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Crítica | Fear the Walking Dead – 6X12: In Dreams

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Quem acompanha minhas críticas de Fear the Walking Dead já deve ter percebido que ando sem paciência para a série, por considerar que ela está sem rumo, sem bom uso de seus personagens e assim por diante. Foi com esse desânimo que, então, encarei In Dreams já virando o rosto quando percebi que o “sonho” repleto de árvores rosas de Grace não ia embora e seria parte efetiva da história, algo que só foi agravado pelo tour pela represa de Morgan no futuro com tudo funcionando às mil maravilhas, apesar da aparência horrível do local, com direito à introdução de Athena (Sahana Srinivasan), a filha dela já crescida.

Mas então Grace e Athena começam a caminhar sozinhas e eu imediatamente me lembrei, esperançoso, de que os melhores episódios de FTWD são aqueles com poucos personagens e com pegada introspectiva, como Laura, não coincidentemente também dirigido por Michael E. Satrazemis. Meu interesse então aumentou e eu fui ficando cada ve mais encantado pela história. Mais para a frente, lá no fatídico final, depois de gritar para a tela que nem um idiota pedindo para June chegar e milagrosamente salvar o bebê de Grace na “manjedoura” – as conotações religiosas do roteiro são sensacionais, aliás! – tive certeza de que estava diante de um dos raros episódios de verdadeira qualidade da série, ainda que não perfeito.

Toda a reconfiguração de Grace (olha o nome!) como Maria, mãe de Jesus, ou, mais genericamente, como vetor de qualquer religião que gira em torno de um Messias, foi um grande acerto do texto que os showrunners escreveram com Nazrin Choudhury e Satrazemis, traindo seu próprio estilo, mas sem fazer feio, ilumina a narrativa com fotografia clara, diurna, com as tais onipresentes árvores rosas (um tantinho exagerado, diria) dando vida à paleta de cores e ao filtro esmaecido típico de sequências oníricas que ele emprega. Karen David, por seu turno, tem todo o espaço do mundo para brilhar e brilhar ela brilha com uma atuação no começo confusa, depois repleta de esperança pelo futuro utópico que imagina para Morgan e sua filha, até que tudo é estilhaçado nos duros momentos no celeiro. E a jovem Srinivasan, debutando na série, encanta imediatamente como Athena ao ponto de eu agora querer que a atriz retorne como alguma outra personagem que não morra tão rapidamente.

Inegavelmente, os roteiristas mostraram coragem com a reviravolta final, considerando que o nascimento da Messias havia sido preparado com muito esmero e a morte de Grace, portanto, já era mais do que esperava. Ao subverter as expectativas, Andrew Chambliss e Ian Goldberg puxam o proverbial tapete debaixo de nossos pés e retorna à realidade dura e crua dos sobreviventes e converte o sonho premonitório de Grace apenas em desejos utópicos de uma mente delirante, inclusive transformando todo o “sacrifício de sobreviver” para permitir o nascimento de Athena quase que em uma lição em sadismo, já que a mãe realmente sobrevive e terá que viver lembrando de seu sofrimento e da filha que carregou durante quase nove meses e perdeu, possivelmente em razão da radiação que absorveu.

O episódio poderia ser classificado quase que exclusivamente como filler, algo complicado a essa altura do campeonato considerando que a história macro precisava andar para a frente e não para os lados. Mas fillers bem feitos são fillers bem feitos e as demais considerações devem ir para o ralo. Seja como for, eu afirmei que In Dreams poderia ser classificado exclusivamente como filler e ele não é apenas isso justamente em razão das sequências que achei mal trabalhadas no episódio, roubando-lhe a nota máxima que teria dado muito facilmente de outra forma.

Falo da chegada de Riley e sua turma atrás da chave no pescoço de Morgan. Não só tenho minhas dúvidas sobre como eles souberam que ela estava ali (Alicia? Algum espião?), como toda essa ação foi, na melhor das hipóteses, estranha e conveniente demais para ser facilmente encaixada no episódio. Quer dizer então que Morgan massacra os capangas do vilão e, quando encara o chefe, apenas o espeta e o deixa fugir? Ah, sei lá, nem estou aqui pedindo que o ex-Paz e Amor matasse Riley (ok, estou, mas secretamente…), mas sim que, no mínimo, o imobilizasse justamente para impedir que o sujeito voltasse como obviamente volta e… só pega a chave, graças a Grace (sem trocadilho!), e deixa todo mundo vivo, sendo que a missão dos habitantes do estacionamento subterrâneo, como aprendemos no episódio anterior, é matar todo mundo da superfície. Eu queria ter adora o capítulo onírico de Grace sem reservas, mas não deu pela bobagem que o roteiro faz com tudo que gravita Riley unicamente para que a trama ande um passo a frente e que todos nós fiquemos tentando adivinhar o que raios aquela chave abre.

In Dreams não reacendeu minhas esperanças por essa temporada, mas certamente serviu de alento, como um afago e uma forma de me dar ânimo para sobreviver aos quatro episódios finais. É sempre bom ver que os showrunners, mesmo batendo cabeça sobre que direção dar à história, ainda conseguem acertar de verdade quando querem.

Fear the Walking Dead – 6X12: In Dreams (EUA, 09 de maio de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Andrew Chambliss, Ian Goldberg, Nazrin Choudhury
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Alexa Nisenson, Rubén Blades, Karen David, Jenna Elfman, Demetrius Grosse, Michael Abbott Jr., Zoe Margaret Colletti, Devyn A. Tyler, Christine Evangelista, Peter Jacobson, Cory Hart, Raphael Sbarge, Colby Hollman, John Glover, Nick Stahl, Sahana Srinivasan
Duração: 48 min.

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