Home Colunas Crítica | Família Dinossauros – 1X01: O Poderoso Megalossauro

Crítica | Família Dinossauros – 1X01: O Poderoso Megalossauro

por Luiz Santiago
3,4K views

Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 4
Número de episódios: 65
Período de exibição: 1991 – 1994
Há reboot?: Não.

Para mim, uma coisa muito importante a respeito de Família Dinossauros é o seguinte: ela tem cheiro de infância. Assim como algumas outras séries de grande sucesso exibidas nos anos 90, eu cresci assistindo, e nesse caso, devo dizer que foi uma das grandes contribuidoras para o meu mais absoluto fascínio por dinossauros durante toda a infância. Minha família era uma verdadeira adoradora da série, e bordões como “Querida, cheguei!” ou “Não é a mamãe” eram repetidos em casa em meio a pancadaria entre irmãos e gracinhas que fazíamos com os pais, só para receber uns cascudos, ver o chinelo voando habilidosamente pela casa e ouvir as mais diversas frases de ameaça. Uma das séries que me faz sentir muita saudade, lembrando com imenso carinho de um período da vida.

Criada por Michael Jacobs e Bob Young (baseada em uma ideia de Jim Henson) para a ABC, Dinosaurs foi um verdadeiro fenômeno nos Estados Unidos, e também aqui no Brasil. O show sempre teve um grande destaque por ser um tipo muito diferente de sitcom, constituída por animatrônicos e fantoches e com um conteúdo que poderia passar batido pelas crianças, mas que atingia os adultos em cheio. Isso tornava a série interessante para todos os públicos, com significados, críticas e reflexões que até hoje são extremamente relevantes e que receberam uma cuidadosa atenção dos roteiristas do show. Nesta estreia, intitulada O Poderoso Megalossauro, vemos como esse tipo de abordagem se fez presente já na raiz do programa, centralizando, dentre outras coisas, os medos e as belezas da paternidade e da formação e manutenção de uma família.

Os Silva Sauro (Sinclair, no original) habitam a Pangeia, no ano 60.000.003 a.C., e nesse Universo eles convivem com uns “animais” chamados homens. Esta inserção, aqui, logo na última cena, é a única coisa que me impede chamar esse piloto de obra-prima, porque é algo que destoa completamente do que tinha sido apresentado até então. E o que foi apresentado? Bem, um verdadeiro chacoalhão na concepção predominante no Ocidente sobre a construção da vida social, sobre independência e formação de uma família. De modo geral, a série é uma crítica dura e muito bem feita ao modo de vida americano, sendo casa episódio a representação e análise de uma determinada situação ou sentimento compartilhado pela sociedade americana — e que na verdade se encaixa na maioria das culturas Ocidentais.

Cada um aqui representa o seu papel cristalizado nessa sociedade, que vive com suas regras, pré-conceitos e manias. Dino é o pai trabalhador e reclamão. Fran é a mãe, esposa, dona de casa. Charlene é a filha ligada em futilidades. E Bob é o meninão rebelde que vai mal na escola e só quer saber de diversão. A maneira como o piloto aborda esses papéis sociais e principalmente desconstrói Dino é algo realmente incrível. Ao mesmo tempo em que ele aprende a ver de uma maneira diferente o papel da família (um processo que se amadureceria ao longo da série), seus sentimentos conflitantes em relação ao novo filho (o hilário e fofo Baby) é exibido com cuidado e beleza, não apenas pregando e jogando conceitos “modernosos” no início dos anos 90 (se a série fosse exibida hoje, as amebas repetindo variações da palavra “lacrar”, como um papagaio zumbi, fariam a festa no zap), mas contextualizando essas novas ideias, esperando a hora certa de explorá-las.

A conexão entre Dino e Baby é empregada como um recurso narrativo engraçado e fofo para mostrar como foi que esse bebê sapeca veio ao mundo. Os flashbacks são bem utilizados e todo o ambiente artístico, da concepção física dos personagens aos seus movimentos, cenários e coisas engraçadas desse cotidiano em Pangeia (como os programas de TV ou a comida que foge) contribuíram para marcar a série na mente do espectador logo de cara. A vida em um ambiente selvagem, rústico e em constante transformação, discutindo e criticando temas que a nossa civilização ainda não conseguiu resolver por completo. Ah… que falta faz esse tipo de programa!

Dinosaurs – 1X01: The Mighty Megalosaurus (EUA, 26 de abril de 1991)
Criadores: Michael Jacobs, Bob Young
Direção: William Dear
Roteiro: Michael Jacobs, Bob Young (baseado em uma ideia de Jim Henson)
Elenco: Dave Goelz, Bill Barretta, Stuart Pankin, Allan Trautman, Mitchel Evans, Jessica Walter, Steve Whitmire, Leif Tilden, Jason Willinger, Bruce Lanoil, Arlene Lorre, Sally Struthers, Kevin Clash, John Kennedy, David Greenaway, Pons Maar, Sam McMurray, Sherman Hemsley, Brian Henson, Terri Hardin, Michelan Sisti
Dublagem brasileira: José Santa Cruz, Maria Helena Pader, Miriam Ficher, José Leonardo, Marisa Leal, Roberto Macedo, Paulo Flores
Duração: 25 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais