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Crítica | Fabulosa X-Force: Nação Deathlok

por Giba Hoffmann
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Contém spoilers. Confira mais quadrinhos de X-Men aqui.

Dando sequência aos eventos apresentados em A Solução ApocalítpticaNação Deathlok traz um pouco mais da marca dos roteiros de Rick Remender para sua Fabulosa X-Force. Novamente dão as caras o misto do antigo com o novo em uma trama sci-fi que se apoia sobre detalhes da rica continuidade mutante para mover em frente um grande esquema envolvendo este grupo inusitado de pessoas e a figura assombrante do mutante ancestral Apocalipse. O foco da vez é ninguem menos do que o assassino de criancinhas pseudo-francês e ladrão-de-casaca-convertido-em-Arma X, Fantomex. Acompanhando os desenvolvimentos chocantes do personagem no desfecho do arco anteriorretomamos a vida particular da ex-cobaia hiper-poderosa enquanto descobrimos uma nova ameaça que tem profunda ligação com suas origens.

Pode-se dizer que o arco funciona como uma espécie de sequência a O Ataque ao Arma Extra, da brilhante fase de Grant Morrison à frente dos roteiros de Novos X-Men. A escolha vai ao encontro dos pontos fortes da visão de Remender para a equipe, já que retoma as pontas soltas da aventura que, com uma boa dose de conceitos inventivos de ficção científica,  revelou as origens e os desenvolvimentos secretos do Programa Arma Extra, do qual o famoso Arma X – responsável pela criação de Wolverine – fora apenas um tentáculo. Muitas vezes lembrado pela revelação um tanto infame de que o “X” em Arma X na verdade refere-se ao numeral romano, o arco trouxe uma gama de conceitos interessantes que permaneceram um tanto inexplorados desde então.

Um desses conceitos é o palco principal dessa aventura: O Mundo. Local de nascimento e criação do Arma XIII Fantomex, bem como de vários de seus letais irmãos desenvolvidos sob a influência de John Sublime para serem a última palavra na caça aos mutantes, o laboratório de tempo líquido acabou encolhido e roubado pelo Diabolik mutante, que, como vemos ao longo da história, parece ter tomado controle da absurda tecnologia e agora utiliza-a para seus próprios e engimáticos fins. O problema é que não é apenas ele que reconhece o potencial do negócio, já que um grupo de Deathloks vem de outra dimensão para tentar se apossar do artefato, justo no momento em que a moral de Fantomex com seus companheiros de equipe se encontra em baixa.

Explorando conceitos que variam do sci-fi imaginativo ao mais puro nonsense, a trama revisita elementos do personagem de forma intrigante, garantindo-lhe um desenvolvimento até então inédito. É aqui que ficamos sabendo que sua mãe, cujo estatuto de existência real ficou em aberto em sua aparição original por conta do poder de ilusão do mutante, de fato existe… Apenas para ser morta por um Homem-Aranha “deathlokado”! A sequência de luta nos alpes franceses é intensa e traz o grande momento de impacto emocional do arco, que acaba ficando um pouco de lado nas edições consecutivas.

O conceito da “Arma Infinita” provavelmente deixaria Morrison orgulhoso, enquanto que as “versões Deathlok” dos Vingadores e da própria X-Force garantem um bom apelo visual para as lutas deste arco que é tão cheio delas (embora eu tenha me sentido tapeado por temos um Steve Rogers no traje regular de Capitão América, ao invés da versão badass do Super-Soldado retratada na capa da edição #5). Por outro lado, a arte de Esad Ribic não traz o peso e a dinâmica necessária para vender os momentos nas páginas da história com o mesmo impacto contido em suas belíssimas capas.

Assim como ocorre em outros trabalhos do desenhista, sua arte parece funcionar melhor a partir de um tipo muito específico de finalização (aquela apresentada em Thor: Deus do Trovão, por exemplo) para atingir seu pleno potencial. O estilo mais chapado e com menos linhas adotado aqui acaba redundando em cenas de ação menos impactantes e, por vezes, confusas. Não ajuda que determinadas passagens recebam um acabamento cujo resultado final pareça pura e simplesmente preguiçoso, o que quebra um pouco a consistência interna da narrativa e faz cair por terra algumas páginas-chave da narrativa enxuta de Remender.

