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Crítica | “Éter” – Scalene

por Handerson Ornelas
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Brasília definitivamente foi um lugar importante para o rock nacional. Celeiro de várias bandas relevantes da década de 80, mesmo após tantas mudanças hoje a cidade ainda tenta manter esse título por meio de bandas como Scalene, que vem conseguindo uma notoriedade nacional através do programa Superstar e festivais como Lollapalloza. É no meio desse hype recebido durante o programa que o grupo lança seu segundo disco, Éter.

O grande acerto de Scalene em seu novo trabalho é ser bem focado em seu objetivo. O título é inspirado no “quinto elemento” chamado de Éter por alguns filósofos romanos, o qual seria responsável por preencher o vazio no universo e harmonizar os outros (água, fogo, terra e ar). E é isso que o disco aborda: os vazios que precisam ser preenchidos em cada ser humano, o que precisa ser harmonizado.

Essa ideia desse “vazio” abordado segue muito bem nas ótimas letras e, unido a elas, os arranjos. Esse vazio é apresentado na faixa de abertura, Sublimação, apresentando a ideia de solidão e necessidade de complemento. Essa solidão tende a ser preenchida de maneiras arriscadas, seja drogas (Gravidade e Alter Ego), raiva (Histeria), loucura (Loucure-se) ou o inteiro depósito de confiança em alguém (Tiro Cego). Tudo isso tende a levar ao desespero, abordagem da faixa Naufrágio, que mistura peso com um lado melódico bem forte. No fim, ainda há aquela pergunta feita por todos e que fecha a ideia do álbum através de Legado: “Tanto quero, tanto busco/ Mas quando acabar/ O que deixo aqui?”. É nesse aspecto centrado em um objetivo e fazendo um disco bem homogênio que Scalene sai bastante vitorioso, já que não é toda banda que entende o significado de um álbum.

Se por um lado a abordagem sonora de Scalene não é transgressora, por outro é gratificante poder ver uma banda brasileira pegar as influências de Queens Of Stone Age, Radiohead, Muse e fazer uma banda nacional nesses moldes, algo não tão visto por aqui (muito menos no mainstream). Tudo isso com grande competência dos membros que são bons instrumentistas (interessante ressaltar aqui a explosão de Philipe Makako na bateria), suas guitarras pesadas bem colocadas e o excelente vocal de Gustavo Bertoni. Ainda há um flerte bem leve com um tom quase gospel, lembrando sonoridade de bandas como Iahweh e Oficina G3. Aliás, essa característica parece mais forte na letra e na doce melodia introdutória de Terra, que conta inclusive com a participação de Mauro Henrique, vocalista do Oficina G3.

Scalene cria um álbum muito bem trabalhado e se apresenta como um bom sinal para o futuro do rock em terras tupiniquins, abrindo a possibilidade de assumir um lugar importante no mainstream brasileiro que há anos se vê com pouquíssimos novos grupos do estilo. Há uma falta de bandas que saibam unir diferentes fãs, como tantas bandas nacionais oitentistas fizeram. E o que se vê é que, definitivamente, Scalene pode ajudar a suprir essa demanda.

Aumenta!: Sublimação
Diminui!:
Minha preferida: Gravidade

Éter
Artista: Scalene
País: Brasil
Gravadora: Independente
Lançamento: 20 de maio de 2015
Estilo: Rock Alternativo

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