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Crítica | Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado (2025)

Na era do personagem legado e da retomada de clássicos, o assassino do gancho volta em nova versão para aterrorizar novas plateias e nostalgia dos grisalhos.

por Leonardo Campos
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Uma grande decepção. Assim foi a minha experiência diante da aguardada retomada ao universo de Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado. E, para quem gostou e discorda, vamos aos argumentos. Quem escreve, aqui, é uma pessoa que viveu a dinâmica do slasher desde o final dos anos 1980 e se tornou um rato das videolocadoras, alugando numerosas vezes, tanto a versão desta narrativa de 1997 e como Pânico, fenômenos da época. Logo depois, veio o poder aquisitivo diante dos primeiros trabalhos remunerados. Assim, se estabeleceu um acordo com o dono do estabelecimento de locação para compra do VHS, anos depois, a possibilidade de adquirir o DVD. Mais atualmente, a trama uma das ilustrações de um painel de gosto pessoal, bem diante da mesa onde escrevo este texto. O novo trailer, assistido algumas vezes, o filme ponto de partida apresentado para amigos que ainda não o conheciam. Enfim, uma jornada que sempre respeitou a história da final girl Julie James, interpretada pela carismática Jennifer Love Hewitt, bem como um apreço pelo enredo, genérico sim, mas desenvolvido com firmeza, com ação, tensão e personagens envolventes, sem precisar de um banho de sangue exagerado.

Além disso, mesmo achando a continuação ruim, Eu Ainda Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado também integra a minha coleção de clássicos modernos de uma juventude recente. Agora, com o reboot lançado para alcançar novas plateias e demonstrar que a era do personagem legado do slasher ainda não acabou, um universo de expande, finalizando a sua história de maneira nostálgica, mas traindo os defensores de seu contexto com afinco. Sim, este novo ingresso na trama do assassino que retorna para vingança após uma tragédia do passado é, tal como eu de fato não esperava, uma produção irregularidade hedionda. Há pouco magnetismo com os novos personagens, as referências ao filme de 1997 são aleatórias, e, para piorar, a adição dos sobreviventes do Massacre de Southport simplesmente não funciona. E não posso dizer que deixei de tentar, combinado, caro leitor? A cada minuto diante da tela, esperava que uma virada ocorresse e o mais do mesmo se tornasse uma caminhada dramática eletrizante, mas isso infelizmente não acontece. Tudo é morno. A reviravolta é exagerada. Um caos.

A nova geração de personagens apresenta um elenco que tenta ser e promissor: Chase Sui Wonders (Ava), Madelyn Cline (Danica), Tyriq Withers (Teddy), Jonah Hauer-King (Milo) e Sarah Pidgeon (Stevie). Ambientado 28 anos após os acontecimentos do primeiro filme, a nova história também se desenrola em Southport, agora transformada em uma sofisticada “Hamptons do Sul”. O cenário reflete uma realidade de luxo e ostentação, com mansões e famílias abastadas, contrastando fortemente com a atmosfera da ilha de pescadores retratada em 1997. Essa mudança no ambiente não apenas atualiza a narrativa, mas também intensifica a sensação de desconforto e mistério, elementos cruciais para o gênero de suspense que até estão em cena, mas são trabalhados sem a devida coesão. A sensação que se tem é a de que os responsáveis pelo argumento, roteiro e direção são cinéfilos que viveram o fenômeno anterior, e, como fãs, querem colocar todo tipo de referência textual e visual possível, sem pensar adequadamente na plausibilidade da trama. Adição de personagens? Temos, mas inúteis: são todos colocados por perto para morrer junto com aqueles que são parte do plano de vingança do antagonista.

Desta vez, a estrutura básica se mantém: o mencionado grupo de jovens sai para se divertir e, num momento de irresponsabilidade de um deles, acabam causando um terrível sinistro de trânsito, ocasionando a morte de uma pessoa até então desconhecida. Agora, é um carro que despenca da sinuosa via de Southport, diferente do atropelamento da produção anterior. Diante deste acontecimento, todos acabam aceitando o voto de silêncio e o apagamento de qualquer envolvimento na situação, pois o pai de um deles possui influencia suficiente na cidade para limpar a cena e criar uma história diferente para a tragédia. Nem todos concordam, mas vida que segue. Colocados num pesadelo traumático, cada um segue seu destino. E um ano se passa.

