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Crítica | Fala Comigo, Lon Chaney

Uma fantástica viagem pela carreira do "homem das mil faces".

por Luiz Santiago
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É pouco provável que alguém que tenha tido contato com o cinema clássico americano não tenha se deparado, em algum momento, com a nomenclatura “o homem das mil faces” para se referir a Lon Chaney. Nascido no Colorado, em 1883, Leonidas Frank Chaney deixou um grande legado para a Sétima Arte, sendo um pioneiro na criação de variados tipos de maquiagens e de muitas próteses pensadas para modificar o rosto de um ator em cena. Sua capacidade expressiva — que ia além da modificação da face, estendendo-se para toda sorte de manipulações de seu físico, como mãos, pernas e braços, por exemplo — se tornou uma marca registrada e ganhou muito destaque diante do público e no seu meio profissional. Muitas produções com a atuação de Chaney poderiam ser citadas aqui como exemplo, mas citarei as mais lembradas do grande público e mais destacadas pela crítica através dos anos: The Penalty (1920), O Corcunda de Notre Dame (1923), Ironia da Sorte (1924), O Fantasma da Ópera (1925), Vampiros da Noite (1927) e O Monstro do Circo (1927).

Neste quadrinho — que o próprio autor define como “uma biografia imaginada” –, o leitor tem a oportunidade de conhecer um pouco da história de Lon Chaney, que iniciou sua carreia em 1915, no curta For Cash, e teve como último filme o longa Trindade Maldita (1930). O roteiro desta HQ, desde o início, é extremamente cativante. A arte de Pat Dorian possui traços grossos e muito arredondados, dando uma aparência quase infantil aos desenhos (e digo isso no bom sentido), tornando os personagens “fofos” e fazendo com que o leitor se aproxime facilmente deles. As primeiras cenas são da infância de Chaney, que era perseguido pelos bullies da rua porque falava pouco e porque tinha pais surdos. O fato de ter aprendido a linguagem de sinais desde muito cedo, e por não ter como principal meio de comunicação a linguagem verbal, em casa, acabou sendo uma das sementes da persona artística que Chaney teria no futuro, desenvolvendo ao máximo a sua expressão facial e corporal, deixando a fala em segundo lugar.

Após a interessante introdução da narrativa, o Dorian foca na vida adulta do ator, com todos os seus perrengues financeiros e dificuldade de negociação com os estúdios. Fatos de sua vida pessoal também são trabalhados, dos bons momentos, às muitas dificuldades, como os dois casamentos e a relação com o filho. Mesmo nas cenas mais tristes, a arte e até mesmo o tom do texto não deixam a obra entregue à desesperança ou ao derrotismo. Chaney vai se empenhar bastante na construção de um nome para ele na indústria e, para isso, se entregará obsessivamente aos papéis, focando desde o início em personagens que exigiam grandes transformações. O leitor consegue acompanhar o surgimento do apelido de “homem das mil faces“, e é muito legal ver como Pat Dorian vai elencando os papéis icônicos do ator para mostrar essas criações de maquiagens e o impacto que tais personagens, quando apareciam na tela, tinham no público.

Meu único “porém” em relação ao volume são as sinopses estendidas que Dorian faz dos principais filmes do ator (ou seja, ele escolheu, em alguns casos, desenhar sequências inteiras das obras). Penso que seria muitíssimo mais interessante para a trama se ele trouxesse as cenas de criação de cada uma dessas personas de Chaney e encerrasse em uma única página algumas linhas gerais sobre o filme da vez. Mesmo se a gente pensar que a obra foca em leitores que não conhecem esses filmes clássicos, sabemos que é possível compreender, em poucas linhas, a ideia geral de um enredo. Portanto, muitas páginas representando, em desenhos, o resumo geral de um filme, não me pareceu uma boa escolha. Esses desenhos, porém, seguem o mesmo padrão de cativar o leitor, e à sua maneira, trazem entretenimento, geram suspense.

Em Fala Comigo, Lon Chaney, seguimos as motivações de um artista para fazer a sua arte. Uma pena que Lon Chaney tenha morrido tão cedo. O bom é que temos acesso ao seu inestimável legado nas grandes telas, e agora, uma curiosa versão em quadrinhos sobre a sua história de vida e sobre seu processo de criação, finalizado com um ótimo texto de apoio escrito por Gabriela Larocca, a tradutora da HQ para a DarkSide Books.

Fala Comigo Lon Chaney (Lon Chaney Speaks) — EUA, 6 outubro 2020
Roteiro: Pat Dorian
Arte: Pat Dorian
Editora original: Pantheon
No Brasil: DarkSide Books
Tradução e texto de apoio: Gabriela Larocca
192 páginas

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