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Crítica | Extinção (2018)

por Gabriel Carvalho
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“Você teve um pesadelo?”

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Enquanto os cadarços da Netflix parecem nunca estar amarrados, dando origem a mais tropeços e mais tropeços, Extinção, brevemente, parece ser aquele primo mais velho pedindo para a empresa levantar o pé e colocar no colo dele o sapato. “Deixa que eu te ajudo”, diz o primo, bastante entendido da arte de amarrar cadarços, vulgo o incrível mundo do audiovisual. A questão é que a Netflix nunca soube amarrar seus próprios cadarços. Às vezes ela consegue, depois de se enrolar muito. Saber amarrar cadarços é quando você mostra-se capaz de realizar a proeza de olhos fechados, não quando você soluciona o enigma do nó apenas depois de árduas tentativas. Esse acerto é na sorte. Ou, então, oriundo do surgimento de um segundo agente, a mãe ou pai, dando a mão para o filho e dizendo que tudo vai dar certo. “Eu sei fazer o nó”, eles dizem, mas a realidade é que a Netflix está envolta das pessoas mais imbecis do mundo, que acham que possuem a solução, mas não possuem. Os cadarços estão amarrados, prontos para que uma invasão alienígena de magnífica qualidade preencha nossos olhares por considerável tempo, contudo, basta o primeiro passo, ou a narração pseudointelectual feita por Michael Peña, o protagonista da obra, para o nó começar a afrouxar e mostrar que qualidade é mero luxo para raríssimas ocasiões.

Embora Extinção tenha se mostrado muito mais frustrante para mim, devido o surgimento de comentários relacionados a um aspecto presente na narrativa, o tropeço final é realmente grande em razão da já citada esperteza quase arrogante, tentando-se passar por uma ficção científica inteligente, que tece comentários importantíssimos sobre a raça humana. “De boas intenções o inferno está cheio”, deveria alguma tia dizer à Netflix. Por que como poderia dar errado um filme pós-apocalíptico protagonizado por Martin Freeman e uma criança? Além disso, peguem exemplos de obras que a Netflix lançou como suas em alguns lugares do mundo, como os péssimos O Círculo e Antes Que Eu Vá.  Pois bem, o que é possível ser dito sobre The Cloverfield Paradox? Todos esses longas-metragens citados são exemplares da “ótima intenção” presente em muitos dos produtos relacionados a essa empresa. Afinal, mais é melhor, não é menos? Envolta de Extinção não apenas temos essa vertente do discurso perigoso da Netflix, conformada mais com o fato do cadarço estar amarrado do que com o fato do cadarço estar bem amarrado, como temos uma desonestidade argumentativa tremenda, tentando seduzir o espectador ao apresentar características que o conjunto em si não possui, muito mais espertinho que malickiano.

Para exemplificar este aspecto, é essencial cruzarmos realidade com ficção, tentando decidir em definitivo até que ponto o primo da Netflix consegue fazer as orelhas de coelho. Ao passo que possui uma virada narrativa que arruma espaço para um escopo temático extremamente variado, o filme, roteirizado por três pessoas, em momento algum deixa de ser genérico, apesar de camuflar-se como genial ou diferente. Por exemplo, em determinado momento, após a invasão alienígena começar, Lizzy Caplan, interpretando a esposa do protagonista do filme, salva-o de um soldado inimigo de outro planeta. O diretor Ben Young faz questão de ressaltar esse momento, dando peso a essa falsa subversão de clichês. No final das contas, o filme segue a mesma batida de obras como Guerra dos Mundos: pai tentando salvar a família de uma ameaça extraterrestre. A comparação é injusta – Guerra dos Mundos é muito mais filme. Mas precisa lacrar quando você não está lacrando coisíssima nenhuma? O único ponto que poderia ser distinguido de outras ficções científicas com a mesma fórmula é em relação a nossa perspectiva enquanto espectador. Ao brincar com opostos pontos de vista, o cineasta encontra uma abertura que quer fazer o público repensar o seu papel como público não-passivo, torcendo para os heróis ou para os vilões.

Chegando ao último ponto anterior ao tropeço final, aquele que tanto esperávamos, alcançamos, enfim, a preguiça do longa-metragem em seu estado mais contemplativo. Dessa forma, enquanto tenta trazer alguma discussão relevante, o filme esquece da sua própria história, quase como uma fase de videogame que nunca desejaríamos repetir. Até mesmo essa troca de perspectiva, um ponto positivo, suga mais da obra, que perde o pouco de valor dramático que carregava, embora seja interessante ver Michael Peña liderando “ação” – se é que as cenas desse filme podem ser categorizadas desta maneira, dada a nulidade de inventividade. Além disso, por falar em invenção, a criatividade é uma problemática imensa de Extinção, com o visual dos alienígenas não sendo mais descartáveis apenas que a direção de arte, mais uma vez tentando esconder sua inaptidão com uma ou duas ambientações mais arrojadas. A computação gráfica, ao mesmo tempo, não colabora com nada, apenas piorando. O resultado é um filme sem carisma, sem relação com o espectador, quando justamente deveria nos fazer questionar essa relação de público com avatar cinematográfico, o protagonista de fato. A verdade é que esse primo sacana da Netflix não consegue nem passar da árvore, enfiando o cadarço por dentro do tênis e deixando assim mesmo.

Extinção (Extinction) – EUA, 2018
Direção: Ben Young
Roteiro: Spenser Cohen, Eric Heisserer, Brad Kane
Elenco: Lizzy Caplan, Michael Peña, Mike Colter, Lilly Aspell, Emma Booth, Israel Broussard, Emma Booth, Amelia Crouch, Erica Tremblay, Lex Shrapnel
Duração: 95 min.

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