Assim, a candidata a final girl da vez retorna para a cidade para a festa de casamento de sua melhor amiga. Também envolvida no tenebroso sinistro do ano anterior. E, como já aguardamos, eles recebem um bilhete com a icônica sentença que dá ideia de morte, assim como precisam ver aqueles que estão em seu entorno, morrendo violentamente nas mãos de uma figura macabra com o traje de pescador e seu afiado gancho, antagonista que deixa pelo caminho, não apenas sangue, mas corpos expostos de maneira escalafobética, bem como recadinhos que anunciam as próximas mortes. Desesperados, os envolvidos começam uma investigação, haja vista a incapacidade da polícia em desvendar o mistério por detrás dos ataques de violência que acometem um número maior de vítimas desta vez, diferente do filme de 1997, que não depende de tantos assassinatos assim para se estabelecer como único momento relevante da franquia.

Depois que as coisas começam a ficar ainda mais complicadas, o grupo recorre aos sobreviventes do clássico: Julie James e Ray, interpretado por Freddie Prinze Jr. Eles, agora divorciados, incapacitados de manter uma vida conjugal depois do banho de sangue das jornadas anteriores, se tornam informantes para os novos personagens. O ponto de apoio de quem já cometeu erros em verões anteriores e também já fugiram da mira de um assassino vingativo perigoso. Desperdiçados, os veteranos se tornam marionetes que só consegue ser irregular, e não exatamente péssima, por causa da nostalgia. Para quem curtiu a trama de 1997, há um painel considerável de referências. Menções. Mexer com a nossa memória é adentrar em nossa intimidade e, aqui, os realizadores fazem isso com muito desrespeito. Entre ficar como uma sequência ou se estabelecer como um reboot, o novo Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado se mantém indeciso. É irregular tanto em uma iniciativa quanto na outra.

Devo ser justo e dizer que ao longo de seus 111 minutos, o filme entrega alguns momentos interessantes. A sequência envolvendo um pesadelo resgata Helen Shivers sem precisar forçar ainda mais a barra, a direção de fotografia assinada por Elisha Christian é muito competente, tal como o cuidadoso design de produção de Courtney Andujar e Hillary Andujar, responsáveis por construir espaços que intensificam as cenas de perseguição. Chanda Dancy entrega uma trilha sonora imersiva, mesmo que atrapalhada, algumas vezes, pelo excesso de jumpscare, uma maldição necessária no âmbito do design de som dos filmes de terror. Fora isso, se não tivesse a bizarra brincadeira pós-crédito, esse seria um slasher morno, focado num saudosismo que não se sustenta, mas pelo menos não nos deixa entediado. Mas, Jennifer Kaytin Robinson, em sua postura exibicionista como fã deste universo, bem como também responsável pelo roteiro, resolve deixar um “gancho” para continuação, evidenciando seu excesso de emoção, aqui não suficiente para entregar um produto de entretenimento que respeita o legado do universo que adentra.

Deveria, ao menos, ter assistido ao DVD com a edição comentada do filme de 1997. Assim, não tomaria liberdades tão absurdas.

Se você é um daqueles que não liga para a história, provavelmente vai se divertir bastante. Não diria ser uma narrativa ruim, é apenas (e um tanto) equivocada.

Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer, Estados Unidos – 2025)
Direção: Jennifer Kaytin Robinson
Roteiro: Sam Lansky, Jennifer Kaytin Robinson
Elenco: Jennifer Love Hewit, Freddie Prinze Jr., Madelyn Cline, Chase Sui Wonders, Jonah Hauer-King, Tyriq Withers, Sarah Pidgeon
Billy Campbell, Gabbriette Bechtel, Austin Nichols
Duração: 111 minutos

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