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Crítica | Eu e Orson Welles

O novato e a lenda.

por Kevin Rick
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Na cidade de Nova York, em 1937, o estudante de 17 anos do ensino médio Richard Samuels (Zac Efron) conhece o charmoso Orson Welles (Christian McKay), que inesperadamente lhe oferece o papel de Lucius em sua produção Caesar para o Teatro Mercury. Rapidamente, Samuels se vê atraído pelo mundo artístico e pelo enorme talento de Welles, ainda em início de carreira, mas já com certo renome e sucesso. Enquanto trabalhava na produção, o jovem protagonista acaba iniciando um romance com Sonja Jones (Claire Danes), ambiciosa assistente de Welles.

A partir dessa premissa, Richard Linklater desenvolve a dramatização da vida teatral: os longos ensaios; a iluminação que espelha a peça; as pequenas intrigas e especulações; o comportamento e o ego de suas figuras, da arrogância de um diretor até os sonhos da juventude; e, claro, o palco, a apresentação e o público. Linklater tem uma tangibilidade e uma naturalidade muito grande para transportar a audiência para o teatro através de encenações cuidadosas que nos jogam numa história de bastidores. Existe até uma certa qualidade fabular, buscada diretamente da Hollywood Clássica e seu eterno romance com a vida e o meio artístico, algo reforçado pelo estupendo design de produção do drama de época.

Dessa forma, Eu e Orson Welles se torna uma história sobre a descoberta e o fascínio de um adolescente se esbarrando em um universo praticamente mágico. Zac Efron é limitado e sofre para deixar uma impressão marcante como Samuels, mas há algo interessantemente idealista e romântico em sua performance e na própria composição do personagem que se torna fácil de torcer pelo jovem e de acompanhar seu deslumbre. Considerando que o roteiro empresta uma pegada de coming-of-age ao enredo e como Linklater tem habilidade e experiência com esse tipo de narrativa, o arco do garoto é conduzido de maneira agradável e até com toques cômicos, como seu encontro sexual com Sonja.

Mas não se enganem, o ponto alto da produção é o próprio Orson Welles. Gênio e arrogante, puro artista e totalmente excêntrico, o personagem é simplesmente único, assim como o homem da vida real. Seus filmes, suas performances e até suas entrevistas carregavam uma certa grandiosidade. O longa de Linklater entende essa presença de Welles, dominando cada sala que entra, cada palco que atua ou canta, e cada pessoa a seu redor que deseja pegar carona na jornada, seja para bem ou para mal. Christian McKay faz uma grande representação do artista, construindo de forma dinâmica e carismática a simpatia e a prepotência de um grande homem, com o roteiro nem romantizando e nem condenando o comportamento do personagem.

Eu e Orson Welles é, como o título bem diz, o encontro entre um desconhecido e uma lenda. Uma história sobre o choque do ordinário com o fantástico. Samuels está sempre sorridente e estupefato com a oportunidade de trabalhar com um grande artista em uma grande peça, assim como qualquer fã de arte estaria em sua posição. Zac Efron não tem habilidade para trazer dimensão ou nuances ao personagem, mas Linklater conduz uma produção que celebra o teatro e encena seus bastidores, dentro de uma história cheia de encanto e delicadeza entre os clichês de jornadas de amadurecimento.

Eu e Orson Welles (Me and Orson Welles) – EUA, 2009
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Holly Gent, Vincent Palmo Jr. (baseado no livro homônimo, de Robert Kaplow)
Elenco: Zac Efron, Christian McKay, Claire Danes, Ben Chaplin
Duração: 99 min.

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