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Crítica | Fassbinder (2015)

por Luiz Santiago
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Juliane Lorenz começou a trabalhar com o prolífico e turbulento diretor Rainer Werner Fassbinder em 1976, como parte da equipe auxiliar no telefilme Eu Só Quero que Vocês Me Amem e como assistente de direção em Roleta Chinesa. No ano seguinte, ela assumiria o papel de montadora oficial do diretor, trabalho que realizou de Bolwieser – A Mulher do Chefe de Estação até o canto do cisne fassbinderiano, Querelle (1982), uma parceria que durou 13 filmes e 1 épica série de TV, tudo em apenas 6 anos de trabalho. Foi com base em suas experiências ao lado de Fassbinder e como “sequência e complemento” de um documentário que ela mesma havia dirigido em 2005 (Life, Love & Celluloid) que a artista estruturou uma ideia e a apresentou a Annekatrin Hendel, que transformaria esta ideia no presente documentário de 2015.

O filme tem por objetivo construir um retrato íntimo de Fassbinder a partir do olhar de algumas pessoas que foram muito próximas a ele. O roteiro demonstra uma preocupação em não se apartar completamente (ou por muito tempo) dos aspectos da vida pessoal do diretor, fazendo nesse processo um apanhado de suas realizações, de O Vagabundo da Cidade até a sua última aparição em vídeo, em uma pequena entrevista dada ao diretor Wolf Gremm (que estava dirigindo Fassbinder em Kamikaze 1989) poucas horas antes de morrer.

Tendo como guias os depoimentos de Margit Carstensen (em cuja entrevista aconteceu algo que me enfureceu tremendamente: um assiste de câmera ou de som chutou os cachorros da atriz em baixo da mesa, para que não fizessem barulho durante a gravação), Irm HermannHanna SchygullaHarry Baer, o longa expõe uma série de casos protagonizados pelo diretor, sua relação com os amigos/atores/Companhia de Teatro, sua visão política dentro da esquerda radical, sua dificuldade de manter relacionamentos por muito tempo e a maneira como “se livrava” das pessoas à sua volta. Falando assim, dá a impressão que a obra é um acúmulo de fofocas comportamentais de um grande artista, mas os depoimentos não chegam nem perto desse tipo de abordagem maliciosa. Todos os entrevistados dão conta da genialidade e docilidade do diretor em alguns momentos versus os seus rompantes de fúria e quebra brusca de laços fraternos ou amorosos.

A forma como Annekatrin Hendel pensou a exibição de toda a filmografia de Fassbinder (como transição entre blocos, com os títulos dos filmes passando em letras garrafais e ao som de Rammstein) acaba desperdiçando a oportunidade de uma abordagem mais pontual para as obras de cada fase da carreira do cineasta, mas ainda assim, o panorama que temos aqui é bem amplo, abordando igualmente o trabalho de Fassbinder com Volker Schlöndorff em Baal (1970), além de trazer muitas entrevistas do diretor comentando a produção ou a premiação de alguns de seus filmes e curtos momentos de bastidores. Outro destaque vai para a exibição de cenas inéditas de O Amor é Mais Frio Que a Morte (1969) e Os Deuses da Peste (1970). Para quem quer conhecer um pouco mais sobre esse turbilhão de pessoa, Fassbinder (2015) é certamente uma das interessantes fontes disponíveis.

Fassbinder (Alemanha, 2015)
Direção: Annekatrin Hendel
Roteiro: Annekatrin Hendel (baseado em uma ideia de Juliane Lorenz)
Elenco: Margit Carstensen, Irm Hermann, Juliane Lorenz, Hanna Schygulla, Harry Baer, Hark Bohm, Hubert Gilli, Wolf Gremm, Günter Rohrbach, Fritz Müller-Scherz, Volker Schlöndorff, Thomas Schühly
Duração: 95 min.

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