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Crítica | Expresso do Amanhã – 3X02: The Last to Go

Eu aperto as suas e você aperta as minhas...

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, todo o nosso material sobre a franquia.

The Last to Go é um episódio estranho. E a razão para essa adjetivação é que ele introduz os seus próprios assuntos e os resolve ali mesmo, sem maiores enrolações, o que é bom, mas não combina com uma série em continuidade. Não posso chamá-lo de filler, claro, pois tudo o que ele aborda gravita ao redor da trama principal, notadamente toda a história da arma a ser usada contra o trem de Layton e a rendição de Ruth para justamente permitir a sabotagem, mas, por ele quase que contar uma história estanque, ele se aproxima do conceito sem efetivamente abraçá-lo. Estranho, portanto.

A arma em si, o pulso eletromagnético que o Sr. Wilford planeja usar para desabilitar o Perfuraneve sem causar danos permanentes à locomotiva ou ter que recorrer à violência – veja, ele é sanguinário e sua preocupação é obviamente muito mais com o trem do que com as pessoas, mas é interessante ver a ausência de dano colateral em seu plano – é apresentado pela primeira vez no próprio episódio, usada uma vez com 10% de sua força como um teste e, depois, literalmente defenestrada por Pike e os rebeldes que, ao acidentalmente ligam o pulso com energia máxima e não veem outra alternativa o que, convenientemente, serve como o sinal que Layton e os seus queriam para achar Big Alice. Tudo bem redondinho, diria, mas ao mesmo tempo muito encaixadinho e certinho demais, incluindo o quase castigo de Ruth sendo aplicado que é evitado no último segundo pela chegada do Perfuraneve o que, aliás, é outro momento estranho considerando que se trata de um trem e não de um avião que segue a rota que quiser.

Seja como for, o palco agora está armado para a reunião dos trens, o que, creio, não deve acontecer com muito drama ou perdas de vidas, mas com algum tipo de acordo de cavalheiros entre os dois líderes com um objetivo em comum qualquer ou, talvez, novamente, dois objetivos opostos, um para provar algo e outro para definitivamente mostrar que o que o outro quer provar inexiste. Falando nisso, a última esperança de se achar Nova Éden, lá no chamado Chifre da África, seria mais interessante sem as visões premonitórias de Layton. Sinceramente, quando elas começaram em The Tortoise and the Hare eu achei que seriam passageiras ou inconsequentes, no máximo algo que, uma vez a Terra Prometida sendo achada, Layton olharia daquele jeito de “eu sabia”, mas não, a importância dada a elas, aqui, chega a ser desconcertante. Será que a série precisa mesmo de um elemento místico, de uma espécie de “messias” que prevê o futuro com base na árvore dragoeira (que não é exclusiva daquela região, para começo de conversa)? Será que é isso que fará Layton ser o tipo de líder que ele jamais conseguiu ser por um segundo sequer? Só falta ele, agora, aparecer de roupão branco com um logotipo estilizado da árvore no peito e pregando a salvação vagão por vagão…

E esse tempo que o episódio dedica às visões cobra seu preço diretamente da nova personagem, Asha (Archie Panjabi), que, mesmo considerando que ainda há tempo para sabermos mais dela, ganhou apenas frustrantes segundos de exposição, não muito mais para sabermos seu nome, como ela sobreviveu e vermos seu deslumbramento pelo trem. Espero que essa nova inclusão na série não acabe sendo um Miles da vida que, no começo, era tão importante e, agora, os demais personagens sequer mencionam seu nome, basicamente como se ele nunca tivesse existido.

No lado festivo do episódio, o sequestro do casamento de Oz e LJ (outro assunto introduzido aqui e resolvido aqui) pela máquina de propaganda do Sr. Wilford lembrou, não sem querer, claro, da forma como Hitler e Goebbels faziam a mesma coisa na Alemanha Nazista, com direito até mesmo à decorações na forma de estandartes carregados de vermelho e um líder carismático, benevolente com os trabalhadores, mas que, nos bastidores, sabe manobrar tudo perfeitamente, seja ampliando a aliança com LJ, seja mostrando a Oz quem é que manda ali. Aliás, a sequência dele com Oz – aperta o meu que eu aperto o seu, ou vice-versa – não só foi realmente dolorosa, como completamente doentia, lembrando-me do ritual da banheira de Wilford. Espero que Oz acorde para a realidade e bandeie-se para o lado dos rebeldes, pois, depois dessa sua experiência, essa é o único caminho razoável.

Em seu segundo episódio, a terceira temporada de Expresso do Amanhã oferece uma história – ou duas – quase que completamente autossuficientes que  não se encaixam com facilidade no todo apresentado até aqui. Continua sendo um grande exercício de criatividade em espaços extremamente confinados e na forma como o cada vez mais bizarro Wilford é abordado, com Sean Bean dominando sozinho o departamento de dramaturgia agora que a série não conta com Jennifer Connelly, mas The Last to Go foi um passo ligeiramente atrás na forma como a história como um todo é trabalhada. Nada contra episódios estranhos, mas eles precisam oferecer mais do que apenas estranheza para realmente funcionar em harmonia com o restante.

Expresso do Amanhã – 3X02: O Último a Morrer (Snowpiercer – 3X02: The Last to Go – EUA, 31 de janeiro de 2022)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: Christoph Schrewe
Roteiro: Marisha Mukerjee
Elenco: Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Lena Hall, Iddo Goldberg, Sean Bean, Katie McGuinness, Sam Otto, Sheila Vand, Roberto Urbina, Annalise Basso, Steven Ogg, Rowan Blanchard, Tom Lipinski, Archie Panjabi
Duração: 46 min.

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