Lançado em 2007 e dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, Extermínio 2 é uma continuação do aclamado filme de 2002, dirigido em 2002, narrativa que emula a temática dos zumbis e o medo humano diante de infecções para estabelecer uma tenebrosa história com tons apocalípticos. Em seus 99 minutos, com roteiro assinado pelo cineasta, em parceria com Rowan Joffe, Enrique López Lavigne e Jesús Olmo, a trama se passa seis meses após os eventos do primeiro filme, que retratou o surto de um vírus da raiva na Inglaterra, situação que levou à destruição da sociedade e ao colapso do governo. Para esta sequência, eficiente em seu desenvolvimento, o texto dramático explora consequências do surto e a luta pela sobrevivência em um mundo que ainda vive os horrores do passado. Com a história ambientada em Londres, a produção começa com a apresentação de uma zona de quarentena estabelecida por forças militares, que proporciona uma falsa sensação de segurança à população que sobreviveu. A cidade, agora cercada e monitorada, tenta recuperar a normalidade, mas os ecos do vírus ainda estão presentes. O cenário inicial é tenso, uma vez que a cidade está tentando se reerguer após a devastação. Os militares afirmam que o vírus foi erradicado, e a vida está começando a retomar, mas a narrativa nos alerta que essa aparente tranquilidade pode ser enganosa.
O enredo se centra na história de uma família: Don (Robert Carlyle), com a sua esposa e os seus filhos. Durante uma tentativa de escapar do surto, ele é forçado a deixar sua esposa, que se torna uma vítima do ataque dos infectados. Esse momento traumático define suas ações e sua psique ao longo do filme. Algum tempo depois, quando a situação parece ter se estabilizado, Don é resgatado e reencontra seus filhos, Tammy (Imogen Poots) e Andy (Mackintosh Muggleton), que foram criados sob a proteção militar. Assim, à medida que a narrativa avança, Extermínio 2 explora a dinâmica familiar e os dilemas morais que surgem após a tragédia. Don, atormentado pela culpa de ter abandonado sua esposa, tenta se reconectar com seus filhos, que, por sua vez, lidam com a dor e o trauma da perda. Essa relação serve como um contraponto emocional à brutalidade que logo se desdobra. Conforme o tempo avança, situações de tensão aumentam, e a segurança da zona de quarentena começa a ser questionada.
A população, agora formada por algumas das poucas almas sobreviventes, descobre que o vírus da raiva não foi completamente erradicado. Um evento trágico ocorre quando Don, ao ser confrontado por seus fantasmas do passado, acaba por se infectar. Essa transformação é central para a trama, pois se antes era um símbolo de esperança, agora ele se tornou uma ameaça tanto para os seus filhos quanto para a comunidade. Eventualmente, os infectados retornam e geram um novo surto dentro da zona segura. A história toma um rumo frenético, enquanto os sobreviventes tentam escapar da carnificina desencadeada pela retomada do vírus indesejado. Tudo isso, captado pelas eficientes lentes da direção de fotografia de Enrique Chediak, pelo design de produção assertivo de Mark Tildesley e pela intensa textura percussiva da trilha sonora assinada por John Murphy, responsáveis por estabelecer para o realizador, uma dinâmica que não apenas apresenta cenas de ação intensas, mas também questiona a moralidade das ações dos humanos em situações extremas, levando os personagens a escolhas difíceis pela sobrevivência, culminando em um clímax que nos traz mais uma representação brutal da luta pela sobrevivência, tal como o seu antecessor.
Coeso e vertiginoso, Extermínio 2 funciona como uma daquelas sequências que honram o seu ponto de partida. Cada personagem é colocado diante de uma pressão extrema, revelando a natureza humana em face do terror e da perda. É um verdadeiro “salve-se quem puder”, mas com alguns momentos de empatia também, mais raros, mas presentes. A luta pela sobrevivência não é apenas contra os infectados, mas também contra os instintos mais primitivos que surgem quando a civilização fica em risco. Em linhas gerais, caro leitor, Extermínio 2 é uma crítica não apenas ao apocalipse zumbis, mas também à natureza humana e suas capacidades de amor, perda e sobrevivência, oferecendo ao espectador uma visão sombria e reflexiva sobre as consequências de um mundo devastado pelo medo e pela violência. Quando nos lembramos da pandemia relativamente recente que vivenciamos, a sua narrativa revisitada se torna ainda mais impactante, salvaguardadas as devidas proporções comparativas.
