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Crítica | Fear the Walking Dead – 5X13: Leave What You Don’t

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, a crítica de todos os episódios da série.

Fear the Walking Dead tem tentado provar que, mesmo em um apocalipse zumbi, “gentileza gera gentileza”, arrastando o espectador para assistir uma história cansada, sem tensão, presa demais a princípios bonitos, mas impraticáveis que, no final das contas, se espremermos, não levam a lugar algum. É como um novelão mexicano em que o drama criado por trilha sonora melosa e lágrimas nos olhos dos protagonistas é trocado por diálogos repetitivos e que explicam o que estamos vendo, além de um desfile interminável de ameaças vazias, daquelas que nem o espectador mais inexperiente espera que se concretizem.

Leave What You Don’t é o ponto alto dessa estratégia furada e perdida dos showrunners. Relembrem-se do episódio e digam-me: quantas vezes, em meros 40 minutos, armas foram apontadas de um lado a outro sem que sequer um tiro significativo fosse disparado? Logan entra na refinaria acompanhado de três ou quatro capangas e, sem suar, subjuga um grupo muito maior que tem ainda mais armas que eles. Quando outros “mocinhos” chegam, mais armas são apontadas, mais discussões intermináveis acontecem e só há algum tipo de ação porque, aparentemente, fogo e fumaça agora atraem mortos-vivos.

E o pior de tudo é ver Logan, em tese o grande vilão da temporada, mudar de ideia sobre suas atitudes em razão do poder de convencimento de Sarah e de uma história chorosa dele tentando salvar uma mulher e não conseguindo porque o caminhão de Clayton havia sido roubado por ela, história essa que é ridiculamente paralelizada pela mesma situação acontecendo novamente, só que com um desfecho diferente para a surpresa de absolutamente ninguém (esse tipo de espelhamento é roteiro de marinheiro de primeira viagem ou de estudante de cinema em seu primeiro ano). Mas a cereja no bolo não foi a choradeira que fez o vilão tornar-se “bonzinho”, mas sim sua eliminação sem cerimônias por novos personagens que surgem minutos antes em flashback no como se eles sempre tivessem existido. Foi sem dúvida uma surpresa, mas ruim. Sai Logan, um vilão que, antes mesmo de tornar-se vilão de verdade, mudou de lado, e entra um novo grupo que até tem mira boa, devo reconhecer (foram uns quatro ou cinco tiros certeiros na cabeça), mas que, aparentemente, também adora conversar e apontar armas sem efetivar ameaças naqueles constantes impasses de faroestes clássicos, só que sem função narrativa que não seja irritar o espectador. Ou seja, pelo visto saiu o “seis” e entrou o “meia dúzia”.

Não tenho nem como culpar Ashley Cardiff e Nick Bernardone pelo roteiro mequetrefe, até porque a primeira escreveu Humbug’s Gulch sozinha, um dos melhores episódios da temporada (ok, sei que não é muito, mas vocês entenderam), pois, para mim, o nódulo do problema é a condução da história macro por Andrew Chambliss e Ian Goldberg. Os showrunners foram bem sucedidos no processo inicial de reboot da série, mas, não muito tempo depois da primeira metade da temporada anterior, demonstraram não ter um plano de médio prazo para seus personagens, deixando-os à deriva em historietas cada vez mais modorrentas e desfocadas. Eles até agora não conseguiram acertar na criação de ameaças e colocaram o mantra de Morgan à frente de qualquer outra consideração, retirando todo e qualquer resquício de potencial de conflito. Diante disso, o que Cardiff e Bernardone poderiam fazer que não uma sucessão de momentos de tensão vazia, com os personagens de uma série de zumbis tentando – episódio atrás de episódio – resolver tudo na base da paz e do amor? Sei que pareço insensível em basicamente pedir violência e mortes, mas a questão é que, do jeito que está, a temporada simplesmente não está funcionando da maneira que os showrunners queriam que funcionasse.

Pelo menos a direção de Daisy von Scherler Mayer soube trabalhar bem a decupagem na sequência de ação com os zumbis caindo do precipício e atacando a refinaria, trazendo algum resquício de tensão, mesmo que os acontecimentos sejam mais do que telegrafados, já que dificilmente Logan e Sarah morreriam naquele momento e assim por diante. Mas é um diferencial que retirou o episódio das armadilhas criadas por seus próprios showrunners e mostrou que, assim como a sequência da casa cercada por minas em Channel 4 ou a das escadas em Ner Tamid, ainda há espaço para um pouco de criatividade e trabalho técnico em meio a tanta bobagem narrativa que só faz a temporada afundar.

Leave What You Don’t é fruto de uma sequência de episódios poucos inspirados que marca negativamente essa segunda metade da quinta temporada (não que a primeira tenha sido muito melhor, mas pelo menos tivemos The End of Everything, não podemos esquecer). Simplesmente não consigo mais ver como os três episódios que restam conseguirão remediar, mesmo que parcialmente, os problemas das escolhas narrativas a ponto de, pessoalmente, não estar nem um pouco interessado para descobrir mais sobre Virginia (Colby Minifie) e seu grupo de snipers cowboys.

Fear the Walking Dead – 5X13: Leave What You Don’t (EUA, 08 de setembro de 2019)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Daisy von Scherler Mayer
Roteiro: Ashley Cardiff, Nick Bernardone
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Garret Dillahunt, Alexa Nisenson, Jenna Elfman, Rubén Blades, Matt Frewer, Austin Amelio, Sydney Lemmon, Colby Hollman, Peter Jacobson, Colby Minifie, Karen David
Duração: 44 min.

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