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Crítica | Expresso do Amanhã – 2X03: A Great Odyssey

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e do restante de nosso material sobre esse universo.

É muito interessante notar que A Greaty Odyssey basicamente acerta em tudo aquilo que Smolder to Life errou, mais uma vez alçando a série a um patamar invejável. Se o episódio anterior errou feio ao caracterizar o Sr. Wilford como um louco varrido que ritualisticamente leva seu empregado a cortar os pulsos na banheira, aqui o sinistro criador dos trens que carregam o que sobrou da humanidade encontra seu ponto de equilíbrio. Se, anteriormente, Layton parecia um líder que não consegue liderar com um pingo sequer de verossimilhança, agora ele parece encontrar um norte, parando de agir sem pensar.

Mas antes de abordar as correções de rumo que o episódio trouxe, talvez seja mais relevante falar da personagem que vem constantemente em um crescendo desde o início da 1ª temporada. Se outros personagens demoraram a encontrar sua direção, Melanie nasceu firme e forte e continua sua excelente trajetória na série sem grandes obstáculos narrativos, algo que foi amplificado pela introdução “surpresa” de Alex ao final de 994 Cars Long. Nesse aspecto, vale notar que grande parte de A Great Odyssey é dedicado à conexão de mãe e filha, algo que poderia ser tratado de maneira piegas, mas que o roteiro de Zak Schwartz trabalha de maneira lúcida, com a direção de David Frazee tendo boa parte do mérito por extrair ótimas atuações de Jennifer Connely e Rowan Blanchard.

Essa lucidez no tratamento das personagens vez da manutenção de suas características principais, frieza e retidão de propósito. No caso de Melanie, isso foi muito bem construído ao longo de toda a série até agora, com a protagonista (ou seria antagonista?) encarnando o aforismo que diz que os fins justificam os meios. Ela é capaz de absolutamente tudo pelo que, em sua visão, é o bem maior desse último bastião de sobrevivência que é o trem (agora os trens) em moto-perpétuo ao redor da Terra. Já no caso de Alex, tivemos muito pouco tempo para “aprender” sobre ela, mas fica evidente que a jovem aprendeu a manter em xeque seus sentimentos, ainda que, ao mesmo tempo, ela permanece em estado de subserviência conveniente em relação à monarquia absolutista imposta por Wilford. No entanto, ambas exalam curiosidade e, no caso de Alex, também admiração na forma como ela se espanta com a capacidade da mãe de, por exemplo, perceber problemas nos trens apenas sentindo suas vibrações.

Além disso, há, claro, a curiosidade de uma pela outra e o amor que, se Melanie não tenta esconder, Alex faz de tudo para enterrar o mais profundamente possível, mas sem sucesso. Afinal, quando ela derrama uma lágrima ao selar o destino da mãe com a manobra para empurrar o Snowpiercer montanha acima, Wilford percebe e diz que “essa é última lágrima que eu permito” muito claramente temendo que a filha bandeie-se para o lado da mãe, algo que aparentemente acontece quando finalmente as duas se abraçam quase que furiosamente no momento em que Melanie está para pular para o gélido exterior. Diria até que essa sequência breve é o ponto alto do episódio e talvez da série toda até agora, já que são palpáveis os sentimentos conflitantes de Alex, assim como o amor incandescente que sai do “eu te amo” de Melanie.

Mas retornando ao núcleo masculino da série, o Wilford que vemos aqui é infinitamente superior ao Wilford tresloucado do episódio anterior. Não que ele não continue com fome de poder e com extrema raiva por não ser automaticamente empossado como rei de seu feudo original. Mas, no lugar de demonstrar seu desequilíbrio com exageros, aqui o personagem de Sean Bean é muito bem utilizado, seja na forma como ele por diversas vezes fala “meu trem”, seja na maneira como ele tenta controlar Alex ou negociar com Layton, mas ao mesmo tempo maquinando sua volta ao poder supremo, algo que certamente terá conexão com o Senhor Frio, ou melhor, Icy Bob. Espero fortemente que seja esse o Wilford que será visto doravante.

Do lado de Layton, ainda que Daveed Diggs ainda não tenha tido o espaço que merece para realmente tentar fazer seu personagem mostra a que veio, pelo menos aqui não vemos o suposto líder da revolução tirando coelhos da cartola a toda hora, sem preocupar-se com o dia de amanhã. Sob todos os aspectos, o Layton que vemos está mais comedido, tentando de verdade trabalhar com os engenheiros, mesmo que, para isso ele seja obrigado a aceitar a importância de Melanie nessa engrenagem, especialmente agora com a possibilidade de a Terra estar em processo de descongelamento. Na verdade, é justamente essa aceitação, mesmo diante de uma Josie sem uma mão e com o corpo todo horrivelmente queimado pelas ações de Melanie, que demonstra o amadurecimento do personagem, finalmente sabendo jogar o jogo que precisa ser jogado. Será particularmente interessante ver se Graeme Manson aproveitará a ausência de Melanie em sua missão impossível para realmente focar em Layton e provar que o personagem é realmente viável.

Com bom uso de CGI mostrando os trens subindo o desfiladeiro, grande foco em Melanie e Alex e correções de rumo no que se refere a Wilford e Layton, A Great Odyssey é de fato um feito de qualidade que a temporada precisava nesse seu comecinho, especialmente depois do duvidoso episódio anterior. Agora é aguardar o embate entre os dois líderes, o desenvolvimento independente de Alex e a possível mudança radical de ambientação se a missão de Melanie realmente for abordada nos próximos episódios.

Expresso do Amanhã – 2X03: Uma Grande Odisseia (Snowpiercer – 2X03: A Great Odyssey, EUA – 08 de fevereiro de 2021)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: David Frazee
Roteiro: Zak Schwartz
Elenco: Jennifer Connelly, Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Lena Hall, Iddo Goldberg, Susan Park, Sam Otto, Sheila Vand, Roberto Urbina, Mike O’Malley, Annalise Basso, Jaylin Fletcher, Steven Ogg, Rowan Blanchard, Sean Bean, Damian Young, Sakina Jaffrey, Chelsea Harris, Andre Tricoteux, Miranda Edwards
Duração: 45 min.

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