Home TVEpisódio Crítica | Fear the Walking Dead – 6X16: The Beginning

Crítica | Fear the Walking Dead – 6X16: The Beginning

por Ritter Fan
5,1K views

  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

O último episódio da 6ª temporada de Fear the Walking Dead faz algo realmente corajoso, tenho que admitir, que é explodir as bombas nucleares do míssil que Teddy lançou por sobre o Texas. No entanto, essa coragem toda vai imediatamente pelo ralo quando notamos que os showrunners só realmente queriam fogos de artifício, executando a coisa toda da maneira mais “limpa” possível, ou seja, só matando bandido (com uma única exceção, que já abordarei) que merecia morrer mesmo e sem sequer efetivamente mostrar os efeitos das explosões para além de cogumelos de fumaça à distância. Só falta, na temporada seguinte, revelarem que toda a radiação foi levada para Oz por um tornado mágico…

Afinal de contas, não basta explodir bombas. Isso é fácil de fazer. Esse artifício precisa trazer consequências práticas e não havia momento mais propício em toda a série para promover uma eliminação maciça de personagens que já estavam sem uso há tempos do que com a execução do plano de Teddy, mas faltou coragem, faltou honestidade para darem um passo além do óbvio e criarem todas as circunstâncias possíveis para que o apocalipse pós-apocalíptico ganhasse o peso que precisava ganhar.

E não, não adianta dizer algo na linha de “veremos as consequências de tudo na próxima temporada”, pois isso é o mesmo que varrer a sujeira para debaixo do tapete. A temporada é a temporada e é nela que devemos ver pelo menos as consequências imediatas e não deixar para um difuso “ano que vem” em um mega-cliffhanger que, porém, pouco realmente dá vontade de ver o que acontecerá com os personagens, pois se essa temporada acertou em uma coisa foi pegar seu elenco e transformá-los em extras glorificados que só apareciam para ter mais de uma linha de diálogo quando estritamente necessário, o que resultou em meu completo desinteresse sobre seus respectivos destinos.

Aliás, falando em fazer o elenco aparecer quando conveniente, The Beginning é justamente um exemplo disso. Com uma estrutura de vinhetas contando os último minutos de vários deles (as ausências mais óbvias foram as de Alicia e Althea, essa última só “aparecendo” vocalmente), o que sem dúvida seria uma forma interessante de se estruturar o episódio se déssemos a mínima pelos coadjuvantes, vemos desenvolvimentos estanques para cada grupo, com o pessoal no blindado da SWAT sendo deus ex machinado pelo misterioso helicóptero do CRM graças à Al, o que sem muito esforço agrupa um monte de gente que foi subutilizado na temporada, incluindo, claro, Daniel Salazar, personagem criminosamente relegado ao 15º plano.

Morgan novamente recorrendo ao envio de mensagens – desta vez basicamente pedindo para todo mundo se suicidar (não tem como não interpretar o que ele falou de outra maneira) – foi risível, especialmente quando Grace, ao decidir se matar, revela que o grande plano que ele tinha para tentar evitar a tragédia até o último segundo era apertar um monte de botão iluminado que nem naqueles filmes sci-fi dos anos 50. Sério. Mesmo diante da gravidade da situação, não consegui resistir e morri de rir no momento em que o vemos literalmente batendo cabeça com os painéis de controle que ele obviamente não poderia ter ideia do que fazer. Até mesmo a pseudo-seriedade do “vamos nos matar” não só vai contra a tudo o que ele prega, como faz zero de sentido nesse momento (vai que os mísseis caem todos no mar e não há radiação?) e, claro, acaba sendo encaixado, obviamente, com o esperado bebê ex machina da coitada da Rachel, a única personagem do bem que morre e que tem uma sequência realmente interessante, ainda que mais do que telegrafada.

E Victor Strand? O sujeito não só aleatoriamente para na convenientemente luxuosa moradia de um personagem novo vivido por Omid Abtahi que tem paredes cobertas por obras de arte e bourbon caro para oferecer, como ele mostra sinais de loucura depois que tenta matar Morgan para levar os créditos de uma eventual vitória em um dos momentos mais WTF? de toda a temporada. Quando digo que a explosão poderia ter tido efeito imediato, o caso de Strand seria um. Apesar de eu sempre ter gostado do personagem, ele foi tão mal tratado pelos roteiros das últimas temporadas, que ele já havia perdido a função há tempos, com os eventos do episódio anterior sendo apenas a proverbial gota d’água. Ele morrer como Morgan Jones seria poético, mas os showrunners preferiram manter o personagem vivo e insano, o que me dá a esperança (mas pouca, muito pouca) de que ele será usado como vilão da próxima temporada, sem que seja necessário introduzir mais gente vinda de fora para cumprir essa função.

Pelo menos duas duplas tiveram vinhetas em que realmente tentaram fazer algo de valor em seus minutos finais. John Dorie Sr. e June revelando a fraude que Teddy e deixando Dakota lidar com o sujeito enquanto se protegem em um abrigo nuclear (mas que lugar mais estranho para um, não?) rendeu boas sequências que encerraram bem um ciclo. Dwight e Sherry, por seu turno, tem a típica vinheta do bom samaritano que se encaixa bem com a personalidade do sofrido casal e que ganha uma execução simples, mas eficiente na direção de Michael E. Satrazemis, ou seja, deixando de lado filosofias bobas e engatando direto na ação, sem perder tempo.

Mas é isso. Gostaria muito de dizer que a 6ª temporada da série acabou bem, mas a verdade é que ela acabou exatamente como foi o ano, ou seja, de maneira morna, com alguns raros picos de qualidade. The Beginning poderia ter sido mesmo um novo começo, mas, quando a poeira baixou, toda sua ousadia foi podada, tornando-se, apenas, um mais do mesmo reempacotado de forma pseudo-esperta para parecer mais interessante do que ele realmente foi.

Fear the Walking Dead – 6X16: The Beginning (EUA, 13 de junho de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Ian Goldberg, Andrew Chambliss
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Alexa Nisenson, Rubén Blades, Karen David, Jenna Elfman, Demetrius Grosse, Michael Abbott Jr., Zoe Margaret Colletti, Devyn A. Tyler, Christine Evangelista, Peter Jacobson, Cory Hart, Raphael Sbarge, Colby Hollman, John Glover, Nick Stahl, Sahana Srinivasan, Keith Carradine, Omid Abtahi
Duração: 50 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais