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Crítica | Fargo – 4X01 e 02: Welcome to the Alternate Economy / The Land of Taking and Killing

por Ritter Fan
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Welcome to the Alternate Economy
1X01

The Land of Taking and Killing
1X02

  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todo nosso material sobre Fargo.

Depois de um hiato de mais de três anos usados para colocar na telinha sua segunda grande criação, Legion, e para estrear na direção de seu primeiro longa cinematográfico com bem menos sucesso, Noah Hawley retorna para sua empreitada original vencedora com mais uma temporada de Fargo, série em formato de antologia, com cada temporada contando uma história fechada, todas em tese inspiradas pelo filme homônimo de 1996 dos Irmãos Coen. Nos dois episódios da 4ª Temporada lançados simultaneamente, o showrunner parece estabelecer a mais diferente das histórias da série até agora, com a ação se passando em 1950, em Kansas City, Missouri e lidando com a rivalidade entre gangues rivais, uma de italianos liderada por Josto Fadda (Jason Schwartzman) e outra de afro-descendentes liderada por Loy Cannon (Chris Rock).

A escolha da FX em lançar os dois primeiros episódios simultaneamente, ambos escritos e dirigidos por Hawley, vale salientar, foi acertada tanto para entregar um efetivo começo de história para quem aguardava ansiosamente o retorno da série, como para estabelecer um arco de introdução dos personagens que, aparentemente, popularão a temporada. Depois de um interessantíssimo preâmbulo em que a adolescente Ethelrida Pearl Smutney (E’myri Crutchfield) conta a história das gangues de sua cidade desde o começo do século XX, com uma tradicional “troca de filhos” dos chefões para garantir a paz que nunca é duradoura, a narrativa continua mantendo a jovem como uma espécie de narradora ou, talvez melhor dizendo, contextualizadora, já que o objetivo é, principalmente, o de abordar o preconceito racial, aqui devendo ser entendido de maneira mais ampla, não só contra os negros, mas também contra os italianos.

O primeiro episódio, Welcome to the Alternate Economy, investe muito tempo nesse começo e consegue segurar bem o ritmo até o fim de sua primeira metade, com um atentado que altera o status quo da família italiana. No entanto, curiosamente, apesar de Chris Rock ter destaque desde o final do preâmbulo, seu personagem permanece distante, pouco desenvolvido, algo que continua inclusive no capítulo seguinte, The Land of Taking and Killing que, estranhamente, coloca Doctor Senator, personagem vivido pelo ótimo Glynn Turman e que é braço direito de Loy Cannon, à frente dos melhores momentos. E, mesmo que Schwartzman acabe tendo um papel mais interessante que o de Rock, por vezes lembrando o divertidamente caricato Alphonse “Big Boy” Caprice de Al Pacino em Dick Tracy, mesmo ele é sufocado pela presença mais magnética e ameaçadora de Salvatore Esposito como Gaetano Fadda, irmão mais novo de Josto e recém-chegado da Itália.

E, com isso, o que acontece é que o conflito central acaba tendo menos peso se comparado com a continuidade da narração/contextualização de Etherilda que, como aprendemos, é filha de pai branco e mãe negra e vive em uma casa que faz vezes de funerária, negócio financeiramente ameaçado que leva seus pais a pedir empréstimo a Loy. Essa mesma linha narrativa ganha recheio quando, logo no início do segundo episódio, Zelmare Roulette (Karen Aldridge), tia de Etherilda, e sua amante Swanee Capps (Kelsey Asbille) fogem da prisão no estilo Um Sonho de Liberdade e aparecem na funerária pedindo refúgio, algo que, claro, coloca o lugar como alvo de policiais federais.

Os toques estranhos farguianos da série vêm por conta do policial cheio de tiques nervosos que está no bolso de Josto e, claro, da estranhíssima enfermeira – e anjo da misericórdia – Oraetta Mayflower, vivida por Jessie Buckley. Ela derrama toda as doses de bizarrices possíveis e promete muito mais em capítulos posteriores, ainda que mesmo ela esteja longe ainda de ser tão marcante quanto os melhores vilões de Fargo.

Não sei se foi o tempo longo demais que passou, não sei se foi a alteração radical do tipo de atmosfera que se espera da série, ou talvez uma narrativa dispersa demais, sem estabelecer um norte mais engajante do que a boa e velha briga de gangues por território e negócios (é sem dúvida interessante ver Loy e Doctor vendendo a ideia do cartão de crédito aos bancos, com todas as críticas ao sistema bancário e ao consumismo que decorrem daí) com personagens-satélite curiosos, ameaçadores e, no caso de Etherilda, doces. Seja o que for, faltou a chama que cada uma das temporadas anteriores teve desde seu início, algo que sem dúvida pode significar problemas para o desenvolvimento da história.

Claro que Hawley de certa forma compensa roteiros menos inspirados com uma estética absolutamente exemplar e irretocável. A direção de arte – essa sim! – voltou com força total, ambientando muito bem os episódios nos anos 50 dos EUA e ajudando na imersão do espectador. A fotografia contrasta as tomadas externas claras e muito bem compostas de “vazios” com tomadas internas escurecidas, compostas por um grande número de personagens e estabelecendo o tipo de linguagem visual que a série sempre se esmerou em ter. No entanto, pelo menos pelo momento, estamos diante de um caso clássico de forma sobre substância. Há muita beleza, muita cor, muitos cenários para ver e sorver, mas há pouco material para ser efetivamente mastigado além do pano de fundo da segregação racial.

No entanto, claro, estes são apenas os dois primeiros episódios (de 11) da temporada e ainda há muito chão pela frente. Hawley tem todas as peças que ele precisa. Falta só ele arrumar o tabuleiro de Fargo como só ele sabe fazer.

Fargo – 4X01 e 4X02: Welcome to the Alternate Economy / The Land of Taking and Killing (EUA, 27 de setembro de 2020)
Desenvolvimento: Noah Hawley
Direção: Noah Hawley
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Chris Rock, Jessie Buckley, Jason Schwartzman, Ben Whishaw, Jack Huston, Salvatore Esposito, E’myri Crutchfield, Andrew Bird, Anji White, Jeremie Harris, Matthew Elam, Corey Hendrix, James Vincent Meredith, Francesco Acquaroli, Gaetano Bruno, Stephen Spencer, Karen Aldridge, Glynn Turman, Timothy Olyphant, Kelsey Asbille, Rodney L. Jones III, Hannah Love Jones, Tommaso Ragno
Duração: 62 min. cada

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