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Crítica | Expresso do Amanhã – 1X04: Without Their Maker

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e do restante de nosso material sobre esse universo.

Para uma temporada que arriscou converter um fascinante cenário apocalíptico em uma versão distópica de Assassinato no Expresso do Oriente, foi corajosa a escolha de Graeme Manson de firmar ainda mais essa imagem na mente do espectador ao criar uma sequência de resolução do crime emulando o “estilo Agatha Christie“, ou seja, forçando a reunião dos suspeitos em uma sala e fazendo o investigador repassar a história para então apontar o verdadeiro culpado. E devo dizer que a estratégia funcionou muito bem.

A maior razão para isso, além da homenagem à grande escritora britânica, foi decidir fechar um arco narrativo no primeiro terço da temporada, potencialmente alterando todo o status quo daqui para frente. Tinha muito receio que a investigação do crime fosse arrastar-se por tempo demais, ocupando até mesmo a temporada toda, mas agora percebo, com um sorriso no rosto, que o showrunner tem planos melhores para a série do que só criar uma estrutura de whodunit com comentário social como mero pano de fundo. Como disse na crítica do primeiro episódio, Manson já provou-se capaz de complicar tramas sem perder o fio da meada com Orphan Black e parece que ele aplicará seu know-how novamente aqui.

Começando imediatamente a partir do fim de Access is Power, com a descoberta do assassinato da recém-ressuscitada Nikki, o roteiro é veloz e não perde tempo em revelar que o assassino muito provavelmente é mesmo Erik, guarda-costas da família Folger da Primeira Classe, o que abre espaço para uma perseguição em espaço confinado que é interessante ao mesmo tempo que é desapontadora. Afinal de contas, como tornar a coisa toda excitante considerando que o assassino só pode correr em linha reta? A direção de Frederick E.O. Toye faz tudo o que pode, desnorteando o espectador, usando subterfúgios como criar uma breve situação de refém para efeito dramático, mas o resultado é apenas ok nesse quesito. E não tinha como ser diferente, pelo menos não com tramas paralelas sendo descortinadas.

E são elas, aliás, que realmente interessam em Without Their Maker. De um lado, há a missão quase suicida de Josie que, munida do implante que Layton adquirira, sai do Fundo para encontrar-se com um contato na Terceira Classe, criando uma ponte interessante que poderá ser usada outras vezes, além de introduzir, ainda que muito brevemente, uma nova personagem. A situação é fundamentalmente clichê, mas a tensão é muito bem construída pelos cortes dinâmicos de Toye e pela tentação que ver uma singela paisagem ou comer um prato de comida quente significa para Josie, com direito a uma câmera parada e meticulosa para capturar cada detalhe do rosto da Fundista que há anos não vê a luz do sol ou se alimenta de algo diferente de uma gelatina de aparência tenebrosa.

Do outro lado, há o fim da investigação de Layton que serve para dois propósitos: efetivamente descobrir o assassino, ou melhor, a mandante dos assassinatos e colocar o detetive em uma posição chave em relação à Melanie. O jogo de poder é outro momento marcante do episódio e que o roteiro sabe trabalhar eficientemente, especialmente ao conseguir criar uma conexão do espectador LJ, a beja jovem, filha dos Folgers, que só vislumbramos por segundos em episódios anteriores. Venho reclamando consistentemente da falta de desenvolvimento de personagens coadjuvantes e isso continua sendo um problema – ainda que Till esteja ganhando cada vez mais destaque -, mas o texto de Hiram Martinez consegue suprir essa questão empregando tempo na conversa entre Layton e LJ que vai deixando cada vez mais clara a psicopatia da moça, além de criar uma expectativa falsa sobre a verdadeira intenção do detetive. Claro que ajuda muito que Annalise Basso consiga entrar uma performance que lembra de longe a de Ruth Wilson em Luther, o que é suficiente para tornar odiosa a personagem quase que instantaneamente. E vale também dizer que, finalmente, Daveed Diggs começou a me convencer em seu papel, ainda que ele tenha sido enviado para a geladeira agora, sem previsão de saída, depois que Melanie, que não nasceu ontem, percebe que ele descobrira seu grande segredo.

Without Their Maker parece encerrar um ciclo em Expresso do Amanhã, rearranjando o tabuleiro para um novo jogo. Não sei quantas peças novas serão apresentadas e quanto tempo Layton ficará no banco de reserva (desconfio que muito pouco), mas arrisco dizer que a temporada finalmente encontrou seu tom e começa a realizar o potencial do material fonte.

Expresso do Amanhã – 1X04: Without Their Maker (Snowpiercer – 1X04: Without Their Maker, EUA – 07 de junho de 2020)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: Frederick E.O. Toye
Roteiro: Hiram Martinez
Elenco: Jennifer Connelly, Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Iddo Goldberg, Susan Park, Katie McGuinness, Sam Otto, Sheila Vand, Mike O’Malley, Annalise Basso, Jaylin Fletcher, Steven Ogg, Happy Anderson, Shaun Toub
Duração: 46 min.

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