Neste sentido, dá pra imaginar algum descompasso entre a intenção de Remender e a realização trazida por Ribic nas páginas, principalmente no que tange aos cenários. Estando clara a influência da ficção científica europeia na visão do roteirista para essas tramas, que tentam trazer tanto nos roteiros quanto no visual a hipérbole surreal que veríamos num Alan Davis (e, até mesmo – por que não – em um Moebius), vemos que a rendenização do Mundo aqui não cumpre tão bem o papel que os belíssimos backgrounds utilizados por Jerome Opena para retratar a nave celestial de Apocalipse no arco anterior, e isso acaba cobrando seu preço na experiência toda.

Por outro lado, o roteirista também não é isento de culpa, já que a curta duração do arco e a atenção dispensada ao (excelente) desenvolvimento de personagens acaba sabotando um pouco a linha central do enredo, que é a batalha pelo controle do Mundo. Merecem destaque as cenas de Betsy, Warren e Logan discutindo o assassinato do infante En Sabah Nur na Caverna X. Curiosamente, nas cenas de diálogos tête-à-tête temos algumas das melhores artes de Ribic dentro do arco: tanto o diálogo de Betsy com Brian quanto o de Deadpool com o Pai são muito bem detalhados e trazem escolhas de enquadramento que ornam mais com o que fora mostrado no arco inicial da série. Por sorte, são diálogos que merecem o tratamento recebido – se ao menos algumas das cenas de luta tivessem recebido o mesmo tratamento…

No final das contas temos um cenário que parte de uma premissa interessantíssima e traz alguns dos meus conceitos favoritos do universo mutante, combinados inusitamente com o clássico de nicho Deathlok, mas que no final das contas me deixou com a impressão de que a coisa toda foi resolvida de supetão, sem nunca explorar de maneira devida o impacto da invasão da Arma Infinita em nossa realidade. Ainda assim, o arco se garante com sua cota de momentos memoráveis, em especial envolvendo as duas figuras deslocadas da equipe, Deadpool e Fantomex.

É interessante a forma como o roteiro explora a relação complicada e a desavença que surge entre os dois, especialmente se levarmos em conta seu parentesco histórico. Enquanto que Deadpool surgiu como parte sátira, parte versão despojada do Exterminador da DC, Fantomex faz o mesmo em relação ao próprio Deadpool, elevando o grau da sátira e jogando na mistura todo o lance do ladrão de casaca (o que obviamente faz dele um dos personagens mais maneiros do Universo X – não tente me convencer do contrário!).

Ao invés de optar pelo caminho mais óbvio da bravataria humorística, o que o roteiro nos traz aqui é um pouco de Wade Wilson e Jean-Philippe para além de suas personas despojadas e badass, o que serve pra preparar boas trocas de diálogo. Também é digno de nota o quanto temos Deadpool novamente servindo um papel central, desta vez encarando ninguém menos do que o misterioso Pai, figurão cujo papel no desenvolvimento do Mundo e do bizarro braço britânico da Arma Extra permanece aberto para futuras explorações. Porém, no que tange a ele, acabou sendo vítima de um erro comum dos vilões que encaram o Mercenário Tagarela: superestimou sua sanidade mental.

Mesmo ficando um pouco aquém de seu potencial, com uma arte que não acompanha bem as ideias de um roteiro já bastante condensado, Nação Deathlok consegue divertir enquanto explora cantos cheios de potencial de boas histórias para o universo mutante, ao mesmo tempo em que avança bem o arco da Fabulosa X-Force e a forte caracterização de personagens que tem dado as caras nesse primeiro momento da equipe. Pegando temas grandiosos sob a abordagem do “curto e grosso”, a história agrada mais como meio do que como fim em si, o que combina com o bombástico cliffhanger em que se encerra a edição final, prometendo que alguns assuntos definitivamente não morrem por aqui.

Uncanny X-Force v1 #5 a 7 (EUA, Abril a Junho de 2011)
Publicação no Brasil: X-Men Extra #123 e 124 (Ed. Panini, Março e Abril de 2012)
Roteiro: Rick Remender
Arte: Esad Ribic, John Lucas, Matt Wilson
Capa: Esad Ribic
Editora: Marvel Comics
Editoria: Axel Alonso
Páginas: 75

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