Home TVEpisódio Crítica | Falcão e o Soldado Invernal – 1X04: The Whole World Is Watching

Crítica | Falcão e o Soldado Invernal – 1X04: The Whole World Is Watching

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Mesmo não tendo começado de maneira empolgante e mesmo sendo uma série curta, Falcão e o Soldado Invernal vem gradativamente caminhando para um clímax potencialmente muito interessante e abrangente dentro do Universo Cinematográfico Marvel, cumprindo a promessa que o que estamos vendo semanalmente é um filme alongado cortado em pedaços. The Whole World Is Watching é um pedaço particularmente importante e apetitoso que serve de ponto de virada para a série em seu aspecto mais importante, ou seja, o legado do Capitão América.

Claro que há um preço a ser pago. O maior deles é que a “origem” de John Walker como um Capitão América do mal é apressada, sem espaço para ser desenvolvida a contento. Afinal, pouco aprendemos sobre o personagem que já nos é apresentado como o escolhido, mostra-se realmente interessado em honrar o escudo, com boas intenções e, quase que do nada, revela-se como um garoto mimado que apanha da Dora Milaje, fica tristinho e parte para injetar-se o soro do supersoldado, matando um dos Apátridas em um acesso de fúria. O salto narrativo é grande demais e um pouco forçado dado o pouco desenvolvimento do personagem que, até este episódio, teve pouquíssima participação na série, certamente nada que o levasse a esse extremo tão rapidamente.

No entanto, se descontarmos o problema da velocidade, que poderia ter sido evitado com menos enrolação no começo e mais foco em Walker, tudo o que ocorreu faz perfeito sentido lógico dentro da proposta da série que é justamente estudar quem faria jus ao escudo, quem poderia ser um símbolo do bem incorruptível como o próprio Barão Zemo reconhece que Steve Rogers sempre foi, sem jamais desviar-se desse caminho, mesmo tendo o soro do supersoldado correndo em suas veias, ou seja, um homem que escolheu ter poder, mas nunca sucumbiu a ele. A queda de John Walker, catalisada pelo assassinato de seu parceiro (mas que aconteceria mais cedo ou mais tarde mesmo sem isso, temos que concordar) que, no processo, literalmente mancha de sangue o símbolo maior do que é ser o Capitão América, foi muito bem trabalhado pela direção de Kari Skogland, com uma atuação bem convincente de Wyatt Russell como um homem descontrolado, mas que parece entender a gravidade do que fez mesmo aplicando uma moralidade que relativizará seus atos.

Fazendo uma breve digressão, é por isso que a discussão sobre se um super-herói pode/deve matar é tão acirrada e tão relevante nos diversos filmes do gênero. Esqueçam que fulaninho já matou nos quadrinhos e que, portanto, está legitimado a matar no cinema e na televisão. No audiovisual, mesmo considerando que o que vemos é ficção, é inevitável a aproximação com a vida real, algo que exige um salto maior se comparamos com as HQs e, por isso, a questão torna-se quente, já que um super-herói, querendo ou não, é um símbolo, alguém que os humanos normais olham com admiração, mas que muito facilmente podem olhar com horror. Portanto, retornando ao episódio, é por isso que o roteiro de Derek Kolstad faz um bom esforço para contrastar a admiração que todos sentem pelo novo Capitão América com a sequência do autógrafo na galeria e o medo, a surpresa e o silêncio depois que ele quase decapita um homem com o escudo. Pouco importa se a vítima é um vilão, pois havia alternativas e Walker escolheu entregar-se ao olho por olho o que, a História mostra, só tem uma única função: escalar conflitos.

A mera conexão entre querer e ter poder com supremacistas/radicais que Zemo faz no melhor diálogo do episódio é tudo o que precisamos saber sobre a questão. Poder corrompe e a mera procura pelo poder é sinal de que há algo errado, com o próprio suposto vilão sokoviano fazendo tudo para destruir tanto os super-soldados quanto o soro, o que revela que, mesmo que ele tenha um plano, ele não parece envolver a criação de um exército poderoso para ele mesmo tentar dominar o mundo como acontece tanto nos quadrinhos. Há uma sutileza maior no personagem que, inegavelmente, desde que apareceu na série, passou a comandá-la completamente, transformando Sam e Bucky quase que coadjuvantes, mérito do roteiro e, lógico, de Daniel Brühl.

No entanto, o “quase” aqui é importante. Se em Power Broker esse escanteamento da dupla de heróis foi mais saliente e preocupante, aqui em The Whole World is Watching há um equilíbrio maior e bem mais interessante, seja pelo envolvimento da Dora Milaje, que cria uma conexão forte com o passado de Bucky em Wakanda, com direito até mesmo a um prelúdio para seis anos antes e uma ótima sequência de ação no simpático apartamento de Zemo, seja pela forma como Sam Wilson insistentemente decide lidar com o conflito. É justamente a abordagem pacifista e compreensiva de Sam que estabelece o abismo que existe entre a diplomacia e a pancadaria, diferenciando-o não só de Walker e de Ayo (Florence Kasumba retornando a seu papel), como também do próprio Soldado Invernal e, claro, Zemo. Fica muito evidente quem realmente merece o escudo, e que, lógico, Rogers estava mais do que certo ao final de Ultimato.

Como disse ao final da crítica anterior, já não tenho mais dúvidas de que a minissérie conseguirá amarrar suas pontas, propositalmente deixando outras várias abertas, o que fica mais evidente ainda pela aceleração artificial de determinadas tramas que precisaremos arquivar na prateleira mental do “faz parte”. O que realmente importa é a convergência de caminhos e a discussão fértil sobre símbolos, poder, ambição e, claro, legado. Parece-me que Falcão e o Soldado Invernal decididamente encontrou seu norte e, agora, com apenas dois episódios para o fim – ou um começo se o fim significar Sam finalmente assumindo o manto de Capitão América – há poucas chances de a criação de Malcolm Spellman se perder.

Falcão e o Soldado Invernal – 1X04: The Whole World Is Watching (The Falcon and the Winter Soldier – EUA, 09 de abril de 2021)
Criação e showrunner: Malcolm Spellman
Direção: Kari Skogland
Roteiro: Derek Kolstad
Elenco: Sebastian Stan, Anthony Mackie, Wyatt Russell, Clé Bennett, Danny Ramirez, Carl Lumbly, Erin Kellyman, Desmond Chiam, Dani Deetté, Amy Aquino, Daniel Brühl, Emily VanCamp, Florence Kasumba
Duração: 54 min.

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