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Crítica | Evangelion: 1.11 Você (não) Está Só

por Kevin Rick
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A mudança faz parte da identidade da franquia Neon Genesis Evangelion, seja a evolução ou a desconstrução de seus temas, narrativas ou personagens. Afinal, se o molde alegórico da série é sempre feito em dicotomias entre nascimento, morte e renascimento, gênese e apocalipse; toda a linguagem cinematográfica de Hideaki Anno se baseia em constantes destruições e reconstruções. Daí a ótima transformação visual (minimalista e épico), tom (otimista e pessimista) e narrativa (pessoal e coletivo) que Anno fez entre a série original e seu filme/desfecho alternativo The End of Evangelion.

Logo, se Anno criou dois tipos de resoluções que conversam com seu público de diferentes formas, a melhor maneira de progressão para o autor é justamente refazer a obra do zero, modificando a história já contada em sua cinessérie Rebuild, que reconta os eventos a partir do começo da animação original. Claro que “modificar” é uma palavra extremamente forte, já que, neste primeiro filme da tetralogia em andamento, Evangelion: 1.11 Você (não) Está Só, nós temos basicamente a mesma história dos seis primeiros episódios da série diluídas na montagem que corta as partes mais cotidianas da narrativa para abrir espaço às batalhas e momentos de clímax.

Confesso ser um porre assistir a mesma história da série, especialmente por ter revisto o show recentemente. Mas, dito isso, a proposta de Anno, assim como em The End of Evangelion, é quase que inteiramente visual. Se no filme de 1997 a experiência procurada era o Apocalipse, aqui, o diretor japonês respalda-se na conquista técnica modernizada para conceber o conceito mais heróico da franquia: um filme realmente sobre Mechas, em que o próprio drama da série é direcionado à batalha e não ao doméstico ou às alegorias, e até mesmo os conflitos de Shinji são feitos a partir de moldes mais genéricos de animes, como a atribulação do “devo/não devo lutar” em um aspecto de pilotagem e medo de combate, do que necessariamente inseguranças e depressões oriundas de questões mais, digamos, humanas, como problema de comunicação e medo de relacionamentos, que são desenvolvidas anteriormente.

É como se Hideaki Anno procurasse o meio entre os extremos de micro e macro que ele fez nas duas obras anteriores, encontrando-o na ação,  tendo como alicerce a evolução técnica. Dessa forma, como parte de uma revisão gráfica deslumbrante, Evangelion: 1.11 Você (não) Está Só é apenas a reorganização de eventos que conhecemos em uma embalagem novinha em folha, detalhada e mais frenética. Para o mérito do diretor, ele realmente consegue construir uma experiência bastante diferente com o mesmo conteúdo, desde o uso de espaços para evidenciar a arquitetura futurista em meio ao frenesi, cores mais ricas que destacam o combate, até a completa saída do típico silêncio da série para o background musical sempre em destaque.

Como todo artista mais interessado em sua forma técnica do que no conteúdo – o que é até estranho de dizer, considerando o trabalho anterior de Anno -, o contexto é o de espetáculo. E, bem, dentro da proposta de “rebuild” que o cineasta imbuiu à franquia em constante redefinição da experiência a cada nova entrada, ele certamente faz algo diferente, até fascinante eu diria, considerando a expansão visual e o comprometimento com algo mais convencionalmente Mecha. Contudo, fica o questionamento se esse filme realmente funciona como obra artística, para além de um simples remaster.

Afinal, se o conteúdo não importa, a montagem corrida da história original totalmente sem sentido – tenho até dó de quem começou a franquia por aqui – não proporciona qualquer elemento diferencial para a experiência do espectador, e todo projeto em si é apenas direcionado à fãs, será que chamar isso de rebuild, ou sequer considerar como algo novo, é possível? Honestamente, eu diria que sim. Hideaki Anno consegue construir toda uma experiência adversa, puxando clichês mais habituais de animes e a atmosfera mais simplória de heroísmo para evocar sua ideia solenemente técnica.

Todavia, diferente não significa bom, pois se teremos que analisar Evangelion: 1.11 Você (não) Está Só como uma obra singular, não podemos fazê-lo apenas como comparação técnica ao original de forma a massagear o ego do fã super feliz em ignorar a história que conhece para vivenciar uma nova experiência técnica. Não, devemos analisar o filme em sua unidade aqui, e nisso ele falha miseravelmente em tudo além da conquista técnica, seja a montagem que destrói arcos de personagens, sequências e diálogos, a total falta de lógica narrativa com os eventos acelerados, até a inexistência de um trama per se, já que apenas temos uma colagem. Uma ótima, e formalmente bem usada, utilização da imagem para construir outro tipo de contexto e atmosfera, mas completamente retrógrado e preguiçoso no resto.

Neon Genesis Evangelion (Shinseiki Evangerion) | Japão, 2007
Direção: Hideaki Anno, Masayuki, Kazuya Tsurumaki
Roteiro: Hideaki Anno, Yoshiki Sakurai
Elenco: Megumi Ogata, Kotono Mitsuishi, Megumi Hayashibara, Yūko Miyamura, Fumihiko Tachiki, Yuriko Yamaguchi, Motomu Kiyokawa, Kōichi Yamadera, Hiro Yūki, Miki Nagasawa, Takehito Koyasu, Akira Ishida, Tomokazu Seki, Tetsuya Iwanaga, Junko Iwao
Duração: 98 min.

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