Home FilmesCríticas Crítica | Entre Armas e Brinquedos (Fatman)

Crítica | Entre Armas e Brinquedos (Fatman)

por Ritter Fan
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Como funcionaria o Papai Noel no mundo real? Seria ele um ser mágico e alegre que viveria no Polo Norte fabricando brinquedos com seu exército de elfos para distribuir magicamente para as crianças merecedoras do mundo todo no Natal ou um sujeito violento e depressivo, que perdeu as esperanças pela humanidade, recebe dinheiro anualmente do governo americano para sustentar sua fábrica e fomentar uma indústria de trilhões de dólares?

Em 2020, claro, somente o segundo Papai Noel seria possível e ele, claro, não só teria que ser vivido por Mel Gibson, como seu personagem, de brinde, ainda precisaria ser caçado por um assassino (Walton Goggins) contratado por Billy Wenan (Chance Hurstfield), uma criança rica e mimada que recebeu um pedaço de carvão no lugar de brinquedos do bom velhinho, enquanto lida com um contrato com o exército americano para fabricar armamentos de maneira a complementar sua renda. Essa é a premissa de Entre Armas e Brinquedos, que, por incrível que pareça, é levada a sério por seus roteiristas e diretores Eshom e Ian Nelms que tiveram essa ideia há mais de 10 anos e demoraram esse tempo todo para finalmente retirá-la do papel.

Enquanto a construção da lógica do Papai Noel realista, aqui chamado apenas de Chris Cringle, é intrigante e surpreendentemente bem feita se aceitarmos, claro, que se trata de um longa de baixo orçamento extremamente cínico e com alguns pulos de lógica que não machucam ninguém, e enquanto Gibson está muito divertido em seu personagem que, hoje em dia, entrega carvão para basicamente a metade das crianças do mundo (e por isso ele recebe um estipêndio mais baixo do governo americano, forçando-o a aceitar o contrato de armamentos), o longa se perde em sua construção. Os Irmãos Nelms parecem tão apaixonados por sua inegavelmente divertida premissa que eles se esquecem de levá-la a cabo adequadamente, inclusive arriscando muito menos do que era de se esperar considerando a sinopse e a escalação de Goggins em oposição a Gibson.

Se é para subverter a lógica infantil do Papai Noel, transformando-o basicamente em um mercenário cujo bom coração ainda é visível, mas muito pouco, então os Nelms tinham que ter mergulhado a fundo na sujeira da coisa toda, entregando um anti-De Ilusão Também se Vive. Ao investir muito tempo no jovem Billy e sua recusa teimosa de perder qualquer coisa e no trauma do assassino de Goggins que só ganhou um presente do Papai Noel na vida e tem como hobby comprar presentes da fábrica no Polo Norte (ou quase) recebidos por crianças e adultos que queiram vendê-los, o longa acabando ficando arrastado demais e desfocado demais, desperdiçando tempo que deveria ter sido empregado no desenvolvimento do personagem de Gibson e sua relação com a Ruth, a Mamãe Noel, muito simpaticamente vivida por Marianne Jean-Baptiste.

Além disso, com toda a “calma” do roteiro, que conta até mesmo com detalhes da viagem de carro do assassino pelos EUA e Canadá até o lar de Cringle, a sequência climática de ação acaba espremida nos 20 minutos finais, tornando-se, consequentemente, corrida demais e, pior, simplificada demais. Não só tudo é muito fácil e conveniente, como a ação em si deixa a desejar, com o momento de catarse sendo mal explorado. É o típico caso de uma ideia que poderia até mesmo ser classificada de brilhante sendo executada sem cuidado, dependendo demais dos atores, mas entregando-lhes pouco para realmente trabalhar além de seus respectivos personagens arquetípicos que já vimos os dois encarnarem de maneiras diferentes ao longo dos anos.

Faltou coragem aos Irmãos Nelms para realmente apostarem todas as fichas em sua bem bolada premissa. Eles tinham tudo que era necessário para entregar um filme memorável sobre um Papai Noel realista, mas o resultado ficou aquém das possibilidades, tornando-se não mais do que uma curiosidade que sem dúvida divertirá, mas que não deixará sua marca. Não é que os diretores e roteiristas mereçam um pedaço de carvão pelo esforço, mas eles certamente poderiam ter feito por merecer o presente que ganharam das produtoras.

Entre Armas e Brinquedos (Fatman – EUA/Reino Unido/Canadá, 2020)
Direção: Eshom Nelms, Ian Nelms
Roteiro: Eshom Nelms, Ian Nelms
Elenco: Mel Gibson, Marianne Jean-Baptiste, Chance Hurstfield, Walton Goggins, Robert Bockstael, Eric Woolfe, Susanne Sutchy, Deborah Grover
Duração: 100 min.

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