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Crítica | Fargo – 4X08: The Nadir

por Ritter Fan
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Uma das melhores sequências de ação em filmes de máfia na história recente é a espetacularmente coreografada cena da escadaria em Os Intocáveis, de Brian de Palma, por sua vez uma bela homenagem à sequência correspondente em O Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein. The Nadir traz a “versão Fargo” dessa memorável cena ao trabalhar a tensão da espera do trem por Zelmare e Swanee, somente para elas verem a estação invadida por Deafy e toda a força policial de Kansas City.

Mas, como eu disse, essa é a “versão Fargo” da famosa cena de De Palma, já que Sylvain White, na verdade, brinca com a forma como a tensão é construída por meio de sons, inclusive choro de bebê e o que parece ser um carrinho, somente para fazer o contrário do filme de 1987 e estabelecer uma elipse que nos apresenta ao desfecho do confronto, com Odis, chegando atrasando e nos fazendo ver o massacre de civis e policiais em uma cornucópia de cores representando o macabro. Além disso, no lugar de lidar com o inesperado, o roteiro de Noah Hawley, Enzo Mileti e Scott Wilson faz exatamente o que se espera do momento, incluindo o assassinato de Deafy e de Swanee por Odis e a fuga de Zelmare para que, claro, ela possa vingar-se mais para a frente.

Não era sequer intenção fazer algum mistério. Deafy, por mais eficiente e inteligente que possa ser, e mesmo depois de brilhantemente ameaçar Loy para conseguir extrair dele o paradeiro das moças, é, fundamentalmente, uma pessoa inocente que parece acreditar no bondade do Homem. Quando Deafy concorda que Odis faça parte da emboscada, misturando mentira com verdade sobre sua conversa com Loy, ele assina sua sentença de morte. Está lá escrito com todas as letras que o delegado federal veria seu fim nessa missão, restando apenas saber se foi mesmo Loy que mandou matá-lo ou se Odis, nesse ponto, agiu por conta própria para salvar a própria pele.

Se a homenagem a Brian de Palma funcionou muito bem, o mesmo não pode ser dito do ataque do pessoal de Fargo, aliado à Cannon, aos agora unidos irmãos Fadda. Não só o ataque é curtíssimo, quase anticlimático, sendo revertido apenas por um enlouquecido Gaetano brandindo pistolas como se não houvesse amanhã, como sua consequência principal – a morte da matriarca da família – chega a ser engraçada de tão marretada na trama. Quero dizer, não a morte em si, mas sim a maneira como o roteiro lida com a presença da mãe de Josto e Gaetano, basicamente colocando uma seta vermelha em néon por sobre sua cabeça ao topo da escadaria da casa. Faltou construção orgânica não só neste episódio, como também nos anteriores, de maneira que o espectador pudesse se importar com a personagem para além do fato objetivo de ela ser mãe dos dois e que sua morte significa guerra aberta.

Por outro lado, as sequências em que Josto e Gaetano se reconciliam, frustrando os planos de Loy, funcionam muito bem para “passar a perna” no espectador e para sublinhar que, apesar de ele próprio dizer que é só músculo, Gaetano é também muito cérebro, capaz de perceber o plano maquiavélico do inimigo mortal de sua família. A união dos dois, com direito a juramento de joelhos, abraços e goles generosos de bebida, é, guardadas as devida proporções, a forma como a mãe da dupla deveria ter sido manejada no episódio.

Outro aspecto positivo foi o diálogo entre as outras mães, Dibrell Smutny, prisioneira em sua própria casa, e Buel Cannon que vai até lá atrás do filho mais velho para contar sobre a suposta morte do mais novo. J. Nicole Brooks e Anji White têm seus minutinhos para brilhar juntas, em um momento bem construído de dor compartilhada que existe para sublinhar os eventos brutais que orbitam suas vidas. Seria fantástico, ainda que eu ache improvável, que as duas ganhem mais destaque ainda nessa estirada final.

Mesmo que Oraetta tenha também algum destaque e que aprendamos que o Dr. Harvard na verdade não morreu e que ela descubra que foi Ethelrida quem enviou a carta, sua trama continua desconectada da principal e, a essa altura do campeonato, tenho receio que ela não tenha mais oportunidade para entrar organicamente no conflito entre as máfias, permanecendo em uma história paralela que apenas se passa na mesma cidade. E o mesmo vale para a própria Ethelrida, claro, já que ela não só teve muito menos desenvolvimento que Oraetta, como tem sua história cada vez mais apagada, mesmo com a promessa, agora, de envolver-se novamente com a enfermeira ensandecida justamente no que parece ser essa sub-trama que mal tangencia a principal.

The Nadir tem a violência que esperamos de Fargo, mas não da maneira constantemente inspirada que nos acostumamos a ver de qualquer coisa na TV que tenha Noah Hawley por trás. Apesar da sequência na estação ter sido o ponto alto em termos de ação e os diálogos de Deafy com Loy e de Dibrell com Buel terem sido o ponto alto no lado falastrão da temporada, elas acabaram sabotadas por outros momentos menos elaborados, que pecaram seja em construção, seja em entrelaçamento com a história macro.

Fargo – 4X08: The Nadir (EUA, 08 de novembro de 2020)
Desenvolvimento: Noah Hawley
Direção: Sylvain White
Roteiro: Noah Hawley, Enzo Mileti, Scott Wilson
Elenco: Chris Rock, Jessie Buckley, Jason Schwartzman, Ben Whishaw, Jack Huston, Salvatore Esposito, E’myri Crutchfield, Andrew Bird, Anji White, Jeremie Harris, Matthew Elam, Corey Hendrix, James Vincent Meredith, Francesco Acquaroli, Gaetano Bruno, Stephen Spencer, Karen Aldridge, Timothy Olyphant, Kelsey Asbille, Rodney L. Jones III, J. Nicole Brooks
Duração: 50 min.

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