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Crítica | Fargo – 4X10: Happy

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todo nosso material sobre Fargo.

Depois do excelente desvio narrativo em East/West, a história principal retorna do ponto onde parou em The Nadir, em um episódio que realmente marca o início do fim, ainda que ele tome alguns atalhos narrativos que incomodam. O primeiro deles é o avanço temporal de algumas semanas que coloca a guerra aberta entre as gangues de Fadda e Cannon como algo em segundo plano, com conflitos vistos em regime de montagem, com direito a manchetes de jornal que marcam bem didaticamente a passagem de tempo.

E não há nada particularmente errado nessa escolha se essas consequências da guerra fossem sentidas em Happy, mas, infelizmente, não é isso que acontece. Precisamos ser informados por Loy que ele parece estar perdendo a guerra, mesmo agora morando em uma suíte luxuosa do hotel local. Ajuda o fato de ele pedir socorro a Lionel “Happy” Halloway (Edwin Lee Gibson), gângster “do interior” quase da família de Buel, mas sua introdução carece de peso e construção. Ele está ali apenas para trair Loy de forma a colocar seu primo Leon, que fora espancado pelo chefão, como o novo Loy da cidade, algo que cheira fortemente à conveniência de roteiro, pois não são não sentimos a raiva vingativa de Leon, como a própria presença de Happy poderia ter sido algo pelo menos referenciado antes. Do jeito que ficou, pareceu aquela conveniência absurda e artificial da atenção que foi dada à mãe de Josto e Gaetano Fadda somente para ela morrer ao final de The Nadir.

Outro aspecto estranho é que, mesmo com o tempo que se passou, Oraetta, inexplicavelmente, continua por ali mesmo tendo dado todas as indicações de que fugiria da cidade quando descobriu que o Dr. Harvard estava em coma, podendo acordar a qualquer hora e revelar que foi ela que tentou matá-lo. Se por um lado é perfeitamente compreensível que ela tenha mudado de ideia para pode vingar-se de Ethelrida, a pergunta que não quer calar é: porque então ela levou semanas para fazer isso e, quando tentou uma aproximação, simplesmente foi lá na varanda da garota tirar satisfações, só depois tentando realmente envenená-la, sendo interrompida em sua tentativa primeiro pelo fantasma do capitão do navio escravagista cuja história finalmente aprendemos e, depois, pela presença da polícia em sua casa.

Mas o episódio não teve apenas problemas. Como tudo que Noah Hawley faz na televisão, mesmo quando ele é menos do que perfeito, o showrunner ainda consegue encantar e espantar. Em Happy, o espanto ficou por conta da maneira como ele lidou com a relação entre Josto e Gaetano, agora consolidados como irmãos inseparáveis e com Odis, tentando retomar controle sobre sua vida depois que percebeu o assassinato de Deafy como seu fundo do poço pessoal. Para começar a expiar seus pecados, ele lidera a invasão ao quartel-general dos Faddas, levando-os para a prisão, mas, claro, por pouquíssimo tempo, só o suficiente para que Josto resolva eliminar o policial de vez em uma sequência magistral em que, de um lado, Odis morre ao perceber que seu TOC em razão de trauma de guerra o impediria de sequer tentar fugir, resignando-se, feliz, com a lembrança do amor de sua vida e, de outro, Gaetano, com a missão cumprida, simplesmente tropeça e estoura seus próprios miolos. A vida é assim, não é mesmo?

E, como se isso não bastasse, Ethelrida finalmente tem o destaque que a temporada deu a entender que daria à personagem. Esbanjando seu francês e seu estudo de arte, ela tem uma reunião formal no novo escritório de Loy Cannon em que ela barganha pela devolução da casa e negócio de seus pais – que, aliás, ficou bem movimentado com a guerra – em troca de uma arma que garantiria a vitória aos Cannons. E que arma é essa: a prova de que o patriarca da família Fadda foi morto por Oraetta, consistente especialmente do anel que ele usava e que a enfermeira guardou em sua coleção macabra. Não sei como isso poderia mudar o rumo do conflito, mas tanto a jovem quanto Loy sabem muito bem e será sem dúvida interessante ver como isso será fechado, incluindo, claro, a possível presença mortal de uma vingativa Zelmare.

O penúltimo episódio da temporada sofre por correr com a guerra, introduzir novo personagem a essa altura do campeonato e lidar de maneira estranha com Oraetta, mas compensa com sua elegância de sempre, com os eventos mortais que orbitam os Faddas e, claro, com Ethelrida mostrando seu valor. Ah, e sem dúvida o fato de a temporada ter definitivamente mudado de história policial para história de fantasma também ajuda a dar um sabor especial a ela!

Fargo – 4X10: Happy (EUA, 22 de novembro de 2020)
Desenvolvimento: Noah Hawley
Direção: Sylvain White
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Chris Rock, Jessie Buckley, Jason Schwartzman, Ben Whishaw, Jack Huston, Salvatore Esposito, E’myri Crutchfield, Andrew Bird, Anji White, Jeremie Harris, Matthew Elam, Corey Hendrix, James Vincent Meredith, Francesco Acquaroli, Gaetano Bruno, Stephen Spencer, Karen Aldridge, Kelsey Asbille, Rodney L. Jones III, J. Nicole Brooks, Edwin Lee Gibson
Duração: 55 min.

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