Ademais, Extermínio 2 é mais um filme da longa cinematografia ocidental que explora os medos e paranoias de nossa sociedade diante de ameaças microbiológicas. Repleto de metáforas interessantes, a produção nos mostra os impactos de uma ameaça aparentemente minúscula, mas grandiosamente devastadora. Semelhante ao que ocorre com o seu antecessor e a sequência Extermínio: A Evolução, que por sinal, desconsidera os seus acontecimentos, partindo diretamente da trama protagonizada por Cillian Murphy, esta continuação apresenta a desintegração das estruturas familiares como uma metáfora poderosa. A morte e a transformação em zumbis dos entes queridos refletem o medo da perda de laços afetivos, especialmente em situações de crise. Isso nos leva a questionar a fragilidade das relações humanas em um cenário apocalíptico, haja vista o tópico “família” ser tradicional e muito caro em nossas dinâmicas sociais. O vírus que transforma as pessoas em zumbis metaforiza o nosso medo do contágio, não apenas de doenças, mas também de ideias e comportamentos. Esse medo do desconhecido ecoa o pânico social em torno de epidemias e crises de saúde pública, o que também nos leva ao questionamento em torno do colapso social que simboliza a vulnerabilidade da civilização moderna, afinal, é um enredo que delineia a desorganização das instituições e como as pessoas se tornam suscetíveis a extremos destaca as fragilidades das normas sociais e a busca pela segurança em meio ao caos, culminando na desconfiança em relação ao que é “autoridade”.
Ao longo de Extermínio 2, a representação das forças militares e governamentais como ameaças em vez de protetores retrata uma profunda desconfiança em relação às autoridades. Isso reflete uma paranoia social, onde a proteção do Estado é vista com ceticismo e a instabilidade política se torna um tema central. Além disso, a transformação das pessoas em zumbis não se dá apenas pela infecção; o comportamento humano diante de situações de estresse extremo revela o verdadeiro monstro que reside dentro. A luta pela sobrevivência pode levar a ações cruéis, o que sugere uma crítica à natureza humana e aos limites éticos que se desfazem em situações limites. Os espaços urbanos vazios e o sentimento de isolamento refletem a alienação moderna. Assim como em muitos filmes apocalípticos, o ambiente se torna opressivo, simbolizando o medo do abandono e a desconexão da sociedade contemporânea. E o que dizer da brutalidade e a luta pela sobrevivência? Nesta sequência, o texto traz à tona o instinto animal, simbolizando o retorno às nossas raízes primais. Isso questiona as convenções da civilização e destaca como a pressão extrema pode desencadear instintos básicos e violentos, numa narrativa que enfatiza o ciclo sem fim de violência e revanche, uma metáfora pertinente para pensarmos os conflitos humanos ao longo da história, refletindo, por exemplo, as dores da guerra e seus danos irreparáveis.
E, juntamente com tudo isso, Extermínio 2 não deixa de ser uma história sobre esperança em tempos de desespero.
Extermínio 2 (28 Weeks Later– Reino Unido/Espanha, 2007)
Direção: Juan Carlos Fresnadillo
Roteiro: Juan Carlos Fresnadillo, Rowan Joffe, Enrique López Lavigne, Jesús Olmo
Elenco: Jeremy Renner, Rose Byrne, Robert Carlyle, Harold Perrineau, Catherine McCormack, Idris Elba, Imogen Poots, Mackintosh Muggleton, Emily Beecham, Garfield Morgan, Shahid Ahmed
Duração: 90 min.
