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Crítica | Farewell Amor

por Luiz Santiago
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Estreia de Ekwa Msangi na direção de longas-metragens, Farewell Amor é um filme sobre uma família, sobre diferentes caminhos trilhados, traumas, memórias e busca para compreensão do presente, colocando em foco as mudanças pelas quais todos passam com os anos, especialmente quando ficam muito tempo separados um do outro. Walter (Ntare Guma Mbaho Mwine) está dando as boas-vindas para sua esposa Esther (Zainab Jah) e sua filha Sylvia (Jayme Lawson) 17 anos após deixá-las em Angola e migrar para os Estados Unidos em busca de vida melhor e fugindo da guerra em seu país.

Como a cena de abertura do filme é no aeroporto, o espectador tem um primeiro contato reticente com esses personagens. A direção reforça a atmosfera de reencontro juntamente com a estranha delicadeza que marca as relações entre os membros dessa família. O abraço afetuoso que a mulher dá no marido, que não sabe muito bem o que fazer com as mãos… e a própria mão estendida para cumprimentar a filha são indícios de uma tentativa de aproximação, mas sem saber muito bem como aproximar-se. A captura dessas reações meio desajeitadas é realizada de forma genuína e temos nesse momento a sensação de estranheza que toma o trio; uma sensação que carregamos por todo o primeiro bloco da obra.

O roteiro divide as ações em três pontos de vista (um para cada familiar) e este é o melhor recurso utilizado pela diretora. A maneira como alguns eventos vão sendo revisados, expandidos, apresentados a partir de outro ângulo completa informações abruptamente cortadas ou deixadas de lado numa sugestão de continuidade. A partir dessas visões, o público tem tempo de conhecer melhor cada personagem, de mergulhar um pouco mais em seus sonhos, sua personalidade e principalmente, em seus desconfortos. Eu comecei o texto destacando o encontro sem jeito no aeroporto e apontei para o fato de que a cineasta leva adiante esse desconcerto, sendo esse elemento da obra aquilo que pauta os dilemas enfrentados e os impasses que pai, mãe e filha precisarão vencer para permanecerem juntos.

Um ponto para se discutir de perto é a retratação da diretora para a fé de Esther. Ela é cristã, mas segue por uma tendência mais próxima do fanatismo e tem a má sorte de relacionar-se com pessoas que cobram sem nenhum pudor as doações em dinheiro como forma de condição para bênçãos celestiais. Inicialmente essa representação parece querer direcionar o espectador para o lado da total desconfiança em relação à mãe (por conta de seu fanatismo religioso), mas o próprio filme mostra, especialmente quando entramos no ponto de vista de Esther, nuances de sua persona, de sua relação com a filha e de sua relação com Deus. A princípio acreditei que roteiro e direção estavam seguindo um caminho de puro julgamento bobo em relação à personagem, mas mudei de opinião quando diferentes camadas foram apresentadas; e principalmente pela forma como a fé acabou sendo mostrada como um componente positivo na vida de Esther, não apenas como um caminho para repreensão da filha ou fixação doutrinária a cada ação proposta por alguém da casa.

Construir uma vida longe das pessoas que se ama não é fácil, e pode levar cada lado dessa moeda buscar algum tipo de refúgio. Walter foi encontrar isso nos braços de outra mulher. Esther foi encontrar isso nos braços de Deus, de sua comunidade religiosa. Em Farewell Amor, o que vemos é o choque entre as mudanças que ocorreram ao longo de 17 anos e uma investigação das possibilidades desse casal permanecer juntos, principalmente agora, com a filha encontrando a sua própria forma de expressão através da dança, nesse novo país onde mora. A conclusão do último ato meu pareceu perfeitinha demais para um filme que mostrou uma escalada tão bem amarrada de sentimentos conflitantes e hábitos distintos de cada um, o que destoa consideravelmente da unidade geral do filme, apesar de não torná-lo ruim. A união e o respeito, mesmo entre as diferenças, é o brado de vitória final e nos deixa com um pequeno sorriso no rosto, como deve ser.

Farewell Amor (EUA, 2020)
Direção: Ekwa Msangi
Roteiro: Ekwa Msangi
Elenco: Ntare Guma Mbaho Mwine, Zainab Jah, Jayme Lawson, Joie Lee, Nana Mensah, Marcus Scribner, Brandon Lamar, Felipe Almonte, Darlene Arrington, Gregory Barker, Jessie Barnes Jr., Joy Batra, Tremaine Brown Jr., Francisco Burgos, Shirley Capaldo
Duração: 95 min.

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