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Crítica | Fear the Walking Dead – 6X01: The End Is the Beginning

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Fear the Walking Dead sempre foi melhor ao trabalhar episódios solo ou em duplas e The End Is the Beginning, apesar de focar em Morgan, um dos problemas mais salientes da mediana (sendo bonzinho) temporada anterior, não é exceção. O retorno da primeira série derivada de The Walking Dead para sua inacreditável 6ª temporada e 70º episódio (impressionante como o tempo passa!) dá aquela esperança de que vem coisa boa por aí ao espectador que vem acompanhando tudo desde o começo e que passou pelas radicais reformulações da série que, de derivado prelúdio passou para derivado continuação e, hoje, é mais ou menos temporalmente paralela à série principal (eu acho), com a eliminação do elenco principal quase inteiro, transferência de Morgan de uma série para a outra e assim por diante, sem nunca realmente conseguir entregar consistência.

Seja como for, The End is the Beginning promete mais um recomeço. Se vai dar certo, só o tempo dirá, mas pelo menos o episódio inaugural faz um bom esforço para repaginar Morgan, potencialmente extirpando aquela filosofia insuportável do “não matarás” ou “serás bonzinho como um carneirinho” que simplesmente não estava funcionando e transformando-o em algo diferente que ele mesmo ameaçadoramente diz para Virginia ao final pelo rádio – “Morgan Jones está morto. Você está lidando com outra pessoa agora.” – com a câmera depois focando no personagem agora à cavalo, vestido como bandoleiro e armado com um baita machado no lugar daquela vareta ridícula que ele usava. Só faltou tocar “Bad to the Bone“, de George Thorogood, para completar o clichê. É esse tipo de coisa boba que me dá a esperança de que no mínimo veremos Morgan massacrando o grupo de Virginia para salvar seus amigos e não tentando apenas “dialogar” com assassinos. Qualquer coisa menos do que isso será vergonhoso, já digo logo.

O episódio em si, então, é dedicado à ressurreição de Morgan, baleado por Virginia e deixado à beira da morte, além de cercado de desmortos, em End of the Line. Uma situação impossível cuja explicação é convenientemente pulada para que ela faça parte de um dos mistérios da temporada, já que vemos Morgan semanas depois do cliffhanger de barba comprida, mas ainda muito ferido, com pele putrefata no ferimento que o permite ser invisível aos mortos-vivos (pelo menos uma vantagem!). Ele foi salvo por algum bom samaritano que não só deixou uma mensagem para ele, como deu-lhe  um lar em uma torre d’água que serve de esconderijo já que o ex-filósofo de botequim sabe que está sendo caçado por Virginia.

E, de fato, caçado ele está sendo, só que pelo imponente caçador de recompensas Emile LaRoux (Demetrius Grosse), contratado por “Ginny”, que porta o tal machado que Morgan se apossaria no final e usa um sabujo para achar suas vítimas. Sua introdução, logo no começo do episódio, faz a mímica da forma como John Dorie e Morgan foram inseridos na série em What’s Your Story?, no início da 4ª temporada. A ideia é boa, auto-referente e com o necessário twist que revela quem exatamente é aquele simpático estranho preparando feijões enlatados com tabasco que ele entrega para sua futura vítima como uma última refeição. A partir daí, acompanhamos Emile, no melhor estilo Jason Voorhees, “andando” atrás de Morgan que, por seu turno, esbarra em Isaac (Michael Abbot Jr.), ex-Ranger de Virginia que quer a ajuda do moribundo personagem para chegar até sua mulher prestes a dar à luz.

Há um caminhão de conveniências a serem aceitas só nessa premissa, claro, mas se eu ficar de picuinha com cada detalhe que desvia dos conformes ideais de minha mente, não sairei do lugar, além de nenhuma obra audiovisual realmente resistir a esse tipo de escrutínio. Portanto, a premissa é simples e boa: Morgan está sendo caçado por um sujeito visualmente muito bacana e é ajudado por um homem desesperado que precisa, por seu turno, de sua ajuda. Faz parte da estrutura de histórias como essa o moribundo que mal consegue andar, mas que encontra forças para dizimar hordas de desmortos e o próprio caçador de recompensas, além de tudo acontecer na base do “desmaia e acorda em outro lugar” que chega a ser inadvertidamente engraçado.

A vantagem é que quem comanda a direção é o veteraníssimo Michael E. Satrazemis, operador de câmera transformado em diretor de fotografia, por sua vez transformado em diretor (além de co-produtor executivo da série) que realmente sabe o que faz. Não só as tomadas noturnas são exemplares, como na abertura e, depois, já no esconderijo de Isaac (aliás, pera lá, essa é a mesma represa da 3ª temporada ou é outra – porque caramba, haja coincidência, hein?), como ele sabe trabalhar o destaque em Lennie James que, justiça seja feita, está muito bem em seu papel debilitado, mas ao mesmo tempo resoluto, que engole o orgulho e, ao que tudo indica, embarca de verdade em uma direção diametralmente oposta à sua filosofia anterior (que, acho que já disse, mas vale repetir, era idiota até não poder mais).

O meu problema com Fear the Walking Dead, porém, é não conseguir mais confiar na série. Sim, The End Is the Beginning é um ótimo começo de temporada, mas eu simplesmente não tenho mais como acreditar no comando de Andrew Chambliss e Ian Goldberg, se é que um dia realmente acreditei. Os mistérios plantados aqui – o bom samaritano, o submarino, a chave e os dois sujeitos pichando o título do episódio – lembram-me da velha serial killer da 4ª temporada, da represa esquecida depois do final da 3ª ou das sub-tramas que correm atrás do rabo como a da pequena Charlie e eu começo a ficar com tremeliques. Tomara que os showrunners tenham aprendido com seus erros e provem que sabem cumprir promessas.

P.s.: Sei que é um desejo impossível a essa altura do campeonato, mas sim, ainda quero a volta de Madison!

Fear the Walking Dead – 6X01: The End Is the Beginning (EUA, 11 de outubro de 2020)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Garret Dillahunt, Austin Amelio, Alexa Nisenson, Rubén Blades, Karen David, Jenna Elfman, Colby Minifie, Demetrius Grosse, Michael Abbott Jr.
Duração: 52 min.

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