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Crítica | Expresso do Amanhã – 1X05: Justice Never Boarded

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e do restante de nosso material sobre esse universo.

Parece realmente que a investigação dos assassinatos foi apenas a desculpa que o showrunner precisava para começar a contar a história mais importante de Expresso do Amanhã que lida com a tensão entre classes sociais, aqui literalmente representadas pelas três classes do trem eternamente dando voltas na Terra congelada e mais a “não classe” dos indigentes, dos passageiros sem ingresso, daqueles que não deveriam estar ali e só estão em razão da “tolerância” dos mais abastados. O julgamento da acusada dos crimes, a doentia jovem LJ, filha do casal Folger, o mais prestigiado do Perfuraneve, toma metade da narrativa do excelente Justice Never Boarded, que marca a metade da primeira temporada.

Já de início percebemos que aquilo que era óbvio no episódio anterior já começa a ficar enevoado. LJ é indubitavelmente culpada, como os espectadores sabem, mas, por ser da Primeira Classe, seus privilégios já começam a aparecer nos minutos iniciais, com sua transferência de volta ao vagão de seus pais onde prepara sua defesa. Mas o descontentamento já havia se espalhado e Miss Audrey, a chefe do Vagão Leito em tese sempre neutro em termos políticos, planta em Melanie a ideia de um julgamento de verdade, com um juiz de cada classe. Percebe-se mais uma vez que, mesmo por linhas tortas, a líder do trem que secretamente faz as vezes do Sr. Wilford (que cada vez mais eu desconfio que esteja em uma das gavetas), quer fazer o certo e ela compra a briga com os Folgers que, ato contínuo, preparam-se para uma revolução aristocrática.

Simultaneamente, o episódio lida com o paradeiro de Layton, já que o protagonista não poderia ficar mesmo muito tempo nas gavetas de animação suspensa (ou coisa do gênero), mais uma vez trazendo Josie para os vagões civilizados do trem, desta vez com a ajuda de Terrence que, claro, tem seus próprios e escusos interesses. O ritmo narrativo é intenso e tenso todo o tempo nas duas pontas que levam, de um lado, à revelação de que há algo de podre no reino das gavetas e, de outro, a descoberta de que, assim como Layton, há outras pessoas engavetadas que simplesmente não poderiam estar lá. O que exatamente está acontecendo e quem – além de Melanie – está por trás disso e com que propósito, provavelmente descobriremos na segunda metade da temporada, mas, agora, a fusão completa entre mistério e luta de classes está perfeitamente firmada.

E o melhor é que, mesmo de maneira ainda acanhada, mas de forma eficiente e constante, o elenco coadjuvante passa a tornar-se relevante para a história como um todo, retirando esse peso que ficava unicamente sobre os ombros de Melanie e Andre. Com cinco episódios no ar, já é perfeitamente possível criar conexão com Till e Jinju, especialmente a primeira, além de Josie e até mesmo Miss Audrey e Zarah. Da mesma forma, os Folgers sedimentam-se como grandes vilões, de certa forma ofuscando até mesmo a aparente vilania inicial de Melanie que, a essa altura do campeonato, já revelou ter muito mais camadas em sua personalidade e todas elas intrigantes. E, mesmo que Layton praticamente tenha feito apenas figuração aqui, mais uma vez o roteiro soube ser engenhoso ao abordar o passado sem recorrer a meros flashbacks, desta vez lidando com o canibalismo dos Fundistas de maneira elegante e bem salpicada ao longo do episódio como pesadelos em sua hibernação.

O julgamento de LJ foi esteticamente muito bem trabalhado, não só com a redecoração do Vagão Restaurante da Primeira Classe, como também com belos posicionamentos de câmera na direção de Frederick E.O. Toye, que consegue ampliar espaços quando precisa, mas sem que deixemos de sentir aquela claustrofobia típica de espaços confinados e com muita gente. Além disso, ele novamente soube extrair uma excelente atuação de Annalise Basso que ganha mais tempo de tela, ainda que insuficiente para toda sua psicopatia. Será essencial que sua asquerosa personagem ganhe mais relevância na história, pois há um potencial inexplorado muito grande ali, especialmente agora que ela joga de igual para igual com Melanie, podendo desequilibrar a delicada balança da convivência ferroviária a qualquer momento com o que em tese sabe.

Falando em equilíbrio, diria que sua manutenção, agora, é impossível. Com Layton de volta à ação e com ele sabendo do segredo de Melanie, com a conversão da condenação de LJ em liberdade que certamente enfurecerá a Terceira Classe e com Till provavelmente sofrendo as consequências por ter ajudado Josie e Layton, a pressão nesse bólido gelado parece pronta para gerar alguma explosão. Será muito interessante ver como Graeme Manson conseguirá chegar a um clímax oriundo de todas essas peças críticas em movimento sem tornar impraticável a continuidade da série para a já em produção (mas no momento paralisada, claro) segunda temporada.

Com mais um episódio de alta octanagem, Expresso do Amanhã chega à metade de sua viagem inicial de maneira sólida e com uma trama que retorna ao âmago da HQ original e do filme de Bong Joon-Ho. Agora é torcer para que o showrunner consiga manter a temporada nessa mesma velocidade, mas sem descarrilar o trem.

Expresso do Amanhã – 1X05: A Justiça Não Embarcou (Snowpiercer – 1X05: Justice Never Boarded, EUA – 14 de junho de 2020)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: Frederick E.O. Toye
Roteiro: Chinaka Hodge
Elenco: Jennifer Connelly, Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Iddo Goldberg, Susan Park, Katie McGuinness, Sam Otto, Sheila Vand, Mike O’Malley, Annalise Basso, Jaylin Fletcher, Steven Ogg, Happy Anderson, Shaun Toub
Duração: 47 min.

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