Home FilmesCríticas Crítica | Exílio (2020)

Crítica | Exílio (2020)

por Iann Jeliel
675 views

Exílio

É necessário ter uma certa noção do contexto local para se aproveitar Exilio como um todo. O thriller psicológico, que flerta com horror e que é centrado no drama de estudo de personagem, consegue ser bem seguro no ambiente sugestivo, embora tenha dificuldades de usar essa sugestão num ambiente não tão bem contextualizado.

Demora um pouco para a premissa instaurar seu centro temático na questão xenofóbica europeia, até lá, a descrição do suspense parece ser uma paranoia desvirtuada de uma especificidade, o que leva a promessa de que em algum momento, o mistério por trás da impressão de perseguição ao protagonista esteja direcionado ao terror, numa das clássicas escaladas de personagens paranoicos que vão enlouquecendo por seguir fielmente suas convicções. Nem lá, nem cá, o roteiro de Visar Morina, que também dirige o longa, parece inicialmente indeciso sobre qual vertente deseja atribuir valor, mas essas aparências iniciais adquirem o formato do jogo sugestivo proposto pela narrativa, olhando para o nível de ameaça que representa a descriminação colocada sobre Xhafer.

Existe uma ambiguidade do drama familiar vivido pelo personagem. Lá estão as pistas de que ele talvez não seja exatamente uma vítima, logo, pode ser perfeitamente o causador de todas as suas complicações no trabalho, seja por incompetência, falso moralismo ou inconsciência de suas ações. Por isso, até acho o recurso de sonhos e alucinações usados durante o percurso bem questionáveis para manter essa ambiguidade. Funciona, mas são o tipo de elemento seguro que cansa um pouco quando não apresenta nada novo, exatamente como é o caso. Especialmente quando a mise-en-scène deixa claro em alguns momentos quando é e quando não é um sonho, enquanto em outros, apenas finge ser apenas um deles, brincando de espertinho para cima do público, o que nunca é legal.

Tirando essa parte cenográfica, os acontecimentos direcionam muito bem a ambiguidade para a conversão da tensão. A meiuca do filme é a mais eficiente nesse sentido, quando Xhafer decide investigar se a mulher dele estava tendo um caso por não reagir sobre as provocações fúnebres que recebe no ambiente do trabalho. Sabemos que ele já a havia traído com a faxineira, mas não sabemos se ela sabe disso; e se sabe, foi isso que a influenciou para um comportamento tão indiferente às ameaças que Xhafer estava recebendo. Basicamente essa dúvida é o que irá mover nossa atenção e existe pistas e peças do tabuleiro que apontam para todos os lados, o que fatalmente pode também oferecer uma mensagem conjunta, onde a xenofobia, cerne de um país com histórico de superioridade racial, não anula as falhas de personalidade de seu protagonista.

A questão dos sonhos não se encaixa nesse raciocínio porque, como dito, traz uma promessa de vertente alegórica e de gênero que nunca chega de verdade. Os últimos vinte minutos de Exílio são bem anticlimáticos, não porque não oferecem respostas às situações expostas, mas porque não fecham praticamente nenhum raciocínio aberto pelas sugestões da extrema desconfiança no filme todo. É possível manter narrativas em aberto, mas ideias não, porque assim toda a construção é jogada para um limbo que não está sob seu controle.

Talvez seja essa intenção, tentando de alguma forma demostrar o quão descontrolado fica o acúmulo dessas pequenas situações sobre a mente de alguém que particularmente já não é controlado e que ainda precisa lidar com essa paranoia de descriminação todos os dias em todos os lugares. Entre o vitimismo e a culpa, a falta de respostas ideológicas de Exilio o jogam num terreno até perigoso para o exercício crítico de sua temática, mas o faz ser um eficiente suspense e estudo de personagem.

Exílio (Exil | Alemanha, 2020)
Direção: Visar Morina
Roteiro: Visar Morina
Elenco: Misel Maticevic, Sandra Hüller, Daniel Sträßer, Rainer Bock, Stephan Grossmann, Uwe Preuss, Thomas Mraz, Flonja Kodheli
Duração: 121 minutos

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais