação especial, sendo sequestrada pela maligna GrayCris depois de ser acusada de espionagem corporativa, e Murderbot, claro, partindo ao seu resgate em seu caminho de volta da missão anterior em que conseguiu reunir provas fortes contra a entidade que fica permanentemente nas sombras.

Na verdade, a relação de causalidade entre o que Murderbot achou em Milu, conforme narrado em Protocolo Rebelde, e o sequestro que acontece em Estratégia de Saída é algo que imediatamente vem à mente(?) do cada vez menos artificial ser artificial cuja personalidade rabugenta é incrivelmente bem construída por Wells. Trata-se, claro, de um plano para atrair o ciborgue que, em busca de liberdade, hackeou seu próprio Módulo de Governança, para TranRollinHyfa, o centro corporativo da GrayCris, de forma a evitar que ele revele os dados condenatórias que adquiriu. Ao lado de Ratthi, Pin-Lee e Gurathin, demais membros da expedição original vista em Alerta Vermelho, Murderbot cria um complicado e arriscado plano para não só salvar Mensah, como para acabar de vez com a ameaça representada pela empresa vilã, o que implica em eles irem até TranRollinHyfa e encenarem o pagamento do resgate pedido de forma que o androide possa fazer o que  faz de melhor.

De todas as quatro novelas, Estratégia de Saída talvez seja a mais carregada de ação, algo natural para o “último capítulo de uma história” (as aspas justificam-se, pois, se essa história específica acaba, a de Murderbot continua nos três livros – até agora – seguintes) e é perfeitamente razoável supor que, por isso, é a que menos tem espaço para desenvolver o protagonista. E essa suposição está correta, mas eu não diria que há relação de causalidade estrita entre mais ação e menos desenvolvimento, pois a autora vinha construindo com cuidado seu sensacional personagem, primeiro despertando seu interesse genuíno pelos humanos “programado” para proteger, depois levando-o a fazer upgrades – cortesia de A.R.T. – para fisicamente parecer menos uma Unidade de Segurança e mais humano, e seguida para perceber que há sim amizade genuína entre seres artificiais e de carne e osso, pelo que sua transformação em uma “máquina de guerra” no derradeiro capítulo de sua luta contra a GrayCris faz absolutamente todo sentido, especialmente considerando que a vida da Dra. Mensah está em perigo.

Mais do que isso, Wells em momento algum descaracteriza sua criação. Murderbot ainda é Murderbot. Ele ainda tem dúvidas sobre o que – ou quem – ele é, qual é seu lugar no mundo e o que ele deve fazer de sua vida. E, claro, ele ainda é fã de séries de TV como forma de se desligar de seu cotidiano, de usufruir de um tempo para si mesmo, para a contemplação de suas dúvidas. O fato de ele mostrar-se capaz de se sacrificar por “seus humanos” é a prova absoluta de que ele talvez tenha chegado ao ápice de sua evolução, de sua constante aproximação da Humanidade, por vezes mostrando-se mais humano do que os humanos. A costura de diálogos internos – ou narração em primeira pessoa – com pancadaria é forte, coesa e funciona muito bem ao longo de toda a novela, com Estratégia de Saída servindo de clímax explosivo de “filmes de ação”, mas também dessa condição híbrida do protagonista, que chega até mesmo a temer a compreensão daquilo que realmente pode chegar a ser. O quarto livro da saga de Murderbot vem para encerrar um arco narrativo, sem dúvida, mas, mais do que isso, serve para afastar qualquer dúvida de que o protagonista é um dos androides mais bacanas e bem desenvolvidos da literatura moderna.

Estratégia de Saída (Exit Strategy – EUA, 2018)
Autoria: Martha Wells
Editora original: Tor.com
Data original de publicação: 02 de outubro de 2018
Páginas: 163

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