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Crítica | Expresso do Amanhã – 2X01: The Time of Two Engines

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e do restante de nosso material sobre esse universo.

Depois de começar claudicante, mas gradativamente solidificando-se ao longo da temporada inaugural, Expresso do Amanhã deixou-nos com um cliffhanger ao mesmo tempo esperado e bem construído, com a revelação da existência de um segundo trem, Big Alice, que se prende ao Snowpiercer, a confirmação de que o mítico Sr. Wilford realmente está vivo juntamente com Alexandra, a filha de Melanie e, claro, Melanie perdida na neve depois de cair do vagão. Graeme Manson soube expandir esse difícil universo que já nasce restrito, tornando possível o vislumbre de uma efetiva continuidade lógica e fluida, algo que The Time of Two Engines vem para confirmar.

O episódio inaugural da 2ª temporada é todo ele construído ao redor da apresentação de Wilford (Sean Bean) e de seu microuniverso bem particular com um trem aparentemente bem mais poderoso em termos de tamanho de vagão e motor, mas substancialmente menor do que o original em número de vagões, com apenas 40 versus os 994 do Snowpiercer. Com a lista de demandas estapafúrdias que Alex (Rowan Blanchard) larga na mão de Ruth, o roteiro de Manson estabelece de imediato tudo o que precisamos saber sobre o grande criador do trem salvador do mundo sem que seja sequer necessário que ele dê as caras. Se o sistema de classes do Snowpiercer – não muito diferente do mundo ao nosso redor – já demonstrava toda sua injustiça dentro de sua imutabilidade quase absoluta, fica evidente que Wilford vive em uma monarquia em que ele, claro, é o rei.

A confirmação disso vem com o medo que todos de Big Alice sentem dele, particularmente Kevin (Tom Lipinski), o chefe da Hospitalidade, e com os aposentos nababescos de Wilford, com direito a banheira translúcida e rodelas de pepinos nos olhos. Em comparação, é perfeitamente possível afirmar que o semblante de democracia do Snowpiercer – antes ou depois da revolução liderada por Layton, pouco importa – é uma utopia perto da mão de ferro que comanda o segundo trem, mão essa que vem envenenada por um desejo constante de vingança contra Melanie e que já demonstrou ser capaz de eliminar todo mundo somente para tomar controle do que considera seu.

Já que mencionei Layton e Melanie, deixe-me abordá-los rapidamente, começando pelo ex-detetive de polícia: o personagem continua longe de convencer alguém de sua capacidade de liderar uma revolução efetiva ou mesmo de governar um povo. Tudo bem que o roteiro faz das tripas coração para afirmar e reafirmar que ele é um líder nato – o que é forçado, já que não vimos isso dessa maneira na temporada anterior – e é fácil fechar os olhos para esse detalhe. Mas sua declaração de Lei Marcial e sua subsequente organização de uma invasão a Big Alice não pareceram seguir qualquer resquício de lógica. E não digo isso porque o ataque falhou com o surgimento da versão (aparentemente) humana de Laufey, o Rei dos Gigantes de Gelo ou, mais especificamente, Icy Bob (Andre Tricoteux), que deve ser uma experiência genética dos sinistramente engraçados Sr. e Sra. Headwood (Damian Young e Sakina Jaffrey irreconhecíveis), mas sim porque o ataque todo foi tirado da cartola de Layton na medida em que ele andava em direção ao último vagão transformado em “fronteira”. Ainda estou para ver o showrunner entregar um roteiro realmente bacana para Daveed Diggs mostrar a que veio seu personagem.

E Layton fica ainda mais desinteressante quando ele é comparado a seus pares – notadamente Bess e Pike – e, principalmente, a Melanie, essa sim a vilã que odiamos amar (ou seria “adoramos odiar”?). Mais uma vez é ela que põe tudo nos trilhos, não só devolvendo o controle dos sistemas a Ben e Javi, como plantando uma bomba em Big Alice de forma a impedir a separação de seu trem que, agora, não mais pode depender de seu motor, em uma estratégia muito bem trabalhada ao longo do episódio que ao mesmo tempo consegue enfurecer o Sr. Wilford e arrancar de Alex aquela pontinha de orgulho pela jogada de risco da mãe.

Com isso, de maneira muito eficiente, um novo status quo é introduzido, com mais personagens para serem trabalhados e novas situações para serem abordadas dos dois lados da “guerra fria” mencionada por Layton, algo que ganha ainda outra camada quando lembramos da amostra de neve que Melanie (sempre ela!) recolheu em seu passeio lá fora, certamente desconfiando de alguma mudança climática favorável aos humanos. A continuação dessa viagem promete e, se Manson conseguir finalmente acertar com Layton, pode ser que tenhamos uma série memorável.

Obs: Não sei se há um vagão psiquiátrico no Snowpiercer, mas, se houver, certamente já passou da hora de alguém jogar LJ lá dentro…

Expresso do Amanhã – 2X01: A Hora dos Dois Motores (Snowpiercer – 2X01: The Time of Two Engines, EUA – 25 de janeiro de 2021)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: Christoph Schrewe
Roteiro: Graeme Manson
Elenco: Jennifer Connelly, Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Lena Hall, Iddo Goldberg, Susan Park, Sam Otto, Sheila Vand, Roberto Urbina, Mike O’Malley, Annalise Basso, Jaylin Fletcher, Steven Ogg, Rowan Blanchard, Sean Bean, Tom Lipinski, Damian Young, Sakina Jaffrey, Chelsea Harris, Andre Tricoteux
Duração: 48 min.

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